Milhares de alunos e professores se viram em uma nova situação ao terem que encarar as aulas online. Com o passar dos anos, as novas tecnologias foram ocupando espaço maior para os estudos, até mesmo dentro de sala de aula, mas a internet, até então, era vista como um complemento e hoje se tornou o ponto central para quem não quer parar no tempo e ter prejuízos na busca pelo conhecimento. Porém, outros impasses vieram à tona: educadores que não têm tanta facilidade com os recursos e alunos que ainda não têm a uma rede.
Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada no dia 29 de abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. O que representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede.
Quase a metade das pessoas que não têm acesso à rede (41,6%) diz que o motivo para não acessar é não saber usar. Uma a cada três (34,6%) diz não ter interesse. Para 11,8% delas, o serviço de acesso à internet é caro e para 5,7%, o equipamento necessário para acessar a internet, como celular, laptop e tablet, é caro. Para 4,5% das pessoas em todo o país que não acessam a internet, o motivo é o serviço não estar disponível nos locais que frequentam.
ENSINO
Além da defasagem no acesso à internet, a professora Quédima Carlevaro de Souza, de 25 anos, destaca ainda outra dificuldade, a relação professor-aluno. “Não sou muito fã de aula online, prefiro mil vezes o presencial, ver as crianças, poder perguntar o que tem dúvida ou não e olhar no rostinho dela para ter certeza que entendeu”, declara a educadora que atua no ensino fundamental I.
Ela observa que tudo que é passado agora é adaptado e gera uma dúvida se é suficiente ou se está difícil. Até mesmo para quem transmite o conteúdo. “Algumas vezes a gente ‘apanha’ um pouco de algumas coisas na plataforma ou nos recursos tecnológicos, mas estamos aprendendo muito rápido a lidar com tudo”, relata; e lamenta: “o acesso às aulas online se mostra e caminha em passos de tartaruga, pois muitas crianças não têm acesso e condições para isso”.
Mesmo com as atuais alternativas, o prejuízo será inevitável, avalia a educadora, mas que talvez possa ter o lado positivo. “O ensino à distância veio reforçar que nada substitui o professor em sala de aula. Não dá para medir nesse momento as consequências geradas, mas elas vão ser enormes”, observa.
PREPARO
A estudante do 3º no do ensino médio Julia Marino Buso, de 18 anos, compreende que é um momento difícil, que exige compreensão, paciência e calma, pois é algo novo que transformou todas as ações, até mesmo as mais cotidianas. “Por conta das novidades e até mesmo desse novo ‘território virtual’ que não havia sido explorado até então, as dificuldades aparecem diariamente, contudo nada insuperável”, disse ao Diário do Rio Claro.
Para acompanhar a nova fase, a aluna teve que adaptar também sua rotina. “Durante as manhãs eu tenho presenciado as aulas online, são quatro/cinco por dia, os orientadores nos fornecem atividades que devemos fazer e enviar até certa data. Durante a tarde, eu estudo o que foi passado em aula, fazendo resumo e realizo as tarefas passadas”, conta.
Apesar de não ser o melhor recurso, a jovem tem se dedicado para agregar ao máximo com a experiência. “Acredito que estudar sem a orientação de um professor é completamente diferente, é uma sensação de não saber como e por onde começar, o que acaba levando a procrastinação e até mesmo a certo desânimo. Com as atividades virtuais e aulas online conseguimos não perder o ritmo, é óbvio que não há comparações com as aulas presenciais, porém ajuda de uma forma absurda quando possuímos uma direção.”
Julia agradece o empenho dos educadores, mas entende que a realidade é bem diferente para outros estudantes. “Infelizmente, na atualidade em que vivemos muitos não possuem acesso ou apresentam certa dificuldade na utilização de tais meios tecnológicos, talvez por falta de experiência ou do aparelho em si. Existe uma grande desigualdade quanto a isso, acredito que sempre existiu, a quarentena foi apenas um meio de repararmos e pensarmos sobre o assunto”, avalia.
ENEM
A decisão de adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 era esperada e teve uma grande mobilização para se tornar real. Sendo assim, em função dos impactos da pandemia do novo cornonavírus o Ministério da Educação (MEC) decidiu adiar a realização das provas. “O adiamento do ENEM foi uma grande conquista dos estudantes, levar a voz àqueles que não têm é essencial. Entretanto, mesmo com o adiamento do ENEM, a desigualdade permanece, pois quem tem condições continuará estudando e quem não é privilegiado permanecerá na desvantagem”, lamenta a estudante Julia Marino Buso.
O cronograma inicial previa a aplicação do Enem 2020 impresso nos dias 1º e 8 de novembro. Já os participantes da versão digital, fariam a prova nos dias 22 e 29 de novembro. Para definir a nova data, o Inep promoverá uma enquete direcionada aos inscritos do Enem 2020, a ser realizada em junho, por meio da Página do Participante. “Não deveria nem ser imaginado em não adiar, a educação no Brasil já possui uma desigualdade enorme e nesse momento não será só de conteúdo, mas de preparo psicológico, que afeta muito na hora de você realizar uma prova com tanta pressão externa”, observa a professora Quédima.
As inscrições do ENEM foram prorrogadas e seguem abertas até às 23h59 de quarta-feira (27). Segundo o Ministério da Educação, mais de cinco milhões de estudantes já se inscreveram até a sexta-feira (23).
AULAS
Como medida de segurança, as aulas na rede estadual de São Paulo começaram a ser suspensas desde o dia 16 de março. No dia 19 de março a Secretaria Estadual da Educação homologou a deliberação aprovada pelo Conselho Estadual que permitiu atividades realizadas por meio de EAD (ensino a distância) aos alunos do ensino fundamental e médio, durante o período de suspensão das aulas. A medida é uma forma de garantir as 800 horas de atividades escolares obrigatórias por lei para que se cumpra o ano letivo, que foi retomado nas escolas estaduais do estado de São Paulo no dia 27 de abril por meio de aplicativos.
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