No ano passado, o Brasil apareceu na contramão de outros países que tiveram queda no número de suicídios. Os dados da Organização Mundial de Saúde de 2019 apontam que a taxa de suicídios a cada 100 mil habitantes aumentou em 7% em seis anos no país, ao contrário do índice mundial que caiu 9,8%. Apesar da redução, os números seguem assustadores, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos no mundo, o que corresponde uma morte a cada 40 segundos.
A estimativa é de que, durante a pandemia, os números possam aumentar, porém ainda não há dados concretos do período. Em Rio Claro, o setor de saúde informou que nesse período de pandemia não houve número significativo de pessoas que procuraram atendimento de urgência do serviço com queixas mistas de ansiedade e depressão. O órgão esclarece que, quando há contato telefônico, é ofertado inicialmente o acolhimento com escuta atenta e qualificada da equipe multiprofissional e do médico, se necessário, e, caso a pessoa se disponha, são agendados atendimentos.
Atendimentos
Pacientes com transtornos mentais graves devem receber atendimentos psicológicos. A assistência para esses pacientes é oferecido em Rio Claro pelo Caps III que é um serviço estratégico da atenção psicossocial com funcionamento 24 horas e quatro leitos de apoio à crise. Tem por objetivo acompanhar pacientes com transtornos mentais graves, oferecendo tratamento em regime aberto, com equipe multiprofissional visando a promoção da autonomia, cidadania e reabilitação psicossocial dos usuários. Quadros como de psicose e transtornos de humor graves são atendidos pelo órgão.
Segundo a prefeitura, em média, são realizados cerca de 800 atendimentos por mês, envolvendo atendimento médico e atendimento com a equipe multiprofissional composta por psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social, além de equipe de enfermagem. Os atendimentos prestados pelo serviço incluem atendimento médico, atendimento em grupo, individual, à família, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares e atividades comunitárias.
Em algumas situações, o tratamento envolve também a internação. Conforme avaliação médica, os casos em que os usuários apresentam riscos para si e/ou para terceiros são encaminhados para internação psiquiátrica, por meio do sistema Cross (Central de Regulação de Operações de Serviços de Saúde) na Casa de Saúde Bezerra de Menezes.
Preparo Corpo de Bombeiros
No último dia 13 de junho, uma ocorrência de tentativa de suicídio mobilizou as equipes do Corpo de Bombeiros para resgatar a vítima que estava na ponte do bairro Bonsucesso. Foram em média três horas de abordagem à mulher, que ao final, desistiu da ideia de tirar a própria vida, saindo da área de risco. O comandante do Corpo de Bombeiros de Rio Claro, Tenente Fábio Henrique Giovani, explica que os bombeiros estão preparados para situações de emergência e de risco, preparados para rapel, fazer amarração e resgatar vítima em altura. “A ocorrência de tentativa de suicídio se tornou alvo do bombeiro, porque geralmente a pessoa está se colocando em risco de alguma forma e os bombeiros acabam tendo que atuar”, salienta.
O comandante esclarece que foi à partir de 2015 que o Corpo de Bombeiros do estado de São Paulo começou a trabalhar mais especificamente no assunto, com novas técnicas, depois que o Major do Corpo de Bombeiros Diógenes Martins Munhoz criou o primeiro curso no estado, chamado Curso de Abordagem a Tentativa de Suicídio. “O major passou a analisar qual o preparo que o bombeiro tinha para lidar com uma situação dessa, tem que ser psicólogo, conversar com a pessoa, tentar tirar ela desse risco todo, conversando. Então mescla as duas coisas, a parte operacional, que seria a amarração, os cuidados necessários com uma vítima com uma faca por exemplo e também a questão da abordagem. Aprende técnicas para lidar com o que está se passando na cabeça da pessoa, qual é o fator motivacional, o fator de risco e vai trabalhando em cima disso”, ressalta.
Em Rio Claro, são três abordadores que possuem o curso de Abordagem a Tentativa de Suicídio, o Tenente Giovani, Cabo Thomazini e Cabo Rogério. “No dia dessa ocorrência não tinha abordador em serviço, então veio um cabo de Piracicaba. O tenente oficial de área ficou sabendo da tentativa de suicídio e acionou o cabo que fez a abordagem psicológica da vítima, conversou, e depois de um tempo conseguiu fazer a retirada dessa vítima. A ideia da abordagem é que essa vítima seja retirada por ela própria, que ela saia da situação de risco”, observa.
Com o curso, a técnica utilizada passou a ser outra. “A ideia antiga era, pula, pega e tira. Hoje não, é perguntar o porquê está lá e fazer refletir as capacidades da vítima. A gente tenta trabalhar com que a pessoa desista da ideia e não que frustre a ideia, esse é o foco do bombeiro, que está preparado com as amarrações, preparado para cortar corda se a vítima estiver com ela no pescoço”, disse o comandante, acrescentando ainda que se a tentativa de homicídio tiver arma de fogo, o bombeiro sai de cena e fica a cargo do policiamento. “Quanto a faca, depende do cenário, pode ser do bombeiro ou do policiamento, porque dependendo da situação o bombeiro pode até se tornar uma vítima do tentante, então, cabe ao policiamento”, ressalta.
Uma ocorrência, como a registrada recentemente, envolve muitos profissionais, cada um com sua missão de realizar o melhor trabalho e garantir o resultado positivo; e para isso é preciso controlar também o público que se aglomera. “No cenário tinham várias viaturas da Polícia Militar, o objetivo é justamente isolar o público que fica no local, porque muita gente até fala para a vítima se jogar e se isso acontecer é crime, é instigação a tentativa de suicídio, então, se alguém grita, o policiamento vai lá e prende aquela pessoa que acabou de cometer um crime. Se você não fizer nada, às vezes, fica ouvindo as pessoas brincarem com a situação. O foco do bombeiro é na vítima e o foco do policiamento é no isolamento da área”, explica.
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