O trabalho foi desenvolvido pelo professor doutor Rodrigo Moruzzi, com base em dados disponíveis nos meios oficiais de comunicação sobre a doença, como informações da Organização Mundial de Saúde, nos boletins epidemiológicos do município de São Paulo e no modelo matemático clássico da propagação de doenças infecciosas. Segundo Moruzzi, foram duas semanas consecutivas para chegar à conclusão. “Tive que agir bastante rápido porque a necessidade pede isso. Foi um período reunindo informações, compilando dados, calibrando o modelo e validando os dados para poder apresentar os cenários para as autoridades” explicou ao Diário do Rio Claro.
Segundo o professor doutor, as informações constantes no documento foram elaboradas visando auxiliar as ações do poder público local no combate ao espalhamento de doença infecciosa causada pela síndrome respiratória aguda grave 2 – (SARS-CoV-2), COVID-19. “O trabalho consistiu na implementação de um modelo clássico, um modelo matemático de infecção bastante difundido e bastante aceito pela comunidade cientifica há muito tempo, foi então calibrado para situação da cidade de São Paulo, ou seja, a velocidade da infecção observada na cidade de São Paulo foi transferida para Rio Claro, isso não quer dizer que o número absoluto de infectados foi trazido para nossa situação, isso quer dizer que as constantes de infecção, que são as constantes cinéticas da modelagem matemática, são transferidas para Rio Claro e adaptadas em nossa situação particular, isso é muito importante”, observou.
O documento traz cenários de infecção para a cidade de Rio Claro. “Entende-se que esse documento é uma contribuição da Universidade Pública, representada aqui pela UNESP, para as autoridades responsáveis pela saúde pública do município” avalia.
Os cenários simulados apresentados limitam-se às hipóteses lançadas na concepção da modelagem e as informações disponíveis na data das simulações. No total, foram avaliados cinco cenários, entretanto, como aponta o documento, existe uma infinidade de combinações possíveis, onde as variáveis de entrada dependem fortemente das ações preventivas conduzidas pelos responsáveis da saúde pública do município, bem como da aderência da população às recomendações e às boas práticas recomendadas pelos órgãos competentes.
Como consta no estudo, as maiores dificuldades estão em prever o início da infecção, o dia zero e o número de infectados assintomáticos circulantes, devido, principalmente, à ausência de testes universais para a totalidade da população suscetível. “Pelos cenários simulados, o pico da doença ocorreria entre 37 e 66 dias em relação ao primeiro infectado circulante chegar na cidade. A grande dificuldade é identificar esse tempo zero, porque não estão sendo feitos testes sistemáticos e universais e porque, muitas vezes, os infectados são assintomáticos.
De acordo com a OMS, cerca de 50 a 80% são assintomáticos, então essas pessoas podem circular carregando o vírus e infectar outras pessoas. Por isso, as variações do período em identificar qual é nosso tempo zero. Então, esses dias de 37 a 66 são em relação ao tempo zero, onde esse primeiro indivíduo vem contaminado e passa a circular pela cidade.
Já sobre o pico de contaminação que corresponderia nesse intervalo, seria de cerca de 35 a 53% da população. “O problema é que o pico se dá num período muito curto e, por isso, a importância das medidas de proteção, do isolamento social, do fato de lavar as mãos, do distanciamento seguro e do uso de máscara. Essas são questões fundamentais que a experiência internacional tem nos dado como prevenção e diminuição da velocidade e propagação dessa doença”, ressaltou o professor.
O especialista destaca uma questão importante levando em conta que, como é uma doença nova, a primeira questão que deve ser colocada é o sistema imunológico da população, que não tem uma memória imunológica dessa doença. “Portanto, nesse estudo, uma de nossas hipóteses é de que toda população é potencialmente passível de ser infectada pela doença, justamente porque o nosso sistema imunológico não está preparado para uma doença nova como essa”, disse, relevando a prevenção. “Portanto, todos os fatores de prevenção combinados (não é um e outro) e, sim, um e outro colaboram para diminuir a velocidade da infecção.
Nossa missão agora é ganhar tempo para que os pesquisadores possam avaliar o efeito dos remédios para combater a doença, para que as pesquisas possam levar as vacinas para essa doença, o corpo de saúde se prepare para receber esses doentes. Então, quando falamos no ganho de dias e até meses, de acordo com as medidas de isolamento, isso pode impedir que menos pessoas sejam hospitalizadas e, se forem no tempo mais à frente, podem existir melhores tratamentos, o sistema pode estar mais preparado, a equipe de saúde mais preparada para tratar essa doença e, quem sabe, até ter uma vacina”, salientou.
O resultado já foi encaminhado às autoridades pelo Diretor do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp (IGCE), Professor Doutor José Alexandre Perinotto. “A principal contribuição do estudo não é o fato de trazer uma previsão fatídica, mas sim fazer com que as autoridades possam avaliar a extensão de cada uma das medidas disponíveis pela OMS e os efeitos dessas medidas na diminuição ou aumento na velocidade de infecção na nossa cidade. Então, mais do que os valores absolutos apresentados pelos cenários, é o subsídio que as autoridades podem ter na tomada de decisão, isso é o mais importante, eu julgo”, concluiu o professor doutor Rodrigo Moruzzi.