O momento é de incertezas e de medo para a maioria das pessoas sobre o futuro tão próximo. Tudo mudou radicalmente e, de repente, todos se viram obrigados a ficar em casa, exceto os que atuam em áreas em que o trabalho continua e de serviços considerados essenciais. “Isso tem acontecido com todas as pessoas, variando a intensidade, o nível de ansiedade e de angústia de pessoa a pessoa, dependendo da condição emocional de cada um.
Estamos vivendo com uma ameaça de perigo iminente que, até então, nunca, em nenhuma geração dos que têm hoje até 60-65 anos, tinham vivido, especialmente no Brasil, onde não tivemos uma grande guerra”, salientou a psicóloga Lúcia Helena Hebling Almeida.
A professora doutora salientou ainda que agora são momentos semelhantes aos de guerra, mas o inimigo não é visível, e é extremamente ameaçador. “Isso faz com que o nível de estresse seja semelhante ao que o homem tinha no tempo das cavernas, em que lutava pela sobrevivência básica com outros animais ou tribos; a caça, o comer, o matar e o morrer”, comentou.
Todas essas mudanças podem levar a inúmeras consequências e afetar também na qualidade do sono. “Segundo Sidarta Ribeiro, o medo da morte está atingindo proporções épicas, porque a COVID-19 tem dimensões notáveis, e isso se reflete na agitação do sono – acordar muitas vezes, dificuldade para dormir, sonhos muito aflitivos ou de salvação, além de pesadelos, têm sido constantes.
A maioria das pessoas tem tido sonhos com conteúdos muito ameaçadores. Outras vezes, as pessoas sonham com festas, reuniões, casamentos, ocasiões em grupo – tudo o que não estamos podendo fazer em função do isolamento, pois, para Jung, o sonho tem também uma função compensatória na psique: apresentar aquilo que não estamos podendo fazer, para podermos suportar o conflito”, avaliou a especialista.
E como lidar? O que podemos fazer para melhorar a situação? Para amenizar e enfrentar de forma mais controlada a circunstância, a psicóloga recomenda. “Podemos fazer exercícios respiratórios que acalmam. Por exemplo: inspirar contando até cinco lentamente – segurar a respiração contando até cinco, expirar lentamente contando até dez. Isso umas quatro vezes seguidamente e diversas vezes ao dia”, orienta.
Outros exercícios também podem ser realizados. “Há o Treinamento Autógeno de Schultz – um relaxamento simples e muito eficaz -, difundido no Brasil em livro pelo Dr. Petho Sandor (de quem fui aluna), e que pode ser encontrado para fazer no Google, além de exercícios de alongamento básicos que melhoram a ansiedade”, recomendou.
A psicóloga esclarece ainda os sentimentos que todos têm vivenciado. “Frente ao medo, perdas, luto – pois a sensação que muitos têm é de um luto constante -, temos cinco estágios, de acordo com a Dra. Elisabeth Kubler Ross: 1. Situação: há uma pandemia que veio da China; 2. Negação: aqui vai ser diferente, temos um clima quente, não vai chegar aqui, não será a mesma coisa; 3. Raiva: por que não tomaram medidas antes?; 4. Medo: quando isso vai passar?; 5. Aceitação: estou triste e muito vulnerável. Nesse processo, muitas coisas são repensadas. David Kessler propõe um sexto estágio a partir da aceitação, que é a busca de um significado, a partir de novos cuidados e hábitos de confiança.
O que devo aprender com tudo isso? A me aquietar, a ser solidário, a tentar ajudar a construir um mundo novo, a pensar nos outros, a ter solitude, poder estar conosco mesmos. Para os que podem fazer a quarentena (muitos não podem), fazer coisas que gosta – música, artes, conversar -, o resgate da boa conversa está sendo um aprendizado”, observou a Profa. Dra. Lúcia Helena Hebling Almeida.
Não se contaminar com notícias falsas, não espalhar ódio e brigas por redes sociais e grupos são outras orientações. “Buscar conteúdos que agregam, que acalmam – cada um tem um gosto que alimenta a sua alma. Devemos cuidar da nossa psique, do nosso interior, do nosso coração, trabalhar com arte, pintura bordados, plantas para termos mais força e resiliência, pois tudo isso vai passar. Na aceitação e nos mantermos mais calmos estão o nosso poder e nossa cura. Façamos bem feita a nossa parte”, finalizou a psicóloga.
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