Construído no final do século XIX (com linhas arquitetônicas consideradas, à época, as mais belas da cidade), possui porão e alas laterais de um pavimento, e entrada lateral; envasaduras com vergas retas e tímpano, e vergas em arco pleno; janelas de vidraça de abrir com bandeira e escuro e de venezianas; na cobertura, cimalha, platibanda com estatuetas e ânforas.
Em terreno de 5.000m2 (objeto de permuta entre a Câmara Municipal e Francisco Gomes Botão Rangel, que cedeu a área por imóvel onde fora construída a antiga Casa da Câmara e Cadeia, atual Fórum), frente para avenida cinco, contíguo às ruas cinco e seis; fundos para avenida sete, antiga Rua do Hospital, confrontava com imóveis de Benedicto Chagas e sucessores de Felício Leonardo.
Apresenta alas laterais de um pavimento; entrada lateral; balcão corrido e sacadas com guarda-corpo de ferro; portões e gradil de ferro, modenatura em apliques de estuque. O acesso ao casarão dava-se por um magnífico pórtico ornado por duas enormes figuras de galgos, em fina louça, de paradeiro incerto. No frontispício, as iniciais L. B. R. – Luisa Barreto Rinaldi, sobrenome de seu terceiro marido, Pascoal Affonso Rinaldi (morto em 1889, antes do término da casa, sem filhos, que lhe deixou considerável fortuna; irmão de Miguel Arcanjo, dono de casa bancária). É sabido que havia um miradouro (de quatro metros quadrados por sete metros de altura) junto à esquina da rua seis, em dois lances; do superior aberto eram assistidas as comemorações realizadas no Largo da Matriz.
Luisa Carolina de Oliveira Barreto nasceu no Rio Grande do Sul, em 1838. Filha de Andre Jezuino de Oliveira Barreto e D. Thereza, casou-se naquela Província com João Tolentino Tavares Menezes. Viúva jovem, bela, vivaz e muito inteligente, abalada pela repentina morte do marido, aqui se radicou, contagiada pela simpatia, pelo céu azul e o ar puro da cidade, como declarou o Jornalista Aloysio Pereira. Em segunda núpcias foi casada com o Capitão Francisco Gomes Botão Rangel (lavrador, comerciante, procurador do Theatro São João, de maior fortuna na região de Rio Claro, viúvo de D. Anna Novaes, com quem não teve filhos).
Com sua morte, em 18 de junho de 1879, D. Luisa tornou-se a exclusiva proprietária de fazendas, chácaras, terrenos, imóveis, centenas de milhares de sacas de café beneficiadas, dezenas de escravos, casas, jóias, obras de arte e móveis… No Cemitério São João Batista está o túmulo do Capitão Gomes Botão e de Pascoal Affonso Rinaldi, em mármore carrara, com bela escultura, defronte o mausoléu do Visconde do Rio Claro, com os epitáfios: “Aqui repousão os restos mortaes de Francisco Gomes Botão são as reliquias venerandas pª aquelle que foi sua esposa pela gratidão de amor e amparo que recebeu”; “Jaz n’este repouso eterno os restos mortaes d’aquelle que em vida chamou-se Pascoal Rinaldi/ Tributo de saudades/ de sua esposa/ Luisa B. Rinaldi”.
D. Luisa teve marcante atuação na vida da população rioclarense. Fora testemunha dos novos tempos da cidade: as inaugurações das Igrejas de São João, de Santa Cruz, Presbiteriana e Luterana; dos Cemitérios Municipal e Evangélico; do Gabinete de Leitura; da Philarmônica Rioclarense; do Chafariz do Largo da Matriz; da Luz em arco voltáico; do Matadouro Municipal; da Estação Ferroviária; do Jornal Diário do Rio Claro (do qual era assinante); da Santa Casa de Misericórdia (instituição que sempre colaborou com donativos); esteve nas recepções ao Imperador D. Pedro II e à Imperatriz D. Thereza Christina; fez campanha para arrecadar fundos para os voluntários da Guerra do Paraguai; amparou órfãos e alforriou seus escravos antes mesmo da assinatura da “Lei Áurea”.
Lamentavelmente, sem tino comercial, com inúmeras Letras protestadas, D. Luisa viu seu incalculável patrimônio esvair-se; em extrema miséria, não possuía dinheiro nem crédito para a aquisição de mantimentos e medicamentos.
O sobrado foi alienado ao engenheiro Egon von Frankenberg und Ludwigsdorff imigrante alemão, convidado a ocupar o cargo de gerente (pela Família Arens, com laços de parentesco) da usina “Central Elétrica de Rio Claro”.
Sobre sua desgraça, revelou o inesquecível e saudoso Historiador Midiel Christofoletti …“Minha mãe viu por duas vezes, ao cair da noite a Luíza embrulhada num chale, pedir um prato de comida na casa do Miguel Rinaldi, seu cunhado e irmão do terceiro marido”; …“Minada pela fraqueza, sozinha, cabeça talvez prenhe de lembranças, mas jamais reclamando do seu infortúnio, foi então carregada para o Hospital…”
D. Luisa faleceu em 15 de dezembro de 1918, aos oitenta anos, na enfermaria de indigentes da Santa Casa de Misericórdia. Há notícias de que seus restos mortais foram inhumados no túmulo dos seus maridos, muito embora não haja inscrições na lápide.
Em 1914, o sobrado e os terrenos anexos, assim como alguns dos bens do espólio do Dr. Frankenberg, foram a pregão. O terreno da avenida cinco com a rua seis foi arrematado pelo banqueiro Agesisláu Nocite e o da avenida cinco com a rua cinco foi adquirido por José e Rosa Castellano. O sobrado foi comprado por vinte contos de réis pelo Sr. José Ribeiro de Almeida Santos Filho, representante da comissão governamental que lá iria instalar a superior “Escola de Pharmacia e Odontologia de São Paulo”.
Com uma subvenção mensal de quinhentos mil réis, outorgada pela gestão do Prefeito Ignacio de Mesquita Corrêa, a escola funcionou por um ano, mas descumpridas cláusulas do contrato, o estabelecimento de ensino passou ao domínio municipal e foi utilizado como quartel pelas Forças da União. Em 1818 foi criada a “Escola Profissional Masculina”, dirigida pelo Professor Armando Bayeux da Silva.
Colaboração: Anselmo Ap. Selingardi Jr. – Perito Judicial em Arqueologia e Documentação Histórica (Inscrição: N. 1417-SP)