O babalorixá Silvio de Xangô, o Pai Silvio, foi um dos entrevistados desta sexta-feira (13) do programa Diário MA TV. Ele falou sobre a nova fase do Conerc (Conselho Municipal da Comunidade Negra de Rio Claro) e a necessidade de abrir espaço para os negros em todas as áreas da sociedade.
Nascido em Rio Claro, Pai Silvio é babalorixá há 35 anos e proprietário de uma casa de candomblé. Fez parte da primeira formação do Conerc, ausentou-se por alguns anos, e agora retorna com a eleição nesta semana de Pai Roni, líder de matriz africana, para a presidência do conselho.
“Estamos em busca de espaços para as casas de matriz africana para não ficar somente dentro da comunidade social, mas também cultural. A gente vai abrir um espaço maior para a comunidade negra em todas as áreas”, informou Pai Silvio.
De acordo com ele, houve uma grande evolução, mas ainda existe preconceito e grande parte dele vem de dentro pra fora. “O maior problema que nós enfrentamos é você não poder assumir a sua identidade. Ainda têm muitos negros com muitas restrições, e não apenas no sentido religioso”, disse Pai Silvio frisando que quem está dentro do candomblé tem dificuldade em assumir.
Conforme ele, os brancos procuram normalmente as casas para jogar búzios, já os negros têm um certo receio principalmente se tiver uma profissão de certo status. “Um advogado tem medo de procurar o Pai Silvio e ser visto, não por vergonha, mas por medo de ser julgado pela sociedade e enfrentar problemas profissionais”, comentou.
O babalorixá citou um fato recente ocorrido no mês passado durante as comemorações do Dia da Consciência Negra. Uma professora de uma escola no Jardim Novo 1 foi hostilizada por ter levado para a unidade de ensino uma apresentação de tambu (batuque de umbigada), tradição cultural afro-brasileira. Segundo ele, o caso foi parar na delegacia.
“Na minha época a gente aprendia falar sobre escravidão, Dom Pedro, cana de açúcar, José Bonifácio, índios, na escola. Hoje, se perguntar pra minha neta, ela não sabe o que é isso”, observou o babalorixá informando que o Conerc vai trabalhar para mudar essa visão sobre a cultura afro e também para diminuir um pouco a influência da administração municipal.
Pai Silvio reconhece que o governo municipal criou vários serviços importantes para a comunidade grande, como a SOS Racismo, o próprio Conerc, a assessoria de Igualdade Racial. No entanto, segundo ele, os cargos são ocupados por servidores de carreira, o que limita sua atuação pois eles dependem da máquina pública e podem não ter condições de “brigar” e “bater de frente” quando necessário.
Quanto ao Conerc, ele destacou o “grandioso trabalho” feito pelas gestões anteriores, mas é preciso mudar o discurso e buscar novos horizontes. Como exemplo, ele citou os líderes Zumbi e Dandara. “Isso tem mais de 100 anos. Hoje temos outros líderes negros que ocuparam lugar de destaque e que não são lembrados e vistos. Têm que haver outros ícones e referências negras, e está muito lenta essa evolução. Rio Claro, por ser uma das primeiras cidades a praticar abolição, ainda está atrasada e tem muito a evoluir”, avaliou Pai Silvio frisando que o objetivo do Conerc é “unificar para fortalecer as raízes do povo preto”.
O vídeo com a entrevista do Pai Silvio ao programa Diário MA TV, na íntegra, pode ser assistida pelo link https://www.youtube.com/watch?v=DICxYMC9XSc .
Por Ednéia Silva / Foto: Diário do Rio Claro