Prosa em pequenos poemas
(Esta obra é constituída de poemas, elaborados na forma livre, que representam voltas em torno dos temas contidos no livro ‘Pequenos poemas em prosa’, do genial poeta francês Charles Baudelaire.)
(O Estrangeiro)
As nuvens…
se vão…
suavemente…
como a água…
como os sonhos…
como os meninos…
… e se perdem
e se desfazem no azul do céu…
indo, levemente…
como as bailarinas…
como os anseios…
como os poetas…
… e se vão…
flutuantes, perdidas…
E o estrangeiro, de olhar
triste, desfeito, distante,
longe da pátria e do lar,
ama-as, por esse breve instante…
em sonhos de nuvens…
as nuvens perdidas no ar…
(O Desespero da Velha)
Como vulto saído
das sombras da morte,
corcunda e feia,
de rosto descaído.
guardada em sofrimento
de tempos somados,
chega até o berço da criança,
mascarando o rosto
com delicadas expressões
Para sua surpresa, há choro.
Para seu desespero, há medo.
Para sua angústia, há gritos.
Anoiteceu tão cedo!
Dali, se retira, lenta,
em silêncio, triste,
com as feições escuras,
com as últimas máscaras,
com as poucas intenções…
Distancia-se, então,
lentamente e em silêncio…,
Corcunda e feia,
de rosto descaído,
retorna às sombras,
que nela persistem,
como vulto vencido,
como um vulto saído
das sombras da morte.
(0 Confiteor do Artista)
Diante da paisagem,
sinto-me pequeno.
Vivendo esse instante,
compreendo-me menor.
Os desejos criam asas.
E não vou além de mim.
O orgulho se mostra ferido.
A vaidade, zombada
Artistas, muitos,
já gritaram de pavor.
Agora, grito eu,
sabendo-me também vencido.
(0 Bobo)
Pintou o rosto e o sorriso.
Deu brilho ao olhar.
Feliz como poucos,
começou a cantar.
E, com o arco-íris na cabeça,
saiu à rua dos loucos.
Saudou políticos e militares,
Prostitutas e padres sem esperança
Saudou até um asno
que fazia lambança.
nas ruas de lama.
Cumprimentou comerciantes, agiotas,
donos de bares, ladrões e os pedestres,
sem medo de ser tachado de idiota.
E foi assim, feliz, que saiu
à rua de todos nós.