Políticos de Limeira não queriam permitir a autonomia do povoado de Rio Claro em 1845, alegando incapacidade dos líderes locais, que acabaram vencendo a disputa. Rio Claro tornou- -se município em 7 de março de 1845. Seguiram-se as eleições dos primeiros sete vereadores e a posse em 9 de novembro do mesmo ano. Fotos em retrospectiva.
O COMEÇO
Limeira havia incorporado Rio Claro quando os dois povoados tornaram-se independentes de Piracicaba em 1842. Os fazendeiros rio-clarenses, porém, tendo em vista interesses políticos próprios, não aceitaram passivamente a dependência. Logo entraram em disputa com as lideranças da cidade vizinha. Três anos depois Rio Claro tornava-se município autônomo.
A disputa
O episódio não foi tranquilo. Houve bate-boca, mal estar, mútuas acusações. Em correspondência a superiores políticos de São Paulo e mesmo do Império, as partes se estranharam. Os cartolas de Limeira alegavam que os pretensos líderes de Rio Claro eram incapazes para a administração pública. Diziam que a população local estava sendo ludibriada por eles, falsos líderes interessados em política apenas por questões pessoais.
AUTONOMIA
A separação dos municípios tinha grande significado. A autonomia implicava na demarcação de terras e divisas, recolhimento de impostos, execução orçamentária e gestão política com influência regional. Na prática garantia a eleição de vereadores e instalação de um governo próprio. Naquela época não existiam prefeitura e prefeito, novidades que só viriam com a República. Durante o Império cabia aos vereadores governar a cidade. O vereador mais votado exercia as funções equivalentes a de chefe do Executivo.
LÍDERES LOCAIS
Três políticos de peso na região tinham interesse em organizar o colégio eleitoral de Rio Claro. Eles eram Nicolau Vergueiro, um dos mais importantes políticos do Brasil, Estevam Cardoso de Negreiros e Antonio Paes de Barros, peso pesado na história do interior paulista.
Sem demora os rio-clarenses elegeram seus primeiros sete vereadores. As urnas eram instaladas na igreja. Na abertura era celebrada missa. Os votos eram trazidos preenchidos de casa. Analfabetos podiam votar. Não havia título de eleitor. Fraudes eram rotina. Vivos votavam com nome de mortos. Várias vezes. As eleições municipais eram diretas. Para deputados eram indiretas.
PRIMEIRO GOVERNANTE LOCAL
O futuro Visconde de Rio Claro, José Estanislau de Oliveira, foi eleito presidente da Câmara Municipal. Pelo trâmite legal, ele teria que ser diplomado, juramentar e tomar posse em Limeira, origem do poder a ser transferido para os rio-clarenses.
Pelo clima de disputa pesando na atmosfera, ele se recusou a participar da solenidade. A situação foi resolvida com procuração sua passada ao professor Tito Corrêa de Mello. Assim aconteceu. O procurador lá foi, cumpriu a liturgia do poder e tomou posse em nome de Estanislau.
Instalada a Câmara Municipal com Tito elaborando as atas, os vereadores contrataram os três primeiros funcionários e deram início à principal exigência para a organização política de um povoado, a elaboração do então chamado Código de Posturas. O documento foi concluído e publicado vinte e um anos depois.
Imagens
Instalações da Câmara Municipal desde 1845.
Vereadores de 1930 e a atual Câmara Municipal com o presidente André Godoy.
Por J.R.Sant´Ana