Roubei o título desta crônica do escritor José Cândido de Carvalho, que deu este nome ao seu primeiro livro, cujo principal personagem é um tio fazendeiro, Frederico, com o qual morou na adolescência. Visto por todos como comedido e apático, o personagem revela-se inteligente e astucioso na condução dos negócios de sua fazenda, surpreendendo a todos.
É que na quarta-feira, 20 de junho, Frederico chegou em casa de mala e cuia, para passar o feriado de Corpus Christi. Não o fazendeiro, personagem do livro, mas sim meu netinho de quatro patas, seu homônimo.
Este Frederico, que não é fazendeiro, mas inteligente e astuto, também gosta de olhar para o céu, – só é chamado por este nome quando merece bronca – trouxe consigo o som alegre de seus latidos, muitos beijos babados e a agitação que lhe é peculiar.
Fredinho ou Fred, como o chamamos carinhosamente, é um cão muito fofo, pelos longos, de pequeno porte, da raça Lhasa Apso, “filho” de coração de minha filha mais nova: o neto de coração que toda avó gostaria de ter! Mas isto não a livra das cobranças pelos netos de sangue, os quais imagino correndo pela casa, iluminando-a com balbucios, choros e risos.
Mas, voltemos ao “causo” de hoje, que é sobre o Fred. Desta vez ele chegou à noite, bem na hora de meu jantar, espalhando sobre mim a linda e cheirosa cabeleira creme, matizada de caramelo, recém saído do tratamento semanal no pet shop.
É óbvio que não pudemos dividir a refeição para não prejudicar sua saúde. Mas, da sobremesa não escapei: uma pera para mim, uma pera para o Fredinho, cortada em pedacinhos em seu prato de frutas – guardado especialmente para ele – lambido até o fim…
Além do imenso amor que sinto por este neto de quatro patas, o que me leva a escrever sobre ele é sua astúcia e inteligência, valores comuns aos Fredericos da vida. Quando me sento ao sofá para descansar, ele logo se ajeita do meu lado e me cobre de lambidas, beijos babosos que nem sempre agradam, principalmente quando acabei de sair do banho, ainda rescendendo a sabonete e shampoo.
O Fredinho adora uma brincadeira de fazer cócegas, e se revira todo sob minhas mãos, fingindo mordê-las, rosnando suavemente, como arrulhos de pombos quando se recolhem ao ninho ao anoitecer. Pura astúcia para ganhar carinho…
Mas nem sempre tudo são flores. O pequenino gosta de bolas e desafios. Sempre traz consigo alguma, de sua coleção, carregando-a na boca como uma foca, para que jogue para ele pegar, lá no fim do corredor.
Quando se cansa, Fred vai para um dos cantos do sofá e fica rolando a bola sobre o braço do mesmo, até que ela caia no cantinho onde ele não alcança. Aí fala comigo em latidos altos e me faz levantar inúmeras vezes para pegá-la no canto inalcançável, só para jogá-la de novo para ele, como fazem as crianças pequeninas com suas avós…
Entretanto, o que nunca deixo de admirar é sua organização na hora de comer, a qual muitos humanos não tem: sobre uma toalha colocada no chão para sua refeição, junta às cumbucas com água e ração sua bola preferida, mais sua maçã ou tomate, bem alinhados em uma perfeita linha horizontal imaginária.
Atitude digna de apreciação e de muitas fotos que confesso já ter providenciado para provar os feitos de meu neto de quatro patas, vó babona que sou: testemunha fidedigna desta inteligência, a qual, sem dúvida, falta a muitos homens que se dizem animais racionais, mas não sabem dividir a bola com ninguém quando são dela detentores.