Neste histórico 1º de setembro, o Diário do Rio Claro celebra 133 anos. O periódico, desde 1886, norteia a existência do rio-clarense. Trata-se de um dos jornais mais antigos em circulação no país. E de modo ininterrupto. Em 2018, conforme pesquisas, tratava-se do segundo jornal impresso mais antigo do país.
Também em 1886, só que em terras norte-americanas, o farmacêutico John Pemberton preparou um xarope de extrato e folhas de coca, cafeína e água. O intuito era ter criado um remédio. No entanto, tornou-se a bebida mais popular do mundo: a Coca-Cola. Embora distintos, tanto o Diário, quanto a Coca se mantêm há mais de um século, sem cessar, em plena atividade e com trajetórias exitosas. Como é possível uma marca atravessar as décadas do modo como fizeram o Diário do Rio Claro e a Coca-Cola? Para compreender tal fenômeno, o Centenário conversou com profissionais ligados ao marketing.
Paulo Max, proprietário da agência PeMaxCom, de Curitiba, capital paranaense, afirma que a resposta pode estar no que se conhece por “branding”, um termo que, segundo ele, vem do marketing e, em linhas gerais, significa tudo aquilo que envolve a administração, planejamento, elaboração e comunicação de uma marca. “Essas estratégias reunidas têm o objetivo de ganhar a confiança do público e atrair novos clientes”, explica.
O profissional enfatiza que o resultado desses ingredientes, juntos, é uma marca mais próxima de seus clientes, com uma relação mais aproximada de ambas as partes. “E isso gera um grande diferencial, ainda mais em tempos onde o cliente tem voz”, salienta Max.
O publicitário pondera que, graças ao “branding”, a Coca-Cola não vende apenas refrigerante. E indaga: “quando foi a última vez que você ouviu ou leu a frase ‘beba Coca-Cola’”? E prossegue: “Uma marca com um ‘branding’ de sucesso não pede para consumir um produto, e sim viver a experiência que ele é capaz de proporcionar. O resultado disso é você ler ou ouvir ‘abra felicidade’ ou ‘sinta o sabor’”, expõe. De acordo com Max, um “branding” bem elaborado consegue fazer de um jornal como o Diário do Rio Claro se tornar uma das marcas mais antigas em circulação ininterrupta do Brasil.
O especialista afiança que isso não é um feito que acontece da noite para o dia. “É preciso muita pesquisa, estudo e principalmente trabalho, não para vender mais jornal e sim para levar ao consumidor que vive conectado, e para aquela geração que se habituou a sujar a ponta dos dedos com a tinta do jornal impresso, uma palavra rara nos dias de hoje: credibilidade. Em tempos de meias verdades e ‘fake news’, essa palavra soa como música para os ouvidos de quem deseja se manter bem informado”, garante e acrescenta que se o desejo é ter uma marca consistente para o seu produto, é preciso investir na construção de uma estratégia de “branding”.
Para tanto, é necessário que haja um estudo minucioso no tocante ao público, além de pensar em soluções práticas que vão de encontro às necessidades dele. “Lembre-se que o consumidor quer mais que um produto ou serviço. Ele quer experiências para serem vividas e compartilhadas”, ajuíza. Por fim, Paulo Max parabeniza o Diário do Rio Claro. “Parabéns ao Centenário e a todos os rio-clarenses pelo grande veículo de informação que possuem”, deseja.
Outro profissional consultado pelo Diário foi Renato Elston, publicitário na Devera&Elston Consultorias e na Totem Coletivo de Ideias, além de professor universitário em graduação e pós-graduação e doutorando em Marketing e Operações, que dá ênfase a alguns fatos históricos. “Em 1886, Rio Claro tinha a 10ª maior população do Estado de São Paulo, com cerca de 20 mil habitantes, um pouco menos da metade da capital paulista.
O município despontava como um dos mais promissores do Estado, porém, no decorrer das décadas, impactado por diversos fatores econômicos e políticos, entre eles a crise do café, não conseguiu reinventar sua economia e perdeu oportunidades de crescimento. Naquele mesmo ano, motivado por toda a riqueza proporcionada pelos barões do café, o Diário do Rio Claro chegava ao público com sua primeira edição no dia 1º de setembro”, evidencia.
Elston conta que, alguns meses antes, uma outra marca centenária entrava no mercado norte-americano: a Coca-Cola. Para o especialista, além de fazerem parte da vida de muitas gerações, essas duas marcas têm em comum o fato de que, nesses 133 anos, mantiveram ininterruptas as suas atividades, algo pouco habitual em se tratando de um mercado de consumo que se transformou completamente nesse período. “Isso pode ser explicado porque ambas identificaram o seu propósito de existência e se posicionaram com relevância na vida das pessoas.
Essa declaração de posicionamento é o que motiva a continuidade e possibilita a gestão coerente e consistente dessas marcas”, exemplifica o publicitário pondera que, quanto à Coca-Cola, líder mundial em seu segmento, se adequou às mudanças sociais, lançando novos produtos e formatos, e continua sendo relevante e inspiradora para muitas gerações.
Já com relação ao Diário, avalia: “Em que pese o impacto das novas tecnologias e mudanças de hábitos dos leitores, vem buscando permanentemente consolidar sua identidade e ratificar sua missão de formar cidadãos críticos e conscientes. Para ser relevante e estar próximo de seu público, entende que precisa ser cada vez mais uma marca local.”
E finaliza: “Sonhos não envelhecem. Marcas trabalhadas com gestão estratégica, também não.”