O futebol brasileiro deixou de ser grande, dentro das quatro linhas, não porque os jogadores desaprenderam a jogar. Isso até que não. Até que se vê atualmente, um craque aqui, outro ali. Em proporção muito menor, é verdade, do que se via até meados da década de 1990. Mas, por aqui, ainda surge gente talentosa com a bola nos pés.
A questão crucial é: O sentimento de amor pelo futebol é que está em falta. O futebol tornou-se meio de vida, oportunidade de ascensão social e de obtenção de status. Não que não fosse em tempos idos. Mas, antes de tudo isso, vinha o prazer, a alegria de jogar futebol, a vontade de competir e vencer. De gritar gol e sair correndo para o abraço dos companheiros de time e de encontro à torcida.
Havia brilho nos olhos de uma criança quando da primeira vez que se deparava com uma bola de futebol. Hoje, isso não existe mais. A bola foi substituída pelo celular, que ocupa o tempo todo da criança, para a satisfação e tranquilidade dos pais, cada vez mais ocupados.
As novas gerações querem tudo pronto. E no que diz respeito ao futebol não é diferente. Os aspirantes a craques, por exemplo, esquecem que tudo tem um início. Há um caminho a percorrer, batalhas a serem vencidas, que demandam dedicação e esforço até que o objetivo final que é a profissionalização e uma carreira de sucesso seja alcançado.
O futebol brasileiro deixou de ser grande e belo, na sua essência, quando aqueles que o amavam deixaram os gramados, por conta do tempo implacável para com todos. E podemos citar alguns, os primeiros que veem à nossa lembrança, Gérson, Zico, Sócrates, Leão e Rivelino, Falcão e Ademir da Guia.
E outros, simplesmente, saíram de cena, dos palcos da bola e da vida. Telê Santana, por exemplo, e Denner, talvez o último gênio aqui surgido, de carreira e vida tão precoce. E que dizer de Garrincha, o anjo das pernas tortas, na feliz definição do mestre incomparável da palavra escrita, Ruy Castro. E cito esses, com a saudosa lembrança de Pelé e Zagallo, que nos deixaram recentemente. Pessoas que amavam o futebol realmente. E é isso o que falta hoje em dia ao futebol brasileiro. Quem de fato tenha amor por ele, e não apenas quem se beneficie dele. Futebol tornou-se negócio, sim, é verdade. Contudo, mesmo um negócio, qualquer que seja, necessita ser tratado com amor, ou terá vida efêmera, por melhor eu seja sucedido.
Aquele craques de bola, que amavam o futebol, eles faziam a diferença, encantavam, não apenas porque tinham nos pés a arte de jogar futebol e de viver futebol em nível de excelência. Era um sentimento que as vinculava ao maior e mais importante dos esportes, e que tem faltado às gerações mais recentes, falta à atual e tudo indica, faltará às futuras gerações. E não é só no futebol. Infelizmente.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Retro Calcio