A precária condição do ar em Santa Gertrudes tem sido um assunto bastante recorrente, inclusive, nacionalmente.
E trata-se de algo que realmente preocupa, uma vez que, conforme já noticiado pelo Centenário, de acordo com relatório das Nações Unidas, a vizinha cidade possui o ar mais poluído do país. Para se ter uma ideia, os índices são superiores aos de uma megalópole, como São Paulo, por exemplo. Santa Gertrudes é seguida por Cubatão e Rio Claro neste ranking.
Nesta série de matérias que o Diário do Rio Claro tem produzido a respeito desta alarmante situação, se evidencia o fato de que o maior problema com relação à poluição são as estradas vicinais ainda não pavimentadas que interligam as jazidas aos campos de secagem e às cerâmicas. Estudos corroboram que a poluição se dá em virtude das micropartículas de poeira provenientes dos campos de secagem e, notadamente, do transporte da matéria-prima por, justamente, não haver pavimentação.
E reinvindicações para que os recursos necessários sejam obtidos visando o asfaltamento dessas vicinais vêm de longa data. No entanto, nada de efetivo foi feito até o momento.
A fim de aclarar um pouco mais acerca deste assunto, o Diário do Rio Claro conversou com a professora doutora Meyre Oliveira, que é geógrafa. De acordo com ela, para os estudos realizados, foram analisadas as quatro possíveis fontes que contribuem para a emissão de MP10 (material particulado para a atmosfera).
Meyre relata que foram analisados pátios de secagem, as minas, as estradas não pavimentadas utilizadas para transporte de minério e
cana-de-açúcar, além das indústrias. “O estudo nos permitiu identificar a composição química e mineralógica de cada fonte. Ao analisarmos os filtros com material particulado coletado no ar da região, identificamos que a maiores concentrações de partículas finas em ordem decrescente foram observadas nas amostras de solo, seguido pelo minério e na mistura de solos com os materiais de cobertura das estradas utilizadas para transportar minérios”, expõe à reportagem.
A especialista enfatiza que, comprovadamente, essas fontes foram eficientes para transferirem diferentes espécies químicas para a atmosfera, interferindo, deste modo, negativamente na qualidade do ar da região. A professora doutora explica que as partículas investigadas nas frações silte/argila individualizadas e caracterizadas em cada uma das fontes de poeiras já mencionadas, apresentaram quantidades consideráveis de material particulado, designadas como inaláveis, sendo possível identificar que a maior parte dos elementos encontrados nos filtros era característico do solo.
“Este fato comprova, portanto, a tese de que as estradas não pavimentadas são responsáveis pela maior parte das emissões, haja vista que o material proveniente dos solos da região depositado pela ação do vento, que carrega as partículas finas durante os processos de preparo do solo para o plantio da cana-de-açúcar e do transporte do minério realizados pelos caminhões que circulam por essas estradas não pavimentadas e também os caminhões canavieiros”, ressalta.
MALES
Segundo Meyre Oliveira, por conseguinte, levando-se em consideração que a maior contribuição observada está na circulação dos caminhões pelas estradas não pavimentadas, e apresentando altas concentrações de material fino que possui grande potencial de ser suspenso para a atmosfera, e a depender das condições climáticas (como baixa umidade relativa do ar, circulação dos ventos e precipitação, situações que se agravam principalmente no inverno, onde observa-se grandes períodos secos e baixa circulação de ventos, possibilitando a permanência dessas partículas suspensas no ar por dias ou até mesmo por semanas, fazendo com que piore a qualidade do ar), agravam-se os problemas respiratórios, essencialmente em crianças e idosos, além de afetar as pessoas com doenças cardiovasculares e doenças alérgicas como rinite, sinusite, entre outras.
ASFALTAMENTO: SIGNIFICATIVA MELHORA
“A pavimentação das estradas pode diminuir essas emissões entre 50% e 70%, contribuindo com a melhora da qualidade do ar, além de ações que estão sendo estudadas para elaboração de um plano de gestão da qualidade do ar na região”, assegura a professora doutora Meyre Oliveira.