Daqui a 100, 200 anos, se houver mundo até lá, muitos terão tentado repetir os seus feitos, mas muito dificilmente alguém terá conseguido. O Rei está morto. Pode parecer incoerência que, em um esporte coletivo, cujas equipes são formadas por 11 jogadores, haja um rei. Porque, muito corretamente, o bom senso sugere que jogo não se ganha sozinho. Mas acontece que Pelé, o rei do futebol, com sua técnica refinada, que tornava o futebol uma arte admirável com a bola sob os seus pés, com seu destemor, que o fazia enfrentar e vencer adversários violentos, nos tempos em que ainda não havia o rigor das regras, dos cartões amarelo e vermelho, com sua ousadia que lhe permitia inventar no calor da disputa, dribles e jogadas, tidas como novidades pelos preguiçosos dos tempos atuais, que se recusam a deitar os olhos ao menos um instante sobre a história, Pelé reinava nos gramados do Brasil e do mundo.
Descrevê-lo em números é redundância. Autor de mais de 1200 gols, três vezes campeão mundial de seleções e duas vezes de clubes. Títulos a perder de vista, com o Santos FC, a Seleção Brasileira e os Cosmos New York, equipes pelas quais atuou de maneira brilhante por décadas, durante uma carreira iniciada em 1957, aos 16 anos e que duraria até 1977, quando pendurou as chuteiras.
Artilheiro por décadas de campeonatos brasileiros e estaduais, eleito atleta do século XX, admirado por doutos e ignorantes, por lúcidos e loucos, seu nome, Pelé, era sinônimo de futebol. Era e continuará sendo, agora, para sempre.
O Edson Arantes do Nascimento, homem, cidadão, pai, marido, eleitor, pode ser contestado. E deve sê-lo. Porque todo deus tem um quê de mortal. E Pelé deve tê-lo. Mas, o atleta Pelé, só os muito mal intencionados, sedentos por holofotes e um minuto de fama, se ocupam de fazê-lo.
Para este Rei, que encerra sua trajetória por este mundo, não será certamente, estendido tapete vermelho, nem haverá salva de canhões, talvez não haja um minuto de silêncio, nem vela de sete dias. Não é necessário.
Pelé teve e terá o que nenhum outro rei teve, a admiração, o respeito e o carinho dos súditos, digo, dos torcedores, daqueles que sabem realmente apreciar o bom futebol, bonito, vistoso, bem jogado, com muitos gols, valente.
Em poucas palavras, Pelé é e será sempre a síntese de tudo isso. Os súditos do Rei Pelé, não precisarão deitar flores sobre sua campa, eles poderão saudá-lo, revendo seus feitos memoráveis e inesquecíveis com uma bola nos pés, nos registros que os deuses da bola, sabiamente e, já sabendo por antecipação a grandeza dos feitos de seu mais legítimo representante, souberam providenciar no tempo devido, para que Pelé se eternizasse na mente, na memória e nos corações dos torcedores de futebol de todo mundo.
Vida longa ao Rei, no coração de todos nós, amantes do futebol arte, que jamais iremos esquecer de quem mais nos encantou.
O Rei Pelé, maior jogador de todos dos tempos, faleceu ontem aos 82 anos.
Foto: Hannibal Hanschke/Agência Brasil