Assistimos domingo passado a um programa dedicado a demonstrar o convívio harmônico das árvores em relação a outras plantas, aos animais e aos seres humanos, todos os dados apresentados por especialistas de suas áreas específicas, inclusive brasileiros.
Vimos a importância direta das plantas sobre o bem estar que as mesmas fornecem para o planeta e para os seres vivos que nela habitam, não apenas na produção de oxigênio, de alimento, de proteção aos menos favorecidos, mas nos educando como interagir com o nosso próximo, lição que muitos seres humanos deveriam absorver, em vez de estar desrespeitando as normas sanitárias e infectando e matando seus semelhantes e até membros de sua própria família.
Da mesma forma que este maldito vírus está ceifando vidas humanas há outros males ceifando nosso ecossistema, como demonstrado pelo “ Kew’s State of the World’s Plants and Fung 2.020”, relatório elaborado pelo Jardim Botânico Real de Kew (RBG, Kew), no Reino Unido que pesquisa o estado das plantas e fungos de todo o planeta, onde participam 210 cientistas de 42 países, dentre os quais, o Brasil possui vários profissionais.
As plantas e os fungos são considerados os blocos de construção da vida em nosso planeta, sendo que, muitas espécies já extintas e milhares em vias de extinção poderiam hoje estar contribuindo com suas propriedades medicinais para aliviar e resolver os problemas urgentes que ameaçam a vida humana, inclusive em relação a Covid 19.
Até hoje foram documentadas 25.791 plantas medicinais, onde 723 foram categorizadas como ameaçadas de extinção dentre apenas 5.411 plantas já avaliadas. Como exemplo destaca-se a Brugmansia sanguinea, planta usada tradicionalmente para distúrbios circulatórios, listada como extinta na natureza pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
A ajuda que a natureza nos oferece gratuitamente está se esvaecendo não apenas com o descaso na proteção contra as queimadas florestais, na maioria das vezes causadas pela ignorância humana, mas também pelo aumento significativo das doenças crônicas, impulsionadas pela falta de saneamento básico diretamente ligado a fragilidade econômica em todo o mundo, pelos preços abusivos dos planos de saúde particulares e muitas vezes pela inoperância da assistência médica hospitalar pública.
Pesquisas apontam que em todo o planeta cerca de quatro bilhões (4.000.000.000) de pessoas dependem de medicamentos á base de plantas, geralmente são utilizadas na medicina alternativa ou também conhecida por fitoterápica, manuseadas sem procedimentos laboratoriais e sem a fiscalização da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Na África do Sul, 27 milhões de pessoas utilizam-se da medicina popular, exemplo clássico de um dos países que possuem uma gama substancial de adeptos ao uso de plantas medicinais, o que impulsiona a prática indiscriminada de coleta na natureza dessas plantas, causando uma carência natural das espécies e sua possível extinção.
E por último e não menos importante, foi o desestimulo por parte dos governos na aplicação de recursos para a manutenção das pesquisas em andamento e a ampliação de novos estudos para o combate desses males que vem sangrando nossas famílias.
Sabemos dos gastos extras investidos no combate da pandemia, mas não podemos abaixar a guarda e estancar as pesquisas que fornecem a esperança e o fornecimento desses valiosos medicamentos que salvam vidas e mantém a nossa biodiversidade viva.