Depois de certo tempo em cima desse chão e debaixo desse céu, vamos adquirindo um comportamento meio egoísta, talvez a mãe de todos os comportamentos egoístas: o de achar que o nosso problema é o maior que existe.
E de problema em problema, de lamento em lamento, acostumamo-nos a vestir a roupa de vítima. Por isso, tanta gente prefere o conforto de um velho problema à felicidade libertadora da sua solução. Tal como uma roupa de lycra, a de vítima sempre se ajusta a nós. Difícil mesmo é libertar-se dela depois de um tempo ou como Fernando Pessoa, em versos de seu heterônimo Álvaro de Campos: “Quando quis tirar a máscara/Estava pegada à cara”.
Fazer o papel de vítima é sempre mais reconfortante. Sempre vai ter alguém para ouvi-lo, para sentir pena de você e, com isso, satisfazer sua carência de atenção. Para dar “colinho”. E isso parece ser viciante. “Já notou que o esporte preferido de muita gente por aí é viver se queixando? Experimente se dispor a ajudá-la, com boas soluções e propostas de reinvenção. Sempre vão lhe dar uma desculpa para não sair daquele estado. Muitos querem que você fale exatamente o que querem ouvir”, declarava o psicólogo e espiritualista Luiz Gasparetto.
Escolher estar feliz, mesmo com tantos problemas para se resolver, é expor-se, muitas vezes, à negatividade do outro e, com isso, sentir-se um pouco mais só. Essa sensação de solidão também está no cerne da palavra sucesso, que vem de secção. No caminho da sua bem-aventurança é você com você, rumo àquilo que te dá significado, que te faz sentir maiores razões para estar vivo. Para quem não quer se reinventar, há o conforto falso do travesseiro das justificativas. De vestir a roupa da vítima mesmo.
E tem também toda história da culpa que nos paralisa. A culpa que temos medo de sentir ao assumirmos a coragem de mudar nossa própria vida. Algo muito comum no nosso comportamento de vítima é a percepção daquilo que merecemos. “Por exemplo, se eu sou pouco, eu mereço pouco e só posso ter pouco. Isso segura tudo! Você está onde se põe na vida!”, explicava o saudoso Gaspa.
Você precisa se bancar, em muitas situações, você deve ficar do seu lado para o que der e vier, sempre. Se surgir uma situação ruim, faça o seu melhor. O que separa uma vítima de um vencedor não é algo que está fora, que depende de circunstâncias, mas, antes de mais nada, o que está aí dentro, que dorme e acorda com você. Essa luz interior que nunca se apaga.
Por Marcelo Lapola