Falta pouco.
Nossa expectativa de vida vai bater nos cem anos logo, logo. Além do aumento nos rombos da previdência social, uma nova crise em curso, uma crise mais profunda. O que fazer com tanto tempo? Como lidar com a ideia de que, após os 50 anos, ainda pode haver pelo menos mais 50 pela frente sem o mesmo vigor, sem a mesma disposição, nem o mesmo corpo, mas com uma cabeça boa?
Antes, a aposentadoria significava o fim dos projetos, o pé no freio, a saudade do passado e a contemplação passiva de um mundo acelerado que já não o contém.
Hoje, o desafio é enxergar que não se para mais de planejar com 60 anos de idade, não se para mais de amar, nem de trabalhar com 50 ou 60 anos de idade. Hoje, uma idade mais avançada não é mais uma sentença.
Os asilos do mundo já são coisas do passado. Mas é preciso adaptação para que não continuemos impotentes a enxergar a vida como ela era num mundo antes baseado em padrões preestabelecidos de vida, trabalho e descanso.
Uma nova angústia surge para a nossa geração, hoje com pouco mais de 35 a 40 anos de idade. Há pela frente mais 40, 50 anos, quem sabe. E aquele projeto de ficar em casa contando suas glórias passadas parece que não acontecerá. Não há mais projeto de aterrissagem. Mas, para onde arremeter? Não há mais um norte que indique para onde seguir.
Será preciso estabelecer então um novo plano de voo. Voltar para a universidade, aprender novos hobbies, fazer novos trabalhos, comprar uma moto, viajar, assumir novas responsabilidades ou até mesmo cair na previsível poltrona e pantufas.
Podemos dizer, sem medo de errar, que há uma segunda adolescência à nossa espera. Hoje, muitas pessoas entre 50 e 60 anos entram em crise com quase todas as suas escolhas anteriores: de amor, de trabalho, de amigos, de prazeres. A vida prolongada exige, para que não haja depressão, algo que é uma marca do nosso tempo: a reinvenção.
É preciso reinventar-se. Reencontrar-se em um mundo novo é melhor que achar que o mundo está perdido. Não existem mais discursos prontos que possam se encaixar nesse mundo pós-industrial.
Mais que cirurgias plásticas, temos de esticar nossa pele interior e transformar tudo o que pensamos a respeito do futuro.
Há tantas mudanças em curso que cabe a você se fazer a pergunta: o que quero ser quando envelhecer?
Por Marcelo Lapola