Termo “às escuras”, de acordo com o dicionário português, significa: sem luz, sem saber o caminho, sem saber como agir ou como lidar com algo. Rio Claro foi a segunda cidade brasileira na produção e transmissão de energia elétrica, através de uma pequena termoelétrica movida a vapor com caldeira aquecida a lenha, inaugurada em 05 de dezembro de 1.885, através de uma unidade geradora localizada na avenida 2 com a rua 7, onde se encontra o antigo prédio da Cervejaria Caracu.
Nosso município também foi um dos pioneiros na geração de energia através de uma usina hidrelétrica, inaugurada em 15 de novembro de 1.895, foi a terceira do Estado de São Paulo, construída em local estratégico, no qual permitia o aproveitamento das águas do rio Corumbataí e Ribeirão Claro.
No segundo dia de funcionamento da usina em decorrência do mau tempo, houve uma descarga elétrica, lançada por um raio, que obrigou a paralisação total da usina. Fato que sobrecarregou financeiramente a empresa gestora, obrigando-a a leiloar seus bens, desativando a usina por um período de 5 anos, até 1.900.
Desde então, a Central Elétrica Rio Claro que anos depois passou a se chamar Sociedade Anônima Central Elétrica Rio Claro, passou por várias ampliações, inclusive a construção de uma termoelétrica movida a vapor e alimentada pela queima de eucaliptos de plantações, realizadas pelo Dr. Edmundo Navarro de Andrade, pai do Eucalipto no Brasil.
Anos depois, pela propositura de transformar a termoelétrica de vapor para diesel, desencadeou um entrave financeiro que forçou a extinção da empresa, incorporando a Companhia Hidrelétrica do Rio Pardo – CHERP, formadora das Centrais Elétricas de São Paulo S.A., depois Companhia Energética de São Paulo S.A. – CESP.
Em 1.999, a área foi doada para a Fundação Energia e Saneamento que deveria honrar seus compromissos, quanto ao fato que ao assumir a área, sua missão contemplava: Preservar, pesquisar e divulgar o patrimônio dos setores de energia e saneamento por meio de ações de educação e cultura, nos eixos de história, ciência, tecnologia e meio ambiente.
Desenvolvemos uma pesquisa, com recursos próprios, sobre a influência das barreiras ecológicas sobre a ictiofauna da Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, trabalho que demonstrava o efeito das barragens ou obstáculos naturais existentes em nossos rios sobre a população de peixes, principalmente nas espécies de piracema.
A usina Corumbataí em detrimento de suas 2 barragens, a do rio Corumbataí e a do Ribeirão Claro, foi a base de nossa pesquisa acadêmica, local onde observamos a dinâmica desses barramentos e sua influência sobre a fauna aquática.
Em 2.006, ao adentrarmos na área da barragem para iniciarmos nossa pesquisa, presenciamos o mesmo ocorrido de janeiro de 1.970. O aterro da barragem do Rio Corumbataí estava rompido, devido às fortes chuvas que ocasionaram uma enchente, esta que destruiu diversas pontes à montante da usina.
Relatos comprovados pelo operador da barragem, que estava trabalhando no dia de seu rompimento em 1.970, ele nos contou que o acúmulo dos detritos das outras pontes na estrutura das comportas da usina, além de deter a vazão da água, prejudicou o acionamento da abertura total das comportas, transferindo a pressão para as áreas laterais da barragem ocasionando o rompimento do aterro.
Este segundo rompimento foi de grande valia para o meio ambiente, embora os rastros de destruição na flora a jusante da barragem, tenha acumulado detritos no leito do rio e a derrubada de algumas árvores ribeirinhas, mas também obrigou a empresa gestora que operava a barragem, a projetar uma nova barragem composta por uma escada de peixes, para que as espécies pudessem transpor a barragem e continuar seu deslocamento rio acima, perpetuando suas espécies através da piracema (período de desova).
Este compromisso em construir a escada de peixes foi originado por um grupo de pesquisadores e técnicos em meio ambiente de nossa cidade e região, e através de muita luta e alicerçados pela lei estadual 9.798, de 07 de outubro de 1.997, conseguimos obrigar a empresa gestora a construir tal escada que acreditamos estar facilitando o deslocamento das espécies de peixes até os dias atuais.
Época em que tivemos o prazer de conhecer e conviver por alguns dias com o historiador Donizete Ap. Pinto e sua família, coordenador do museu da energia, era o administrador da área e defendia aquele patrimônio com dedicação e afinco.
Além de nossa pesquisa participamos de ciclos de palestras na usina, exposição de peixes e do Simpósio História, Energia e Meio Ambiente, que gerou uma publicação na revista do Centro de Estudos Ambientais da Unesp, Rio Claro (Holos environment, volume 7). Enquanto havia profissionais comprometidos com os laços culturais de nossa história, havia a Usina Parque Corumbataí.
A Usina Parque Corumbataí, localiza-se na avenida 1, bairro da Assistência, entre a empresa Stavias e o aterro sanitário de Rio Claro, possuindo portaria de acesso próximo da ponte sobre o Ribeirão Claro.
O problema é que a Fundação não aplica recursos para desenvolver sua missão proposta, a empresa que opera a usina só visa lucro na venda da energia produzida e não autoriza o acesso a visitantes e o governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de Rio Claro não querem o ônus de possuir qualquer despesa que possa surgir com o acesso de visitantes na área.
Atualmente, este patrimônio histórico que pertence ao povo Rioclarense, encontra-se abandonado e entregue a oportunistas que sugam nossas riquezas para seu próprio benefício.