Em nosso país, existem regras de protecionismo às nossas espécies nativas apenas no papel, pois na prática a realidade é bem diferente.
Há até mesmo espécies exóticas invasoras que se proliferam com uma rapidez incontrolável, em muitos casos, mas que por interesses comerciais e financeiros acabam sendo cultivadas em larga escala e engajadas em campanhas de marketing que as nomeiam como salvadoras da pátria.
Baseados em diversos relatos de inúmeras espécies, hoje, descriminadas por sua origem estrangeira, gostaríamos de perguntar sobre o carro chefe de nossa piscicultura nacional e mundial, a tradicional Oreochromis niloticus, conhecida Tilápia do Nilo, hoje apenas uma ramificação das inúmeras espécies de tilápias existentes em nossos mananciais brasileiros.
Espécie onívora (palavra originada do latim e significa a união dos termos “omnis” e “vorus” aquele que come de tudo), a Tilápia tem a capacidade de digerir alimentos vegetais e animais, considerada por pesquisadores como uma espécie predadora, de rápida proliferação e que está próxima de invadir os oceanos porque se adapta facilmente as águas com teor de salinidade elevado.
As Carpas asiáticas, habitantes de nossos pesqueiros por todo o Brasil, há dez anos, introduzidas em mananciais americanos, com o intuito de controlarem o excesso de algas, acabaram se reproduzindo em larga escala, desequilibrando o ecossistema aquático, trazendo inúmeros prejuízos a Fauna americana.
Agora o já introduzido Pangasius hypophthalmus, ou simplesmente Panga, peixe originário do Vietnã que está sendo engordado em várias pisciculturas de nosso país e que disputarão seu espaço junto com as nossas espécies nativas. Até o momento, se dizem controladas em seus habitats de cultivo, mas até quando?
O problema é o manejo estrutural desses tanques de engorda e o controle dessas populações quando essas estruturas se rompem por excesso de chuva, ocasionando inundações e, consequentemente, a fuga dessas espécies para nossos rios e represas.
E aí, quem se responsabiliza por essa interação do peixe exótico invasor com as nossas espécies nativas, quem autorizou a introdução e comercialização desta espécie no território brasileiro? A partir deste momento, não achamos os culpados porque o leite já fora derramado e não há mais solução.
A discussão não se restringe apenas ao investimento maciço em relação às espécies exóticas de alta produtividade, mas também ao desinteresse em investimentos e pesquisas de nossas espécies nativas que poderiam estar disputando uma fatia maior de mercado, onde estaríamos contribuindo para um maior consumo de pescado nativo oriundo de pisciculturas favorecendo o aumento populacional destas espécies em seus habitats naturais, diminuindo a pesca predatória destas espécies e contribuindo para o aumento da pesca esportiva , gerando mais renda para as populações ribeirinhas que absorveriam parte da renda trazida pelo turismo.
Como exemplo para um maior desenvolvimento em pesquisas de nossa fauna aquática, destacaríamos o Arapaima gigas, esse gigante conhecido popularmente por Pirarucu, peixe que em sistemas semi-intensivos de engorda atingem nada menos que oito a dez quilos em apenas um ano de cultivo. Mesmo com algumas restrições quanto à temperatura da água, conseguiríamos introduzi-los em quase todos os Estados brasileiros.
A Tilápia hoje representa quase 60% da produção nacional de pescado cultivado, ou seja, uma produção superior a 430 mil toneladas de carne, dando ao Brasil o título de quarto maior exportador de Tilápia do planeta, inclusive exportando Tilápia para a China, que é a maior produtora de carne de tilápia, com uma produção em torno de 1.900.000 quilos/ano.
Temos esperança que o atual governo reforce as medidas protetivas de nossa fauna em relação à introdução de espécies originárias de outros continentes e que possamos contar com as verbas necessárias para as pesquisas visando a conservação da biodiversidade dos peixes continentais brasileiros, em especial os ameaçados de extinção e para as espécies destinadas à produção de proteína animal em larga escala.
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