O home office que era utilizado apenas por alguns setores e por um número menor de trabalhadores, durante a pandemia passou a ser a principal ferramenta para empregados e empregadores. Cada um teve que se adaptar à nova rotina para conseguir continuar desenvolvendo com qualidade as funções que antes eram exercidas dentro das empresas.
A Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise covid-19 elaborada pela Fundação Instituto de Administração (FIA) apontou que o home office foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia. O estudo coletou, em abril, dados de 139 pequenas, médias e grandes empresas que atuam em todo o Brasil.
Nessa estatística, está a Supervisora de Comunicação Talita Dalcin Requena Soares, que tem aproveitado os benefícios da atual mudança. “Na minha opinião, o trabalho em home office tem alguns benefícios, entre eles, e o que mais me atingiu positivamente, foi a maior proximidade com a família. Com o trabalho remoto tive a oportunidade de acompanhar de perto o desenvolvimento do meu filho neste primeiro ano de vida dele. Foi durante a pandemia que ele começou a andar, a falar. E eu, estando em casa, tive a chance de participar de cada etapa dessa evolução. Acrescento aos benefícios do home office a menor exposição aos riscos do trânsito e a possibilidade de manter uma alimentação mais saudável, com as refeições sendo feitas em casa”, mencionou.
Claro que atuar no novo formato traz também outros desafios. “Os primeiros meses de trabalho com o cenário de pandemia foi desafiador para todos. Exigiu mudanças na rotina, adaptações, mas acredito que estamos nos reinventando e nos adequando às novas realidades do mercado”, salientou.
Entre as dificuldades, a Supervisora de Comunicação se esbarrou no impasse que a maioria se encontra. “A dificuldade do trabalho remoto é justamente conciliar a rotina da casa com a jornada de trabalho, especialmente quando se tem filhos. No meu caso, um menino de 1 ano que demanda atenção e cuidados comuns a qualquer criança dessa idade”, comenta.
Neste caso, dividir tarefas e ter apoio dos demais membros da casa faz uma grande diferença. “Sozinha, seria impossível conciliar as atividades. Tenho conseguido porque dividimos as tarefas e os horários em casa. Meu marido é professor e ele se encarrega de cuidar do nosso filho nos dias em que não precisa dar aulas (também remotas). Nestas ocasiões consigo me dedicar integralmente à jornada de trabalho no expediente regular. E a situação é contrária quando meu marido precisa se dedicar às aulas. Apesar desse planejamento, por vezes temos que buscar apoio junto aos avós”, ressaltou sobre a rotina.
TODOS CONECTADOS
A Supervisora de Comunicação Talita Dalcin Requena Soares atua na BRK Ambiental, maior empresa privada de saneamento básico do país. Em Rio Claro, a empresa é responsável pelos serviços de esgoto do município. A pandemia gerada pela Covid-19 gerou várias mudanças na rotina de trabalho. Hoje, 70% do quadro efetivo da BRK Ambiental encontra-se com atuação em home office. “Desde março, os profissionais que exercem funções administrativas estão atuando com trabalho remoto. E, esse é o meu caso. Atuo na área de Comunicação da BRK Ambiental em Rio Claro e nas demais cidades da região onde a concessionária é responsável pelos serviços de água e esgoto. Estou em home office há quatro meses (desde 17 de março) e me desloco até as unidades da empresa somente em ocasiões imprescindíveis. Essa nova realidade foi possível porque a empresa adotou o uso intenso de tecnologia, possibilitando que nossas atividades continuassem a ser desempenhadas através de reuniões virtuais, acesso a sistemas da empresa de forma remota, entre outras medidas”, esclareceu.
