Criado no governo de João Goulart, em 1963, o dia 15 de outubro – mais conhecido como Dia do Professor – é uma comemoração e homenagem aos profissionais de educação no país. Uma data que, embora tenha só 24 horas, reflete o cuidado e o respeito para com quem, mais do que ensina, forma os futuros cidadãos da sociedade para a vida.
É o caso de Sulamita Deiusti, professora aposentada, de 82 anos, com uma carreira de mais de 30 anos de magistério, onde ensinou para alunos da pré-escola e fundamental das instituições de ensino de Rio Claro e região, como Joaquim Ribeiro, Diva Marques, Joaquim Salles, Marrotti, entre outras; relembrando os momentos de afeição com os alunos e de desafios na carreira.
A PRIMEIRA ESCOLA
Formada pelo antigo Curso Normal do Joaquim Ribeiro – que formava professores para ensinar do pré-primário ao primário escolar -, Sulamita começou a carreira numa “escolinha” situada na Fazenda São José, uma fazenda de café perto de Auriflama, pequeno município – hoje com cerca de 15 mil habitantes – a oeste do estado de São Paulo.
“A escolinha ficava no meio de uma plantação de café. E a estrada onde o ônibus me deixava (no ponto), ainda tinha que andar mais um pouco a pé. Às vezes cruzávamos até com boiada”, relembra. Na época, Sulamita era uma jovem de 20 anos e dava aula para uma “turma anexada” – uma união de turmas de alunos das antigas 1ª, 2ª e 3ª série do antigo fundamental.
Entre as dificuldades, a educadora aposentada relembra que este mesmo ônibus – pago com o “pouco salário” que recebia – a transportava da cidade até a fazenda carregando “tudo que dava na terra” e até animais como “porquinhos” – diz em bom humor. Além da situação dificultosa com os ônibus, Sulamita também conta sobre como “era ser uma novata, longe da família” e onde morava para poder trabalhar.
“Naquele tempo, eu tinha que morar numa pensão, que eu pagava. Ela ficava atrás de um restaurante e tinha vários dormitórios pequenos para professoras mesmo. Por estar longe da família, telefone era só fixo, mas era muito caro. Ali naquele restaurante era onde comíamos também. E a maioria das professoras vinha de fora, porque naquela época íamos para onde precisavam de professores. Geralmente, em grandes fazendas ou locais mais precários.”
Embora os desafios do primeiro ano de profissão fossem grandes, não foram suficientes para fazê-la largar o seu amor pela educação dos alunos. “Esses alunos eram muito respeitosos. Cuidavam da professora como se fosse alguém da família. Ajudei muito lá levando livros, papel, material escolar mesmo. Até porque muitos não tinham condições.”
ALUNO & PROFESSOR
Depois do primeiro ano de carreira, Sulamita conta que migrou para outras cidades como Limeira e Cordeirópolis, atendendo outras escolas, até exercer a função de educadora em Rio Claro. Nestas passagens, encontrou o mesmo respeito pelos alunos que encontrara em Auriflama. Alguns, até mais carentes.
Dentre os destaques memoráveis, entre festas juninas e quadrilhas com casamentos, passeios e lições, a ex-professora comenta com emoção sobre como os alunos a tratavam no Dia do Professor. “No Dia dos Professores, eu chegava com meu fusquinha cheio de flores e presentes. Não só eu. Todos realmente gostavam muito da professora. Até as mães dos alunos.”
Mas, mais do que um simples vaso de flor, um cartão ou um chocolate, a “Tia Sula” – como era conhecida – marcou a história de muitos alunos, segundo explica ela, à ponto dos ‘garotos’ – hoje adultos – reconhecerem-na pelos lugares, num dia comum, e agradecerem pelo carinho, atenção e disciplina recebidos nos tempos de colégio.
“Hoje eu tenho alunos que encontro por aí, nas igrejas, nos supermercados, no shopping. Já são pais, claro, mas na época eram pequenos. E eram tantos que fica difícil de lembrar. Às vezes, até me assusto por não conseguir lembrar de todos eles, mas eles se lembrarem de mim.”
MISSÃO CUMPRIDA
Questionada sobre o desfecho da carreira, a aposentada demonstrou a saudade. E reconheceu os professores – importantíssimos para Rio Claro – que lhe formaram para o magistério também. José Cardoso, Heloísa Marasca, Vitorino Machado, Ilara Machado e ainda outros. Alguns destes tornaram-se icônicas memórias para marcarem seu nome em instituições de ensino rio-clarense.
“Quando eu aposentei, senti que cumpri meu dever. Fechei meu ciclo. E terminou de uma maneira muito gratificante, com direito a festa e homenagem. As mães queriam até que eu inventasse uma roupinha diferente pros alunos, por eles serem minha última turma no colégio.”
No Teatro Municipal, no Centro Cultural, foi onde Sulamita deu um ‘tchau’ – dado que nunca foi um adeus – à sua última turma de pré-primário, na Escola Odilon Corrêa. Uma formatura com dança, música, abraços e alegria, com temáticas daquilo que o povo brasileiro tem de melhor: o folclore. Não à toa, ensinada principalmente pelos nossos queridos professores.
Por Samuel Chagas / Foto: Divulgação