Novos gênios? Há aos montes por aí, é claro, mas não aparecem porque não entendem de marketing.
O mundo parece não ter mais tempo nem paciência para ver um gênio florescer. A aceleração impede novas Marie Curie, Emmy Noether, novos Picassos, Mozarts, Einsteins, entre tantos e tantas, de surgirem e serem reconhecidos como tal. É o fim do culto aos gênios. Mesmo os póstumos, ao estilo Van Gogh, estão com seus dias contados. Em boa medida demos lugar à celebridade efêmera, ao culto da fama pela fama, sem muito conteúdo que valha a pena.
O tempo curto, em que comprimimos as 24 horas de um dia com nossos afazeres, e uma vida aceleradíssima, tem impedido o reconhecimento de grandes talentos, seja na música, na ciência, artes plásticas, ou seja, em ramos de atividade humana que dependem de um pouco mais de reflexão.
Parece que ninguém quer pensar muito. Hoje o negócio é ver, tentar absorver e correr. Veja por exemplo, antes da pandemia, como eram os roteiros de visitas a grandes museus. São poucos os que param por alguns minutos em frente a uma obra de arte.
Estamos demais acelerados. Tanto que, para frear essa velocidade imensa com que fazemos as coisas, mais e mais pessoas se utilizam dos calmantes. É o culto ao Rivotril. E o Brasil está entre os países que mais consomem esse tipo de medicamento.
Testemunhamos a transição crucial do período industrial para a era da informação, quando o que vale é a máxima “Lidere, siga ou saia do caminho”, do Ted Turner. E agora, o que dizer dessa bobagem, quando nossa maior luta é pela vida, e em manter vivos os que amamos em meio a uma trágica pandemia.
O Peter Drucker, papa da administração moderna e primeira pessoa a chamar o momento em que estamos vivendo de Era da Informação, expõe claramente esses tempos que vivemos e que poucos entendem.
A predominância do setor de serviços em oposição ao industrial leva cada vez mais à valorização de quem tem conhecimento que interesse a outros. Mas o destaque para o bom, o maior, o gênio se comprometeu. Ou alguém aí consegue citar, sem pensar nem buscar no Google, três grandes cientistas da atualidade? Ou ainda um ou dois grandes pianistas contemporâneos? E por aí vai.
O que há é uma espécie de homogeneização das atividades e uma corrida pela especialização. É o culto ao MBA e à pós-graduação como pré-requisito para tudo no mercado.
Em tempos anteriores, quando os agricultores e funcionários domésticos passaram a trabalhar na indústria, eles não precisaram de nenhum conhecimento específico para isso.
Afinal, apertar parafusos era mais simples que as atividades que eles já faziam.
A satisfação do aprendizado puro, pelo conhecimento, virou raridade. Agora é tudo aplicado. Instituições de ensino deixam de lado o conhecimento por si só e ensinam aquilo que é aplicado no trabalho. E ponto, treinados para sermos utilitaristas.
É compreensível, então, que nesta nova era, em vias de atingir seu apogeu, não haja muita paciência em nossos olhos para contemplar um potencial gênio, quem de fato faça a diferença naquilo que faz e destacá-lo por isso, como acontecia antes.