A fome, a doença e a guerra. São estes os três maiores fantasmas a assombrar a humanidade desde seu início. Muitas vezes ao longo da História eles vieram juntos, um como consequência do outro. Dessa vez, porém, a doença veio sozinha. Mesmo porque, há guerras demais em curso e legiões de pessoas no mundo todo passando fome, como sempre, infelizmente.
Nós, pessoas comuns, sem muito poder, sem muita fortuna, ficamos aqui, dentro de casa pensando. Mergulhados na nossa quarentena e na ilusão de que o mundo sairá melhor dessa. De que seremos melhores e mais generosos, sobretudo os que têm mais. Nesse momento de pandemia, tem gente pensando em como se dar bem, em como ganhar mais em cima de tudo e de todos.
A ilusão do poder, que mascara a transitoriedade da vida, é uma das forças mais poderosas que servem para embaçar nossa visão e disfarçam nossa condição. A peste negra na Europa e Ásia, em 1330, que estima-se ter matado mais de 200 milhões de pessoas, não serviu para transformar a humanidade nessa essência que a gente pensa.
Nem outras pandemias e catástrofes. Nesse período na Inglaterra, quatro em cada dez pessoas morreram, com mais de 1 milhão de mortes. A cidade de Florença, na Itália, tinha 100 mil habitantes antes da peste. Ao fim dela, passou a ter 50 mil apenas. E a peste nem de longe foi a pior das pandemias registradas. Nem a gripe espanhola, que eclodiu em plena Primeira Guerra Mundial, de 1918 a 1920 e matou mais de 50 milhões de pessoas.
Podem ter sido em número de vítimas. Mas muitas outras ainda mais trágicas vitimizaram a América, Austrália e outras localidades com a chegada de colonizadores vindos da Europa. Sem saber, trouxeram doenças infecciosas para as quais os nativos não tinham anticorpos. O resultado foi a morte de mais de 90% de populações inteiras. Com o tempo, fomos ficando mais vulneráveis a epidemias e pandemias graças ao aumento das populações e da ampliação dos meios de transporte.
Em paralelo, porém, os avanços sem precedentes da ciência, em especial da medicina, na descoberta das curas, tratamentos e dos procedimentos preventivos nos fizeram menos vulneráveis. Hoje, sabemos a natureza do inimigo que estamos combatendo e com antibióticos, higiene, quarentena, conseguimos em curto período vencê-lo.
Mas daí esperar uma mudança na essência humana, para a construção de um mundo mais generoso e igualitário, parece uma ideia ingênua demais. Mesmo com toda nossa fé, cada um com a sua. Por isso, mesmo com toda nossa fé, será difícil ver algo se transformar depois que tudo isso passe. Hoje, o mais importante é fazer nossa parte para que isso passe e desejar que o outro faça também.
A doença, a guerra, a fome sempre estarão por aí, rondando, ameaçando, assombrando a frágil humanidade que somos nós, habitando a superfície de um planeta minúsculo iluminado por uma estrela média na periferia de uma das bilhões de galáxias existentes no Universo. Há tempos, milhares de anos, sonhamos com esse “despertar da humanidade”. Mas vai ser tudo igual.