“Quer plastificar, meu amigo?”. Com esse questionamento feito de forma bem simpática, Paulo Sales, de 52 anos, aborda os eleitores que estão procurando os cartórios eleitorais para fazer cadastramento biométrico.
Diante da crise e a falta de emprego no mercado formal, Sales saiu de Itajubá, no sul de Minas Gerais, para enfrentar a vida há quatro meses, quando chegou em Rio Claro. “Cheguei com R$ 70. Não sabia onde ia dormir. Comprei papel de plastificar e comecei o trabalho de forma manual, sem utilizar máquina nenhuma”, conta à reportagem.
O espirito empreendedor e a vontade de conquistar espaço fez com que o profissional aproveitasse a obrigatoriedade do cadastramento biométrico para iniciar em nova atividade: a da plastificação.
O que no começo era realizado de forma manual, demorou pouco mais de um mês para que equipamentos fossem comprados e o negócio pudesse deslanchar. “Já no primeiro dia, que eu tinha apenas R$ 70, consegui plastificar e tive uma arrecadação bruta de R$ 130”, enfatiza.
No mesmo dia procurou um hotel e se instalou em Rio Claro. “A diária não é barata, mas depois de menos de um mês já acordei um valor mensal que cabe no orçamento e que é bem mais em conta que alugar uma casa”, comemora.
INVESTIMENTO
Hoje, Sales trabalha na saída do cartório da Rua 8 e já investiu cerca de R$ 1.800 em uma plastificadora, uma bateria, um inversor de voltagem e uma mesinha de madeira. “Eu comecei só com a bancadinha, fazendo manual. E fui comprando aos poucos”.
DESEMPREGO
Sales disse à reportagem que sempre trabalhou, seja na roça, vendendo produtos de porta em porta e até mesmo recolhendo latas. “Eu sempre tive alguma atividade, mas depois piorou. Como estava desempregado, procurei uma alternativa. Todo mundo tem seus problemas, mas se ficar chorando não vai adiantar”, disse.
Foi esse o cenário que fez com que ele arregaçasse as mangas e partisse de peito aberto para uma nova atividade.
PROCEDIMENTO
O trabalho é rápido. E a simpatia de Sales garante a procura pelo serviço. Em menos de três minutos, o eleitor tem sua cédula plastificada e pronta para mais uma jornada eleitoral. E ele ainda orienta: “não pode plastificar RG, reservista e nem CNH”. A orientação é dada para interessados em plastificar estes documentos. Tudo de forma muito dinâmica e descontraída.
Por menos de cinco reais, qualquer cidadão deixa o local com seu documento devidamente plastificado. “Algumas pessoas querem me dar gorjeta. Eu fico grato. Mas eu já ganho pelo meu trabalho. Essa é minha fonte de renda principal”, esclarece.
TODO TEMPO
“Acho que tenho todo o tempo do mundo, mesmo aos 52 anos”, enfatiza. Ele almeja aproveitar a biometria em outras regiões e diz que tem sonhos ainda maiores, que não revela. “Tenho uma vida toda pela frente e muitos planos. Eu nunca penso que já tenho 52 anos”, diz.
Ele enfatiza ainda que quando o mundo conspira a favor, as coisas costumam dar certo. “Agora estou vendo claramente. Já cheguei a errar em uma plastificação logo no começo, mas o mundo estava conspirando a favor e a pessoa entendeu meu erro. Claro que eu não cobrei. Mas ela disse: ‘vai ficar na gaveta mesmo, sem problemas’. Com o tempo, fui pegando a prática e agora o trabalho sai perfeito”, finaliza.