O circo do desgoverno nas cidades do interior
Num espetáculo de ineficiência, as cidades do interior assistem ao desfile contínuo de uma gestão pública que mais parece um número de mágica fracassado. Enquanto os habitantes clamam por serviços eficientes, transparência e uma administração moderna, as velhas práticas de cortina de fumaça persistem, impedindo o crescimento e desenvolvimento tão desejados.
O palco da incompetência é vasto, mas eis que surge uma possível solução: o Balanced Scorecard (BSC). Uma ferramenta de gestão estratégica que, ao contrário das promessas vazias dos políticos, já provou sua eficácia em outras partes do país. No entanto, quem disse que os gestores municipais estão dispostos a abandonar suas antigas artimanhas?
O valor dos serviços públicos, ou melhor, a falta dele, é a verdadeira piada de mau gosto. Educação, saúde, transporte e segurança tornaram-se sinônimos de descaso. Ao contrário do setor privado, onde o valor é quantificado em cifrões, no setor público, o valor é uma abstração perdida na burocracia ineficiente e na falta de compromisso.
A Emenda Constitucional 19/98 tentou injetar princípios como acompanhamento de resultados e controle de qualidade na veia da administração pública. Contudo, esses princípios foram rapidamente ignorados em prol das velhas práticas de maquiar números e esconder a realidade por trás de relatórios bonitos.
Eis que surge o BSC, uma luz no fim do túnel? Experiências bem-sucedidas em outros órgãos públicos indicam que sim, mas estamos falando de uma gestão pública que tem medo da própria sombra. A satisfação do cidadão é a última coisa que importa nesse circo, onde as métricas são distorcidas para atender aos interesses de políticos preocupados apenas com a próxima eleição.
Em pleno ano eleitoral, é preciso perguntar: qual é o plano para transformar a máquina pública em algo além de um grande espetáculo de ilusionismo? As palavras de campanha são bonitas, mas as ações são risíveis. Enquanto isso, as cidades do interior permanecem reféns de uma gestão que não consegue ver além do próprio umbigo.
A gestão pública eficaz depende da transparência e da responsabilidade, duas palavras que parecem não fazer parte do vocabulário dos gestores municipais. É chegada a hora de quebrar as correntes que limitam o potencial das cidades do interior. A revisão contínua da estratégia, a adaptação às necessidades sociais em evolução e o uso de ferramentas como o BSC são urgentes para uma administração pública que almeja algo além da mediocridade.
É um chamado à ação, embora saibamos que, para muitos gestores, a única ação que interessa é a que garante a continuidade no poder. As cidades do interior não podem mais se dar ao luxo de serem reféns desse espetáculo de horrores. A população merece uma gestão pública que não apenas prometa, mas que cumpra, que não apenas aspire, mas que realize. Será que o BSC é a chave para desvendar o potencial inexplorado ou apenas mais um truque de ilusionismo para distrair a plateia?
Antonio Archangelo é pesquisador, gestor e professor.
Referências:
Felix, R., Prado Felix, P., Timóteo, R. (2011). Balanced Scorecard: adequação para a gestão estratégica nas organizações públicas. Revista do Serviço Público Brasília, 62(1), 51-74.
Perdicaris, P., Formoso Junior, A., Maia Nogueira, J. M. (2009). Limites e desafios do uso do BSC em organizações públicas: O caso da prefeitura de Porto Alegre. II Congresso Consad de Gestão Pública – Painel 13: Enfrentando as dificuldades de mensuração de desempenho no setor público: experiências em curso no Brasil, Brasília/DF. Disponível em: ttp://www.escoladegoverno.pr.gov.br/arquivos/File/Material_%20CONSAD/paineis_II_congresso_consad/painel_13/limites_e_desafios_do_uso_do_bsc.pdf Acesso 15.jan.2024.
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