Para os demais funcionários que precisam atuar externamente, medidas de prevenção foram adotadas. “O saneamento básico é um serviço essencial e, por isso, a empresa também precisa manter equipes em campo para garantir o funcionamento dos sistemas de abastecimento de água (nos municípios em que presta esse serviço) e de tratamento de esgoto (como é o caso de Rio Claro). O trabalho desses profissionais, incluindo técnicos laboratoriais, equipes de redes e operadores de Estações de Tratamento, é fundamental especialmente, neste momento, em que muitas pessoas estão em casa. As equipes da BRK Ambiental que seguem em campo adotaram todas as medidas de distanciamento e higiene recomendadas pelas autoridades de saúde, com a higienização constante dos ambientes de trabalho, veículos e equipamentos já utilizados nas operações, inclusive itens de proteção individual. Além da adoção do uso de máscaras na rotina de trabalho, seja em atividade operacional ou em laboratório”, esclareceu Talita.
NOVA ROTINA
Quem também precisou se adaptar com a nova rotina foi a analista de atendimento ao cliente Lucilene Amaro Torchia. Ao Diário do Rio Claro, ela mencionou diversos benefícios. “Economia de tempo na rua com o percurso, economia de combustível, refeições com mais qualidade, foco no trabalho, pois não tenho distrações em casa”, disse.
Porém salienta que no começo foi um pouco confuso, mas aos poucos foi se adaptando e tem aproveitado o tempo a mais no dia a dia que é economizado por não precisar se locomover até chegar à empresa. “A experiência está proporcionando mais qualidade no meu dia e consequentemente isso reflete em meu trabalho”, esclarece.
Mas claro que tem os contratempos. “Para mim dificultou a socialização, não gosto de chamadas de vídeo, com isso fico mais distante das pessoas, do convívio diário, alguma dúvida do trabalho preciso ligar e torcer para estar disponível e não em reunião, algo que pessoalmente era só ir a sala da pessoa”, disse a analista, completando que o esposo também está em home office. “Trabalhamos em cômodos diferentes, para que um não tire a concentração do outro. Estou mantendo os horários iguais do escritório inclusive para almoço, para que o trabalho não fique maçante e assim prejudicando meus resultados. Nosso benefício em casa é que não temos crianças ou animais para tirar a concentração, algo que também faz falta para relaxar um pouco”, avaliou Lucilene.
O esposo dela, Christeffer Torchia, que atua na área de desenvolvimento de sistemas afirma ter se acostumado rápido ao novo formato. “Como benefícios posso citar o tempo economizado, a praticidade de estar ao lado do ambiente de trabalho, ter um pouco mais de tempo livre. Não tive muito problema, devido a profissão ser mais propícia ao trabalho remoto, além de já ter feito trabalho de forma remota. Porém como dificuldades podemos ter algumas situações que possam nos atrapalhar, como obras em vizinhos, barulho, além de não ter a presença física e contato com as pessoas”, observa.
Fundação Instituto de Administração
O levantamento da Fundação Instituto de Administração (FIA) divulgado pela Agência Brasil apontou ainda que o percentual de companhias que adotou o teletrabalho durante a quarentena foi maior no ramo de serviços hospitalares (53%) e na indústria (47%). Entre as grandes empresas, o índice das que colocaram os funcionários em regime de home office ficou em 55% e em 31%, entre as pequenas. Um terço do total das empresas (33%) disse que adotou um sistema parcial de trabalho em casa, valendo apenas em alguns dias da semana.
De acordo com o estudo, 41% dos funcionários das empresas foram colocados em regime de home office, quase todos os que teriam a possibilidade de trabalhar a distância, que somavam 46% do total dos quadros. No setor de comércio e serviços, 57,5% dos empregados passaram para o teletrabalho, nas pequenas empresas o percentual ficou em 52%.
Apesar das dificuldades, 50% das empresas disseram que a experiência com o teletrabalho superou as expectativas e 44% afirmam que o resultado ficou dentro do esperado. No entanto, pouco mais de um terço (36%) disse que não pretende manter o trabalho a distância após o fim da pandemia. Um percentual semelhante (34%) tem a intenção de continuar com o teletrabalho para até 25% do quadro. O restante (29%) quer manter o home office para pelo menos 50% do quadro ou até todos os funcionários.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil