Pouco mais de 55 anos de jornalismo me mostraram o mundo como ele é: já vi cachorro matando elefante, delegado dando ordem de prisão a boi no pasto, passarinho ciscando na boca do jacaré, carro novo mais barato que o velho da mesma marca e categoria, bilionário com nome e capacete de viking passando uma temporada na cadeia.
E, se não vi o título mundial do Palmeiras, não foi por desleixo: é dificílimo enxergar o que não existe.
Mas nunca imaginei ver a Folha de S.Paulo e o Grupo Globo acusados de comunistas – Octávio Frias e Roberto Marinho jamais pensariam em integrar o grupo de comunistas formado também por O Estado de S.Paulo – alguém terá imaginado o dr. Júlio de Mesquita Filho, sempre impecavelmente vestido, conspirando com desleixados bolcheviques petistas? – e notáveis como Fernando Henrique, José Serra, Mário Covas, ao lado de banqueiros da mais seleta estirpe, Cândido Bracher, George Soros – que, ao que imaginam seus detratores, move-se silenciosamente pelo mundo tentando implantar o regime comunista, aquele no qual toda sua fortuna será confiscada.
Soros deve gostar de correr riscos: se o trabalho não der certo, na certa ele será punido por seus camaradas; se der certo, sua fortuna irá para o Governo, que comprará sítios e apartamentos para os governantes, mas que estarão em nome de outros.
Mas quem é que entende o que se passa na cabeça desses comunistas?
Quem manda e quem faz
Um jornal de qualidade não discrimina por ideologia as pessoas que contrata. Essa história de que o jornal tem um jornalista antipetista ou petista deve ser verdadeira (todos têm), mas não tem sentido. O jornal segue a linha da direção. Se alguém fugir a ela, cai fora.
O principal editorialista de O Estado de S.Paulo era dirigente comunista, da total confiança de Júlio de Mesquita Filho. Roberto Marinho disse a líderes militares que não se metessem com O Globo: “Dos meus comunistas cuido eu”. A Folha tinha Oswaldo Peralva, ex-dirigente do PCB; Ricardo Kotscho, do PT; gente da Libelu trostquista.
E eu, que não era de esquerda. Peguei uma época boa, em que esquerdista estudava. E aprendia com eles.
Cuidado com pesquisas
Pesquisa é ótimo: serve para orientar a campanha do candidato. E só. Quem acha que seu favorito vai vencer ou perder por causa da pesquisa se engana. Há uma foto clássica: o presidente americano Harry Truman, reeleito, mostrando o Chicago Daily Tribune com a manchete “Dewey derrota Truman”. Brigar com pesquisas, acusar institutos de falsear números, é perder tempo: melhor é usá-lo em busca de novos eleitores.
Cuidado
E é preciso, no caso de pesquisas, verificar se foram mesmo feitas. Uma instituição americana, a University of Southern California, de Los Angeles, apareceu como autora de uma pesquisa que dava Bolsonaro como vitorioso no primeiro turno, com mais de 60% dos votos. Só que a pesquisa era falsa: a USC não fez pesquisa alguma sobre as eleições no Brasil..
Grande frase
Do jornalista Chico Bruno: “Esta é a eleição presidencial em que os líderes querem reeditar o passado – ou o remoto ou o mais recente”.
Racha de esquerda
A senadora Kátia Abreu, que foi ministra de Dilma e é candidata a vice de Ciro Gomes, abriu fogo contra o candidato petista Fernando Haddad. Katia, líder ruralista, virou amiga de infância de Dilma e não a abandonou nem quando ficou claro que seria afastada do poder. E foi o comportamento de Haddad no impeachment de Dilma o alvo de Kátia: “Fernando Haddad é o fujão covarde do impeachment”. OK, ele não se mexeu para salvar a presidente eleita por seu PT.
Mas não fez isso por mal: tem dificuldades para tomar posições (tanto que até hoje precisa ir a Curitiba, visitar Lula na cadeia, para saber se deve tomar café com açúcar ou adoçante); e, mesmo quando recebe as ordens do Chefe, não é exatamente uma pessoa prática. Kátia não pode exigir que todos, como ela, queiram defender seus aliados.
Os ricos comandam
O professor Luiz Carlos Bresser Pereira, diz o site gaúcho Espaço Vital (www.espacovital.com.br), quer Abílio Diniz, ex-Pão de Açúcar, hoje Carrefour, no apoio a Haddad no segundo turno. Bresser foi ministro da Fazenda de Sarney e trabalhou com Diniz no supermercado.
A número 1
A surfista carioca Maya Gabeira acaba de entrar no Livro Guiness de Recordes: foi reconhecida pela Liga Mundial de Surfe como a mulher que surfou a maior onda já registrada na História. Maya pegou uma onda de 20m72 cm, na Praia do Norte, Nazaré, Portugal, no dia 18 de janeiro. A demora no registro se explica: o Guiness Book confirma todos os detalhes.
Por Carlos Brickmann
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