No ano de 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder no Brasil dissolvendo todas as “Casas Legislativas” do país e nomeando interventores nos Estados da Federação, com a promessa de realizar um governo provisório e logo organizar eleições.
Ocorre que já estava no ano de 1932 e nada havia nesse sentido, fato que gerou uma grande manifestação popular pela elaboração de uma nova Constituição, apoiada pela elite cafeicultora de São Paulo, que também estava descontente com a perda de poder e com os rumos tomados por Getúlio.
Durante a manifestação ocorrida na Praça da República com Rua Barão de Itapetininga no Centro de São Paulo, no dia 23 de maio daquele ano houve a morte dos jovens manifestantes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (isso explica a origem da sigla MMDC), fato que foi o estopim para o início da Revolução Constitucionalista que se deu no dia 9 de julho, quando o Estado de São Paulo declarou guerra a Getúlio Vargas.
O maior expoente da Força Pública no combate foi o então Coronel Júlio Marcondes Salgado, o Comandante Geral da época, o qual perdeu sua vida no Campo de Santo Amaro (Aeroporto de Congonhas atualmente), durante um teste com morteiros fabricados pelo Exército Constitucionalista, sendo o militar promovido “post mortem” ao Posto de General, atualmente dando nome ao município de General Salgado, situado na região de São José do Rio Preto e também batizando o 5º Batalhão de Polícia Militar do Interior sediado em Taubaté/SP.
A Revolução Constitucionalista em Rio Claro
A cidade de Rio Claro teve participação ativa no movimento, cabendo destacar o funcionamento de município de uma das “Casas do Soldado” locais preparados especialmente para que os combatentes se alimentassem e se higienizassem e retornassem a batalha. Também merece destaque a preparação e reparo dos trens militares, a partir das oficinas da Cia Paulista, tanto que houve o bombardeio de um importante entroncamento ferroviário próximo ao Horto Florestal de Rio Claro, por aviões do “Regime Varguista” visando impedir a circulação de trens de transporte de tropas e de insumos de guerra rumo ao Vale do Paraíba, onde se concentrou a maior parte do conflito.
Campanha “Ouro para o bem de São Paulo
Para arcar com os custos da guerra foi lançada a campanha “ouro para o bem de São Paulo” que consistia na doação de barras, peças de ouro e até alianças, sendo tudo armazenado na Associação Comercial de São Paulo, e após 3 meses, com o fim do conflito, e rendição dos paulistas, São Paulo temendo o confisco dos bens efetuou doação de todo o montante para as Santas Casas, que inclusive utilizaram dos recursos para cuidar dos feridos e doentes de guerra. Nossa cidade também registrou a baixa de três cidadãos rio-clarenses durante o conflito: Domingos Massulo, Benedito Carlos Brunini “Carlito” e Othoniel Marques Teixeira, sendo que este último dá nome a principal praça existente em Rio Claro o “Jardim Público”, tendo os três combatentes seus nomes eternizados no monumento ao Soldado Constitucionalista situado na entrada do Cemitério Municipal da Saudade.
Fim do conflito
No mês de outubro de 1932 o conflito se encerrou podendo-se dizer que não houve vencedores, pois numa guerra todos perdem, o Governo de Getúlio Vargas foi por um lado declarado vencedor, porém sentiu que a resistência de São Paulo e sua capacidade de mobilização popular não poderiam ser desprezadas e no ano de 1934 o objetivo dos paulistas foi atingido com a elaboração de uma nova Constituição, fato que foi considerado como vitória do movimento constitucionalista de 32, reconhecido como a data civil mais importante do Estado de São Paulo, culminando no ano de 1997 com a criação de lei estadual, declarando o 9 de julho como feriado em todo território paulista.
Fonte: Coronel PM Luiz Eduardo Pesce de Arruda – Historiador Militar
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