Eduardo é nome de rei, tanto quanto Edson. Ou melhor, guardadas as devidas proporções. Esse Eduardo a que me refiro, entretanto, era mais que um rei. Era o homem sorriso. Eu o conheci de modo inusitado.
Ele era aquele senhor que nos idos de 1970, 80, 90 ficava com seu radinho de pilha, a camisa social pra fora da calça, atrás do gol da Santa Casa, menção essa que só velista de quatro costados vai entender, me perdoem os menos atentos e não versados nas lides futebolísticas.
Ficava lá, desde a abertura dos portões do estádio Benitão, olhos atentos no campo, e ouvido grudado na transmissão das emissoras de rádios locais.
Informava os torcedores ao seu lado sobre as substituições que iam sendo efetuadas ao longo do jogo, quem entrava no lugar de quem, e sobre as opiniões dos comentaristas, com as quais nem sempre concordava, e para qual jogador havia sido dado o cartão amarelo, o vermelho, o nome do juiz do jogo (aquele safado, sem vergonha), dos bandeirinhas (e as finadas senhoras suas mães), enfim, estava a par de tudo.
Era das coisas que mais me chamava atenção, quando ainda garoto, eu ia assistir aos jogos do Rubro-Verde da Rua Três, na companhia de meu saudoso pai, confortavelmente instalado em uma das cadeiras cativas do estádio Benitão, um luxo para a época.
Depois, já mais crescidinho, lá pelos meus 20, 21 anos, tornara-me torcedor de alambrado, onde ficava-se mais próximo dos jogadores, e podia-se ouvir o que eles falavam e os árbitros também. Coisas que, o leitor vai me desculpar, mas são a maioria delas, impublicáveis.
Foi ali que conheci e fiz amizade com seu Eduardo e seu sobrinho Marcos Francisco. E era ali, também, atrás do gol da avenida 19, o gol da Santa Casa, pendurados no alambrado, o qual, algumas vezes, quase arrancávamos a dentadas, que além de nós, outros fiéis torcedores como o Charles, o Sergião da locadora de vídeos, o cara que trabalhava no Fórum, o cabideiro, o verdureiro, o guarda do DER, porque torcedor velista é assim, é povo, nós sofríamos com as derrotas e vibrávamos com os gols e as vitórias do Velão.
E quando o Velo de todos, mas, em especial o do Seu Eduardo, aliás, o nosso Velo, fazia gol, ele erguia e balançava os braços, segurando firme com a mão o inseparável radinho de pilha.
Quisesse encontrá-lo bastava dar uma passada no Jardim Público, logo pela manhã, e lá estava o Seu Eduardo, sempre disposto a um bom bate papo sobre algum assunto do momento. E sorrindo, sempre. E não se conversava com ele mais de um minuto sem que ele fizesse alguma menção ao seu querido Velo Clube ou nos oferecesse uma balinha que sempre trazia no bolso.
Corinthiano, além de velista, sabia as escalações, as mais antigas, do alvinegro de Parque São Jorge, na ponta da língua. E de outros clubes, também. Lembrava de jogos e de lances memoráveis com a maior facilidade.
Aos domingos, frequentava as missas da igreja de São Benedito. E à tarde, exímio pé de valsa, ia a bailar nas tardes dançantes da Sociedade Veteranos, da qual era dos frequentadores mais assíduos. Sempre passava por lá, durante a semana, geralmente no período da tarde, para uma conversa agradável e um cafezinho.
Ex-ferroviário, chegou a vender enxovais na juventude, com seu amigo Valtinho, percorrendo as cidades do interior paulista, onde colecionou histórias e fez amizades. Era pessoa afável, sempre alegre e disposta a ajudar.
Num mundo como o nosso, onde se busca a todo custo cinco minutos de fama, fazem falta pessoas assim, como o seu Eduardo Menchini, simples e humildes, amáveis, e sempre dispostas a ajudar e sorrir.