Rio Claro comemorou a Proclamação da República com dois dias de suntuosa festa regional.
Desfiles, bandas, shows pirotécnicos e diversos eventos marcaram a comemoração realizada nos dias 14 e 15 de dezembro, um mês após a instauração do novo regime.
A antiga Praça da Matriz passou a se chamar Praça da Liberdade. No local foi plantada a árvore centenária que ainda sobrevive, mas está condenada por exaustão.
A festa de 1889 pelo início da República ganhou detalhada cobertura do O “Diário do Rio Claro”, que reporta a sequência dos eventos.
14 de dezembro de 1889 – Sábado
– Desde o alvorecer, chegam visitantes das cidades vizinhas por trem. Comitivas são recebidas com festival de fogos. A Avenida Um está enfeitada com arcos de bambu até o Jardim Público. As casas das ruas centrais também estão enfeitadas.
– A Banda de Campinas chega à estação ferroviária para, seguidamente, executar o Hino da França durante as comemorações. A escolha foi feita por ainda não haver um novo Hino Nacional. A banda segue para o Jardim Público e, dali, à Praça da Liberdade, local em que pela primeira vez no município é hasteada a Bandeira Nacional.
– O exemplar da nova Bandeira foi comprada no Rio de Janeiro, em 21 de novembro, seis dias após a Proclamação da República, como presente de Fileto Pereira ao município. A Bandeira oficial enviada pelo governo de São Paulo a Rio Claro só chegaria no fim de janeiro do ano seguinte.
– Na praça, a nova Bandeira é abençoada pelo padre aposentado Flamínio Álvares M. Vasconcellos. O padre titular da matriz de São João Batista, Elisário Paulino Bueno, recusou o convite para celebrar a bênção por manter-se fiel ao imperador D. Pedro II.
– Durante a cerimônia da bênção, a nova Bandeira foi carregada pelo doador Fileto Pereira junto aos paraninfos Bento Prado e Diogo Salles. O cortejo volta ao Jardim Público.
– Baile às 21 horas na Sociedade Philarmônica. Os salões do clube estão decorados com iluminação especial e bandeirolas. Salva de vinte e um tiros marca o início da ceia à uma hora da manhã. As ruas centrais e o arco de bambu em frente ao Jardim Público trazem luminárias feitas com copos coloridos.
– Em nome da Comissão Organizadora, fala o jornalista do “Diário do Rio Claro”, José David Teixeira. Falam os demais oradores: Eugênio Fonseca, Theodoreta do Nascimento, Pires Ramos, Siqueira Campos, Francisco Junior e Antonio Sarmento. O baile prossegue até às cinco horas.
15 de dezembro de 1889 – Sábado
– A festa é retomada pela manhã no Jardim Público com música da Banda de Campinas. A nova Bandeira é hasteada com discurso do presidente da Câmara Municipal, Gualter Martins. Ele renunciara ao título de barão do Grão Mogol concedido por D. Pedro II. Em seu discurso, saúda o jovem Marcello Schmidt, que viria a ser o líder político local até 1929.
– Trem especial vindo de Limeira chega às 5 horas em meio à festiva recepção.
– Um séquito de vinte e uma meninas dispostas em semicírculo abre o desfile simbolizando a República na representação dos estados e capital. O desfile começa.
– As meninas vestem roupa branca, trazem uma fita vermelha a tiracolo e um gorro tipo barrete também vermelho, elementos que simbolizam a liberdade e os valores gregos e romanos da democracia.
– Cada uma delas leva um estandarte em cetim de várias cores com a inscrição em dourado do nome do estado que representa.
– Quatro membros da comissão organizadora da festa levam a muda da Árvore da República a ser plantada na Praça da Liberdade. A ideia de plantar a árvore foi de Roberto Leme.
– À frente do cortejo em direção à praça, Domingos Sodré leva a bandeira do Partido Republicano local. Dois soldados o acompanham a passos solenes.
– Desfile chega à Câmara Municipal, na Praça da Liberdade, no local onde hoje é o Fórum.
– A Árvore da República é plantada ao som do Hino da França, símbolo da revolução mundial pela liberdade e da luz da razão contra o obscurantismo.
– Seguem discursos do representante da Liga Italiana, senhor Lacreta, de Fábio Uchôa, Gualter Martins, Paulino Carlos.
– O desfile volta ao Jardim Público e se dispersa em frente ao Teatro Fênix, na esquina da Rua Três com a Avenida Um. As quadras do Jardim Público eram separadas.
– Espetáculo de gala dá sequência à festa no palco do Teatro Fênix. Os ingressos esgotaram-se antecipadamente.
– É apresentado o drama “A morgadinha de Val Flor”, peça de Pinheiro Chagas, pelo grupo da atriz Emília Adelaide. Uma menina recita poesia.
– No teatro, falam Eugênio da Fonseca, Vieira de Almeida, Ezequiel de P. Ramos e Lacreta.
Significados atuais
Os principais monumentos republicanos do município encontram-se na Praça da Liberdade. O Obelisco, de 1891, lembra a revolta liderada pelo senador Alfredo Ellis e que a partir de Rio Claro resistiu ao fechamento do Congresso Nacional naquela data. O movimento foi vitorioso e colocou Rio Claro no mapa da política nacional.
Placa comemorativa marca a retomada do regime republicano a partir da promulgação da Constituição de 1988, elaborada pela Assembleia Constituinte presidida por Ulysses Guimarães. Busto homenageia o deputado rio-clarense pela condução política na redemocratização do País após o regime militar.
Por JR. Santana