Com o inverno rigoroso, o município de Rio Claro adotou uma operação especial para ajudar os moradores em situação de rua. Desde ontem (8), eles podem se abrigar no Ginásio Municipal Manoel Bortolotti, onde têm a oportunidade de tomar banho quente, ganhar alimentação e um lugar para dormir. A operação será mantida enquanto as baixas temperaturas perdurarem.
“Uma vez mais, Rio Claro demonstra solidariedade e se une em torno de uma importante ação social”, afirma o prefeito João Teixeira Junior, o Juninho da Padaria, que coordenou reunião no final de semana para tratar do assunto e na manhã dessa segunda-feira acompanhou pessoalmente os preparativos da operação.
Além da prefeitura, por intermédio de suas secretarias de Desenvolvimento Social, Esportes e Segurança, o trabalho também envolve o Fundo Social de Solidariedade e Câmara Municipal. “A colaboração da comunidade também é importante, fazendo doações de agasalhos e outros materiais que poderão ser utilizados pelas pessoas que serão atendidas”, ressalta Paula Silveira Costa, presidente do Fundo Social.
Os moradores em situação de rua podem ir para o ginásio a partir das 17 horas. “Muitos têm animais de estimação, que também serão abrigados aqui”, informou a vereadora Carol Gomes, presidente da Frente Parlamentar de Pessoas em Situação de Rua, que tem ainda os vereadores Irander Augusto e Hernani Leonhardt.
“A Câmara Municipal apoia toda iniciativa que traga benefício para a comunidade e esta operação especial de inverno é, sem dúvida, um exemplo de que cuidamos das pessoas e estamos unidos pelo bem comum”, afirmou o vereador André Godoy, presidente da Câmara Municipal. O vereador Paulo Guedes também está participando diretamente da ação.
Esta operação especial de inverno é um reforço ao trabalho de rotina realizado pelo município. A prefeitura de Rio Claro, por intermédio da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social, realiza a Operação Inverno que, neste ano, começou no dia 1º de junho e continua até o fim do inverno. “As rondas são realizadas todos os dias da semana, das 17 às 22 horas”, informa Erica Belomi, secretária de Desenvolvimento Social.
Na Operação Inverno, as pessoas em situação de rua são abordadas e, quando aceitam ajuda, são levadas para a Casa de Passagem, onde recebem banho, alimentação (jantar e café da manhã), pernoite e roupas de inverno.
Em caso de recusa do serviço, a equipe deixa agasalho e cobertores, se houver necessidade. A Casa de Passagem tem 40 leitos disponíveis e fica na Avenida 5, número 1.415, entre as ruas 15 e 16, no Jardim Claret. Os telefones de contato são (19) 3617-8910 e (19) 3617- 8911.
Carlos Alberto Soares – 46 anos – eletricista.
Natural de Limeira, vive há anos na rua. Após os pais adotivos falecerem e por não ter processo de adoção, o restante da família não o reconheceu após a morte. “Já não tive infância com os pais biológicos. E minha vida descontrolou no ano de 2000. Quando eu tinha 27 anos, eles morreram. O juiz pediu que declarasse que eu era criado pelos pais adotivos e os irmãos disseram que eu não era da família.
Os pais biológicos também não vi no caixão. Não casei. As coisas foram piorando, aí desencadeou o vício para enfrentar as noites. Hoje, não uso nada porque estou na perspectiva de melhorar, mas antes experimentava qualquer coisa para fugir da realidade, porque quando anoitece, cai uma assombração na mente.
Eu cheguei primeiro aqui, fiquei sabendo, fui bem recebido. Uma iniciativa linda, maravilhosa. Traz um certo conforto, mas temos que ter equilíbrio de saber que não é mudança, é uma válvula de escape. Sabemos que pela manhã temos que pegar as coisas e voltar para a rua, mas é bom saber que vamos poder voltar e passar a noite de novo aqui, ter banho e alimento.”
José Carlos dos Santos – 60 anos – vive na rua há mais de 30 anos.
É cozinheiro profissional e operador de moto serra. “Me arrependi de sair de casa, não tenho nada.” Nasceu em Pederneiras e já percorreu inúmeras cidades. Em Rio Claro, está há 15 dias. Passou os dias frios na região da Praça Dalva de Oliveira com cinco cobertores. “Essa iniciativa eu achei uma grande coisa. Não poderia acontecer coisa melhor que essa. Fazia dez dias que não tomava banho. Tem gente que pensa que é fácil ficar na rua, mas não é, não.”