O protocolo de atendimento dos pacientes da Santa Casa e São Rafael, vítimas de tentativa de suicídio, incluem sempre, o acionamento e visita de um dos profissionais do setor de Psicologia e Assistência Social. A medida visa abrir um diálogo de humanização e confiança sobre o ocorrido e ainda, possibilitar o correto encaminhamento do paciente para outros tratamentos.
Porém, um aumento no número de chamadas no início do ano, acendeu um alerta vermelho entre os profissionais, mostrando que era preciso um trabalho ainda mais ativo na prevenção do suicídio.
Assim, a equipe formada por quatro psicólogas, Priscila de Godoy, Kedma Cerri de Abreu, Carolina Routh Bincoletto, Heloísa Oliveira da Silva e quatro assistentes sociais, Maira Augusta Valentim, Magda Solange Prior e Eliana de Castro Wenzel, decidiu criar um material para ser levado à toda a população, principalmente, para dentro das empresas.
A escolha se deu porque a maioria das vítimas apresentavam um quadro aparentemente estável de família e emprego, mas, os relatos mostravam profunda vulnerabilidade social. “Quando falamos essa palavra, as pessoas logo pensam em dinheiro, condição social, mas, não é só isso. A vulnerabilidade está na dificuldade de se perceber enquanto um ser humano com capacidade de enfrentar os problemas do cotidiano, geralmente inseguras da sua condição de poder e reação para buscar ajuda”, explica Maira Augusta Valentim.
Segundo as profissionais, pessoas em condição de vulnerabilidade dão sinais, às vezes bem claros, de insatisfação, tristeza e depressão. “É preciso ouvir o que o outro diz e não normalizar o que não é normal”, diz Priscila de Godoy. Frases como “Minha vida não tem sentido”, “Queria dormir e nunca mais acordar” ou ainda “Eu sou um peso na vida de vocês”, tudo isso deve ser encarado como um sinal de alerta”, completa a psicóloga.
Outros sinais comuns são o isolamento e a tristeza seguida de apatia. Um alerta importante para os pais é acerca do uso de games e redes sociais em exagero. “Passar muito tempo no mundo digital, pode ser uma fuga ou um vício e quanto maior for esse distanciamento da realidade, mais difícil a pessoa se perceber como parte de um mundo real”, explica Kedma Cerri. Por isso, o papel de pais e tutores é fundamental na prevenção do suicídio.
Outros fatores importantes apontados pelas profissionais são a pressão no trabalho, a dupla jornada e a violência doméstica, principalmente, entre as mulheres. Não por acaso, o perfil mais frequente é de mulheres, com idade entre 19 e 40 anos. “Há uma sobrecarga, às vezes seguida de violência e o suicídio pode ser encarado como uma fuga, mas, existem inúmeras outras formas de solucionar cada uma dessas questões. Aqui no hospital podemos ajudar com o tratamento e até encaminhar para que sejam tomadas medidas protetivas em favor da vítima. Mas, é preciso pedir ajuda e esse é o nosso trabalho. Estar disponível e aberta para um diálogo. Isso envolve, principalmente, confiança”, explica Heloísa Oliveira.
Apesar do mês de setembro ter sido escolhido para a campanha nacional Setembro Amarelo, em prevenção ao suicídio, é preciso ficar atento todos os dias para evitar que mais pessoas cometam o ato. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 9 em cada 10 suicídios poderiam ser evitados, se os sinais fossem detectados precocemente. “É preciso dar abertura para o diálogo em casa, entre amigos. Não é o que ela mostra nas fotos das redes sociais que conta, mas, como ela se comporta no dia a dia, como se manifesta ou até, o grau de isolamento”, lembra Priscila.
O Serviço de Psicologia e Assistência Social atende os pacientes do Plano Santa Casa Saúde e pacientes do Sistema Único de Saúde. O município também oferece ajuda profissional.
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