Normalmente, como se diz ao final do espetacular filme “A outra história americana”, quando fazemos uma citação é para dar lastro a uma opinião, para reforçar nosso argumento ou mesmo para se admitir, de forma sutil, que alguém já disse aquilo que você quer dizer, ou que aquilo que você pretende informar ou transmitir já foi feito melhor por alguém.
Assim, sempre citam o aforismo de algum filósofo, o verso de algum grande poeta, a letra de uma canção, ou mesmo trecho de algum filme ou livro – como fiz acima. Já falei neste espaço dos mais variados e importantes personagens da cultura brasileira (Tom Jobim, Roberto Carlos, Chico Buarque, Milton Nascimento), e quando citei outros de valor muito menor ou quase nulo (Annita ou algum jornalista oportunista), foi de forma crítica.
Hoje, cito a atriz outrora global e ora “digital influencer” que dá título a este texto. Quando, não me lembro se ano passado, ela revelou via Instagram que estava se separando de Pedro Scooby, ela falou algo que me tocou profundamente, pela humildade de se dizer aquelas palavras e, sobretudo, pela veracidade e realidade delas.
É verdade que as atitudes e palavras posteriores de Piovanni com relação ao ex e ao fim do casamento foram inversamente maturas e sinceras, mas de todo modo corrobora o poder de suas palavras quando daquele post.
Grifo: “Casamento é para os fortes. Mas nem sempre se é, se está ou se consegue ser forte. Eu não consegui”.
Nunca vi, e aí talvez venha a surpresa do leitor, nenhum pensador ou compositor condensar tais ideias de forma tão concisa quanto Luana Piovanni foi capaz nesta postagem. Vinícius de Moraes – pudera, casou 9 vezes! – chegou apenas perto. Sem ironia, nenhuma, aqui.
Há uma expressão na língua inglesa que diz “they said”, ao final de alguma frase. Geralmente, é uma referência a algum ditado popular, ou de alguma expressão usada para antecipar algo, geralmente em tom de crítica. Assim, incluindo-se o “they said” (eles disseram) após a citação, torna-se uma ironia. “Disseram que seria de outra forma”, “Disseram que tal coisa aconteceria”, enfim.
Antes de eu me casar, “eles” disseram — e sempre dizem — que isso, aquilo e aquela outra coisa aconteceriam no meu casamento. Raramente falam coisas boas. É estranho, mas é isso mesmo. “Crise dos 7 anos”, “depois que casa tudo muda”, “perde-se o encanto”, etc. Eles disseram. E “eles” foram muitas pessoas, dos dois gêneros e de várias idades e estados civis.
De fato, essas pessoas estariam mentindo se dissessem que o casamento seria sempre maravilhoso, um mar de rosas, 100% bom. Mas isso eles jamais diriam, mesmo. No entanto, o casamento é uma aventura de autoconhecimento, uma grande experiência de autodesenvolvimento e uma grande jornada partindo de si mesmo.
A gente se conhece profundamente, e talvez seja justamente isso que decepcione muita gente com o casamento, no fim das contas. No entanto, quando nos conhecemos, também aprendemos aquilo em que podemos melhorar, onde e como, mas sobretudo ganhamos um motivo. Descobrimos uma razão pela qual podemos e devemos melhorar. Descoberto o motivo e a forma para melhorar, caberá somente a nós mesmos fazermos isso.
Ao falar que é preciso ser forte para se encarar (ou enfrentar?) um casamento, não se está dizendo que só quem se casa é mesmo forte, nem que quem não o faz, ou que se separa, é fraco. Pelo contrário, e agora encerro citando o apóstolo Paulo, que disse isso em outro contexto e com outro propósito, mas que ilustra perfeitamente: “regozijo-me nas fraquezas (…) Pois quando sou fraco é que sou forte”.
Um beijo na minha amada esposa e um voto de Feliz 2020 a você, querido leitor, seja você casado ou não.
Foto: Diário do Rio Claro