Começo a escrever estas linhas, ao som da música da banda de punk rock paulistana Os Inocentes, que dá título a este artigo. E penso, concedendo-me o direito de um devaneio, uma licença poética: Se por vezes se torna insuportável viver no Brasil, pensemos como seria então, viver na Índia, por exemplo, onde há mais de 1 bilhão de pessoas, a maioria inculta e vivendo na miséria, com hábitos nada recomendáveis à boa higiene e à boa educação.
Ok, seguidores de Vishnu, adeptos da cannabidiol, vamos à realidade. A nossa.
Nós vivemos em um país, abençoado, o Brasil. Se a classe política, em sua maioria, nos decepciona, em boa medida, a responsabilidade é nossa. Afinal, eles não caíram do céu, de paraquedas, mas adentraram à vida pública, com a nossa aprovação.
E eles são fiel retrato do que somos, do que pensamos, do que sentimos, e do que, provavelmente também faríamos, se estivéssemos no lugar deles.
A classe política brasileira, em sua maioria, será mais honesta, mais responsável, mais correta em suas ações e mais justa, como pretendemos que seja, e irá se preocupar mais com o povo e menos consigo mesma, quando nós, o povo, nos educarmos mais, nos esclarecermos mais, mudarmos para melhor o nosso comportamento como cidadãos, que ainda, lamento dizê-lo, deixa muito a desejar em todos os aspectos.
Isso não é questão de gosto, preferência, opção de fé. Isso é necessidade. Se eles não fazem por nós, então, façamo-lo nós por nós mesmos.
Talvez, se eles sentirem o nosso desprezo, a nossa indiferença, percebam então, o equívoco de suas atitudes e a necessidade urgente de uma mudança de comportamento.
Se eles fazem as leis, em sua maioria, que os beneficia, façamos também as nossas que nos beneficiem. Temos instrumentos legais para isso. Chama-se Projeto de Iniciativa Popular, que a maioria ignora e ninguém faz uso.
Votar não é transferir responsabilidade a meros desconhecidos. Votar é expressar confiança. Se essa confiança foi abalada, ela, por conseguinte, não se justifica mais e, naturalmente, deixa de existir.
Será que as pessoas, em sua maioria, percebem que são elas que produzem a riqueza do país, e a entrega de mãos cheias e olhos fechados a meros desconhecidos, ausentes, distantes, os políticos, para que eles administrem essa riqueza?
Será correto isso? Será esse o único modo de gerir a vida de uma nação, suprindo-a de suas necessidades básicas, com os recursos que ela mesma produz?
Não estaria faltando iniciativa por parte da sociedade brasileira, para inverter os papéis, para restabelecer sua autonomia, e o seu direito de se conduzir a si própria? Não somos mais representados, nem minimamente em nossos interesses, por aqueles que se dizem nos representar.
Nós vivemos tempos difíceis, todos sabemos, em que valores fundamentais para o bom e pacífico convívio humano são invertidos. Direitos são negados e restringidos, por quem deveria justamente resguardar o seu cumprimento.
Há uma deficiência moral atroz que consome o pouco de dignidade que ainda resta por parte daqueles que ocupam cargos públicos, nas três esferas de poder da República. No Brasil, é regra: engana-se a plebe e corrompe-se os políticos. Fácil, fácil. Uns são alienados, indiferentes, despreparados, e os outros são corruptíveis, por excelência, com o perdão do trocadilho.
A República, no Brasil, por si só, é tão somente um arremedo de seus mais lídimos ideais. E a bem da verdade, não pode mesmo dar certo, não pode mesmo ser algo abençoado por Deus, uma República, como a brasileira, surgida do revanchismo de quem teve seus interesses contrariados, surgida da covardia e da traição sórdida de alguns.
A República, no Brasil, sejamos honestos, não surge dos anseios do povo da época, surge dos interesses de quem, por meio de um golpe infame, tomou na força, o poder político da nação, que foi vendida aos interesses de uma elite nojenta e asquerosa que passou, na calada da noite, a governá-la.
O resto, que é o drama sem fim que vivemos neste país, bonito, abençoado pela natureza, mas vilipendiado pelos de sempre, que apenas se ocupam e se utilizam dele para atingir seus objetivos mesquinhos, o resto, é consequência disso tudo. É História. Uma história, infelizmente, muito triste e, ao que tudo indica, sem final feliz.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Hildegard Rosenthal