As voltas que o mundo dá. Há 40 anos, a introdução de uma das matérias da saudosa revista Manchete dizia: “Um garotinho bebendo Coca-Cola na grande muralha talvez seja o símbolo máximo da conquista da China pelos Estados Unidos”.
Na China de 40 anos atrás vivia-se a abertura para o Ocidente promovida pelo líder Den Xiao Ping. Segundo a matéria assinada pelo jornalista Justino Martins, as mulheres vestindo saias rodadas ensaiavam os primeiros passos de rock, orientadas por jovens americanos.
E a criançada dava um rolê de skate entre uma Coca-Cola e outra. Os bailes públicos, promovidos pelo governo comunista chinês, era visto pelos mais conservadores como uma submissão à decadência social americana. Jovens chineses num ato de rebeldia escreviam nos muros de Pequim: “Faço amor com quem eu quiser”.
Nada mal se pensarmos que, no Ocidente, houve tempo em que era preciso peticionar à sua Majestade para ter relações sexuais. Ao menos é o que nos informa os alfarrábios digitais tão em moda.
Quarenta anos depois, o parafuso deu lá suas voltas, e parece que a China é que conquistou os Estados Unidos. Se não no aspecto cultural e na introdução de hábitos e costumes orientais na sempre descolada e inventiva sociedade americana, mas, certamente, no financeiro.
Mas o papo é outro. Dizia um anúncio da mesma finada revista que já naqueles idos de 1979, havia uma preocupação quase obsessiva para tratar de obesidade, ao menos é o que indicava o 1º. Simpósio Internacional sobre o tema, realizado no Rio de Janeiro, com a devida reprovação de bares e choperias, segundo alguns colunistas sociais da época.
Percorrendo as páginas da extinta Manchete, que era, por assim dizer, uma mistureba de Veja com Caras, descubro que era no Morro do Sapo que o famigerado Esquadrão da Morte fazia as suas desovas. Naquela oportunidade, haviam sido apenas 3, mas os números atualizados informavam um total de 199 execuções. Números modestos se comparados aos praticados hoje por milícias e facções do crime organizado.
Mas não era só de sangue a que se reportava a revista, que tinha o visionário Adolfo Bloch à sua frente. Enfim, pude ver a cara do primeiro bebê de proveta. Porque naquele 1979, então com 10 anos de idade, não tive a satisfação. Tratava-se de um bebê lindo, loirinho e sorridente de nome Louise Brown, então, com 8 meses de vida. Falava a matéria de seu passeio na Disneylândia (bebê de proveta americano são outros quinhentos, meu caro!) e do nascimento dos seus primeiros e lindos quatro dentinhos. Que bonitinhos!
Há 40 anos, o Márcio Braga era presidente do Flamengo (grande coisa!), e a bola com a qual se jogava futebol nos campos do Brasil, era a Drible. Por falar nisso, algum barrigudo inveterado leitor de revistas e jornais, contando mais de 60 primaveras, se lembra, por acaso, que o ministro da Comunicação Social, há exatos 40 anos, se chamava Said Farhat? Mande cartas para a redação.
E a companhia Varig dizia aos seus passageiros num sugestivo anúncio de página inteira: “Somos mais que bons amigos”. Devia ter dito isso também ao governo da época. Ao menos enviado um Telex. Quem sabe teria tido melhor sorte.
Sim, as voltas que o mundo dá! Já dizia o filósofo Nércio Praxedes, 2019 depois de Cristo. Morreu semana passada. Pobrezinho! Foi enterrado às 3 da tarde. Pouca gente no velório. Pessoas inteligentes e que ousam pensar são evitadas nesse país de sábios, mesmo depois de mortas.
Folheando, folheando e plagiando o Jota Flores, chego à página 28, ainda com a xícara de café na mão, aquele ar de menino curioso, o óculos caído sobre o nariz. E me deparo com o Dr. Sardinha, também conhecido nas horas vagas como Jô Soares, o humorista, matéria de capa, inclusive, naquela edição, e seu encontro memorável com Delfim Netto, então ministro da Agricultura.
Ah, te peguei, hein, desatento leitor! Pensou que eu iria dizer Planejamento, né? Danadinho! Nem vou mencionar o teor da conversa. Mas, imagine caro leitor, que ambos os gordinhos falaram muito sobre abobrinhas e pepinos.
Bom, eu tinha muito mais coisa pra escrever, mas espaço de menos. Paro por aqui antes que o copidesque me risque do mapa, digo, do jornal. Copidesque? Ainda tem isso? Em 1979, ainda tinha. Não é, dona Vivian?
Por ora, ademã, que eu vou em frente, já dizia o finado Ibrahim. Até.