Muitas prefeituras de vários estados brasileiros adotaram a introdução de alimentos de alto valor proteico na merenda escolar, dentre os quais, o peixe trouxe um grande ganho nutricional.
A tilápia nilótica, introduzida no Brasil em 1972, vem sendo cultivada em todas as regiões com grande sucesso. Segundo dados da EMATER/PR, somente na região Oeste do Estado do Paraná, em 1996, a área em lâmina de água era de aproximadamente 2.000 hectares, com cerca de 4.000 produtores rurais envolvidos economicamente na piscicultura. A mesma região conta com cerca de 22 unidades de processamento de pequeno e médio portes e algumas artesanais, todas destinadas a produção de fi lés. A capacidade diária de abate chega a 25 toneladas, totalizando 6.120 toneladas por ano.
Com relação à parte comestível, foi obtido um rendimento na forma de fi lés de 33% e um grande percentual (9,5%) de carne remanescente nas aparas e no esqueleto após a filetagem, que pode, por meio de processos mecânicos, ser recuperada, podendo elevar, de acordo com os resultados, para 42,5% o rendimento. Além da produção de filés, pode-se viabilizar na indústria, alternativas promissoras como a produção de polpa ou até mesmo a produção de pasta básica de pescado, também chamada de surimi.
A produção de surimi e produtos a base de surimi surgiu no século XII, quando os pescadores japoneses perceberam que pasta de carne de peixe poderia manter-se em boas condições por mais tempo se fosse repetidamente lavada e misturada com sal, açúcar e cozida no vapor ou em água.
Porém, a produção comercial de surimi iniciou no século XIX, mas somente em 1910 sua produção experimentou rápido crescimento, devido a um aumento da oferta de matéria-prima, em consequência de novas tecnologias de pesca (desenvolvimento de redes). Devido a isso, o número de fábricas aumentou, mas a capacidade de cada planta permaneceu pequena, porque a produção era manual e dependia praticamente da mão-de-obra familiar. Além disso, o suprimento de matéria-prima era realizado diariamente em pequenas quantidades devido a dificuldade de conservação do pescado. Com o desenvolvimento de indústrias produtoras de gelo, transportes e comunicações, o suprimento de matéria-prima para indústrias mais afastadas dos portos pode ser realizado.
Um segundo período é caracterizado no pós-guerra até os anos 60. Durante a segunda guerra mundial a produção de surimi chegou praticamente a zero em 1945, entretanto, depois da guerra, a produção começou a crescer gradualmente e em 1952 atingiu a mesma produção de antes da guerra. A partir de 1953, o desenvolvimento da indústria se deu rapidamente devido ao desenvolvimento da salsicha de peixe. O crescimento deste setor deveu-se a demanda pelo consumidor, ao suprimento estável de matéria-prima e a longa vida de prateleira do produto.
O terceiro estágio, o do surimi congelado iniciou em meados de 1961 e vai até 1975. A produção de salsicha de peixe e produtos a base de surimi aumentaram de 509.000 toneladas em 1960 para 796.000 toneladas em 1965, com um recorde de 1.187,000 toneladas em 1973. Este crescimento deu-se principalmente devido a uma abundante e estável oferta de matéria-prima na forma de surimi congelado.
As principais vantagens de utilizar a polpa de pescado em relação ao pescado filetado, são a diminuição dos custos pelo maior rendimento em carne, a possibilidade de aproveitamento de diversas espécies e a vasta linha de produtos que podem ser comercializados como fishburger, nugget, salsichas, empanados, bolos pasteurizados e enlatados, patês, tirinhas de peixe (fish stick) e mesmo, os concentrados protéicos. A polpa, utilizada como matéria-prima na elaboração de algumas formulações, já está, inclusive, sendo comercializada em diversos municípios brasileiros, visando atender à merenda escolar, com excelente aceitação pelas crianças.
Atualmente a captura de pescado vem mantendo-se constante num patamar de aproximadamente 90 milhões de toneladas anuais. Estima-se que anualmente são descartados entre 20 e 27 milhões de toneladas de pescado inteiro ou na forma de rejeitos da indústria de filetagem. Essas perdas podem ser minimizadas pelo correto aproveitamento industrial do pescado. Diante desse cenário, o surimi se apresenta como uma saída para o aproveitamento de subprodutos da indústria pesqueira ou mesmo de espécies que não apresentam tamanho adequado para comercialização.
Em Rio Claro e região temos várias empresas de médio e grande porte que comercializam peixes congelados, além de dezenas de pisciculturas e pesqueiros que poderiam fornecer a matéria prima para a produção do surimi, uma alternativa para o enriquecimento nutricional de nossas crianças.