Nos 196 anos de Rio Claro, vale a pena estender o olhar para um pedaço da sua história intimamente ligado ao meio ambiente. Rio Claro teve de início outras denominações: São João Batista do Morro Azul ou São João Batista do Ribeirão Claro. O curso d’água que motivava a parada dos tropeiros e exploradores rumo ao Mato Grosso e que ainda hoje responde por parte importante do abastecimento de água do município.
Vamos relembrar um pouco dessa história e saber, em seguida, qual a visão atual de importantes autoridades do setor de água e saneamento do município sobre a situação do Ribeirão Claro.
Registra a história que no século XVIII, em consequência da descoberta do ouro em Cuiabá, Mato Grosso, desde 1719, os paulistas já cruzavam os campos ou sertões de Araraquara, que compreendiam, além de Rio Claro, os atuais territórios dos municípios de Araraquara, São Carlos e Descalvado, para evitar as febres do roteiro do rio Anhembi (Tiete). Bandeirantes e aventureiros ali se fixaram, construindo as primeiras casas em suas propriedades, as margens do Ribeirão Claro. Tornou-se esse rincão o pouso dos viajantes dos sertões.
“Os informes exatos a respeito do Morro Azul começaram a aparecer, entretanto, nos primeiros 20 anos do século XIX, quando a Vila de Moji-Mirim para lá enviou os primeiros povoadores. Em 1817, Manoel De Barros Ferraz e a família Galvão, procedente de Itu, representada por Joaquim Galvão de França requerem a primeira sesmaria nos sertões do Morro Azul, logo depois vendida; grande parte dessa gleba transformou-se mais tarde, na fazenda Ibicaba, e o senhor Nicolau Vergueiro, associado ao Brigadeiro Luiz Antonio, fundou aí o Engenho de Ibicaba, dedicada ao fabrico de açúcar e criação de animais, realizando um grande trabalho de colonização”, relata o site do município.
No ano seguinte foi concedida a segunda sesmaria a família Goes Maciel e, três anos depois, uma outra concessão aos irmãos Pereira, no lugar denominado Ribeirão Claro, onde formaram uma grande fazenda de criação – o “Curral dos Pereiras”, onde, em 1822, com a criação da Vila da Constituição, hoje Piracicaba, começou a formar-se um povoado, que se denominou São João Batista do Ribeirão Claro. Outra sesmaria importante foi concedida as margens do rio Corumbataí: a do capitão Francisco da Costa Alves, em cuja fazenda erigiu uma capela, sob a invocação de São João Batista.
A seguir, entrevistas especiais feitas com autoridades do Daae (Departamento Autônomo de Água e Esgoto) de Rio Claro
Denilson Massaferro Junior – diretor técnico do Daae
Diário do Rio Claro: Do seu ponto de vista, considerando a importância hidrográfica e histórica do Ribeirão Claro para a cidade, como você avalia que ele está hoje em termos de qualidade da água? Ele ainda contribui com o abastecimento de Rio Claro, com quantos por cento da demanda de água?
Denilson: Rio Claro é abastecido pelo Ribeirão Claro e pelo rio Corumbataí, que são mananciais superficiais.
A água bruta captada no Ribeirão Claro abastece a Estação de Tratamento de Água (ETA 1), que fica no bairro Cidade Nova, responsável pelo fornecimento de água em 40% da cidade, abrangendo bairros das regiões Norte, Sul e Central, além do distrito de Assistência.
Tem vazão de 2m³/s, com captação diária de 30 mil m³, equivalente a 30.000.000 litros.
Até o início da década de 1980, era o único rio que abastecia a cidade. Em 1982, com a construção da ETA 2, o município começou a ser abastecido também pelo rio Corumbataí.
A água bruta captada no rio Corumbataí abastece a ETA 2, que fica na estrada vicinal Nicolau Marotti, que liga o município ao Distrito de Ajapi e abrange bairros das regiões Leste, Oeste e alguns bairros da região Sul, além de Ajapi, equivalente aos outros 60% do abastecimento do município.
Tem vazão média de 3m³/s, com captação diária de 40 mil m³, equivalente a 40.000.000 litros.
Ambos os rios são Classe 2, classificados pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), totalmente adequados para a captação de água para a realização de tratamento e abastecimento no município.
Diário do Rio Claro: Você acha que a cidade faz um uso adequado desse curso d’água?
Denilson: Sim. O Daae (Departamento Autônomo de Água e Esgoto) de Rio Claro possui outorga de captação de água nos dois rios e o faz, de maneira controlada, dentro das regulamentações estabelecidas.
Rui Barbosa – diretor do Departamento de Meio Ambiente do Daae:
Diário do Rio Claro: Há ações pela sua preservação? Como você vê o futuro do Ribeirão Claro?
Rui: Além da captação, tratamento e abastecimento de água, o Daae também executa fundamental trabalho ambiental de recuperação, preservação e proteção das áreas dos mananciais onde capta a água bruta e também nos cursos d’água e nascentes, com a realização de plantios, com mais de 1000 mudas plantadas em 2022.
Também, o Daae, em conjunto com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, elaborou o PRAD (Programa de Recuperação de Áreas Degradadas). Na primeira fase do projeto, foram listados mais de 40 imóveis às margens do rio Corumbataí por meio de informações do SICAR (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural), sendo 32 com áreas de APP parcialmente ou totalmente degradadas.
O Daae e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente estão em contato com os proprietários para explanação do projeto para anuência dos mesmos para que seja estabelecido o grid de plantio para o cálculo do número de mudas a serem plantadas em cada propriedade.
Ainda, o Daae faz parte do Programa de Proteção aos Mananciais (PPM), que tem como objetivo, dar suporte na produção de mudas nativas para atendimento aos projetos de reflorestamento aos municípios associados do Consórcio PCJ.
Este é um importante trabalho desenvolvido pelo Daae como forma de garantir disponibilidade hídrica para a cidade e esta parceria com o Consórcio PCJ é de fundamental importância que fortalece as nossas ações na cidade.
As mudas são do viveiro do Daae, que atualmente contabiliza mais de 11 mil mudas de árvores nativas e frutíferas, que são utilizadas em doações e em plantações em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e em áreas rurais, localizadas no entorno de cursos d’água e nascentes, para proteger os recursos hídricos contra erosão e assoreamento.
Localizado em uma área de aproximadamente 10 mil m², o viveiro do Daae foi totalmente reformado e revitalizado pela atual gestão. Possui duas estufas de produção e manutenção das mudas, além de equipamentos modernos e automatizados que geram economia no consumo de água e energia.
Sergio Ferreira – superintendente Daae:
Diário do Rio Claro: Há alguma nova informação relevante sobre o tema?
Sérgio: “O que garante a qualidade da água distribuída no município é a eficiência do tratamento de água, somado ao trabalho de grande relevância executado pelos servidores da autarquia, todos os dias da semana, 24 horas por dia”, ressalta Sergio Ferreira, superintendente do Daae de Rio Claro.
“Além do tratamento da água, o Daae realiza minucioso trabalho para assegurar a qualidade da água distribuída no município com inúmeras análises feitas todos os dias, nos laboratórios da autarquia, seguindo todos os parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde”, finaliza Sergio Ferreira.
Foto: Ribeirão Claro Captação ETA 1/Divulgação Daae