Postei na rede social, há uns dois meses, a foto com um pé de pássaro.
Ganhei muitas curtidas e conselhos. Embora não seja o primeiro que nasceu em casa, foi o primeiro em minha nova casa, para onde mudei no início deste ano de 2019.
Romântica como sou, é claro que, tanto na antiga casa, como na atual, procuro ter instalações apropriadas para minhas “meninas”, as flores que amo tanto. Sigo à risca uma frase que ouvi quando criança: “Quero uma casa cercada de flores por fora e recheada de livros por dentro”, cuja autoria até hoje não descobri.
Livros, já os tive aos montes, de todos os gêneros possíveis, na época em que ainda podia comprá-los, quando não vivia com esta sórdida aposentadoria a que tem que se sujeitar os brasileiros, após anos e anos de luta.
Tive-os, muito antes das flores, e foram eles que abriram-me as portas para a escrita, hábito que cultivo até hoje. Estantes, mais estantes repletas de livros revestiram as paredes internas de minha casa, permitindo-me viajar para lugares onde o vil metal não me permite chegar.
Hoje, só me resta um módulo da estante, com poucos livros, os mais recentes, pois aprendi nos caminhos da vida que é importante repassá-los a outros para que tenham acesso ao mesmo encantamento que eu.
Mas a estória de hoje não é sobre livros. Estou aqui para falar de pé de pássaros… Pois não é que nasceu outro no jardim vertical destinado a pequenas flores do corredor? É o segundo que nasce no mesmo vaso, bem em cima de uma touceira de flor-de-maio que não consegue florir nunca, coitada!
Da primeira vez, achei uns pequenos galhos secos no chão. Olhei para cima, para o vaso mais alto, e surpreendi-me com o pássaro que lá estava acocorado, com certeza para aquecer e chocar seus ovinhos. Não sei se era um pequeno pombo ou algum outro parecido, pois de pássaros nada entendo.
Só sei que fiquei com pena do pequeno ser que lá se aquietava por horas a fio, e esperei para ver o resultado. Mesmo quando o pássaro-mãe se ausentava do ninho, não tive coragem de me aventurar a tocá-lo, pois já uma vez quebrei seus ovinhos quando fui retirar os galhos secos de um outro vaso, o qual não sabia ser um ninho.
Procurei esquecê-lo e aguardei com paciência os desígnios da natureza. Um dia, olhei para cima e não o vi mais. Coloquei a mão no ninho e já não havia mais nada, a não ser galhos secos. Com certeza os pequenos filhotes nasceram e alçaram voo sem que eu me desse conta.
Algumas pessoas me alertaram para o perigo de ter pombos em casa, pois trazem doenças. Mesmo já tendo conhecimento deste fato, deixei que “florescessem” e ganhassem os ares. Depois, fui lá e retirei somente os galhos secos, desmanchando o ninho. O vaso permaneceu no mesmo lugar, com os galhos da planta esmagados…
Hoje, quando fui àquele recanto observar minhas flores, dei de cara com um novo pássaro no mesmo vaso de flor-de-maio. Procurei não fazer barulho para não espantá-lo e, pé-ante-pé me retirei, desejando-lhe boa sorte na chocada.
Por certo, não verei os ovinhos e nem mesmo o primeiro voo de seus bebês… Mas, tenho certeza de que alcançarão a plenitude do desenvolvimento e irão alegrar o céu azul de minha cidade com belas revoadas. A mim, poeta que sou, o máximo que cabe é guardar o pássaro na recordação e registrá-lo nesta crônica.
Feliz estadia, inquilino… Esteja à vontade, a casa é sua!