Vai incomodar algumas pessoas. E quiçá, incomodasse muito mais. O que eu duvido. Afinal, as pessoas não leem e quando leem não entendem, nem mesmo um simples aviso por escrito em uma repartição pública, quanto mais se interessariam por dissertações filosóficas como essa. Mas, vamos lá. Enquanto a vida nos der tempo e oportunidade, estaremos nessa trincheira.
Dia desses me deparei com a seguinte indagação em uma rede social: Quem frequentava a discoteca do Grêmio Recreativo, nos anos 1985, 1986? Presente, eu teria dito, se estivesse na sala de aula. Mas escrevi alguma coisa, nos comentários, que depois apaguei e da qual agora tento me lembrar. O leitor saberá mais adiante se terei conseguido.
A coisa, porém, ficou guardada em algum recôndito da minha mente. E o leitor bem sabe que, quando alguma coisa nos incomoda, queremos nos livrar dela, resolver logo a parada. Os escritores fazem isso escrevendo. As pessoas comuns, entretanto, se livram da coisa de outros modos, menos dignos, e, alguns, inconfessáveis.
Vejamos se me lembro exatamente, o que escrevi naquela página chamada Rio Claro das Antigas, no Facebook. Vejamos…
Eu era sim, sócio e frequentador do Grêmio Recreativo. E, quem não era, naquele tempo, esperneava e fazia birra. E, de certa forma, tenho saudades. Inclusive, daquele tempo. O país vivia terrível crise financeira, que parecia sem solução. Inflação altíssima, o dinheiro não valia nada. Custo de vida elevadíssimo, carestia. Mas, o povo não estava dividido, como agora. As pessoas eram mais amistosas. Sorriam. E sonhavam.
Aos sábados, por exemplo, eu ia pra lá às 9 da manhã – geralmente na companhia de meu amigo Tato, ambos de bicicleta, ele, com sua Barraforte marrom da Caloi e eu com a minha BMX da Monark, preta, já despida dos acessórios, como convinha a quem praticava bicicross, na pista da Avenida Perimetral, atrás do Redher Neto – e voltava do Grêmio, para casa, somente às 5 da tarde.
Comia-se por lá mesmo, uma coxinha ou duas, tomava-se uma Coca-Cola e, tudo bem. Quem se importava em comer com tanta coisa que se tinha pra fazer naquele clube?
Pois é, atento leitor, hoje, os adolescentes, em sua maioria, desdenham do esporte, não sabem o prazer de estar em uma piscina. Nem pertencer a um time de futebol ou basquete e competir em um campeonato oficial. Apreciam música da pior qualidade, querem ter voz de autoridade sobre tudo e todos, com argumentos e certezas que lhe foram impostas, sem pedir licença, por ávidos e sedentos professores/doutrinadores e formadores de opinião, conhecidos como influenciadores de mídias sociais. Reivindicam direitos, todos, se possível, antes de fazerem por merecer, ou seja, de cumprirem com os seus deveres.
Culpa de quem? Em parte deles, em parte nossa, que não soubemos educar nossos filhos, talvez, porque, nunca tenhamos nos preparado para sermos maridos e esposas, pais e mães. Porque, afinal, convenhamos, é muito melhor e mais cômodo ser apenas filho, irmão, sobrinho e neto. Exige menos responsabilidade, corre-se menos risco de frustrações e decepções, quase sempre inevitáveis e, por esse motivo, descartamos, desde sempre, possíveis expectativas que os observadores e especuladores da vida alheia, sempre de plantão, poderiam ter sobre nós.
Mas, tudo isso aqui exposto, é apenas a minha opinião. Cada um tem a sua. E durma bem com ela. O Brasil continua sendo o país do futuro, a pátria do Evangelho, o bobão do planeta Terra, que abdica de suas riquezas, que acolhe a todos que vem de fora e descuida dos seus, sem nenhum remorso ou constrangimento.
Havia corrupção naqueles idos de 1985, 1986? Claro que havia! Porque a corrupção é o mal que afeta a precária e deficiente moral humana, problema para o qual nenhum filósofo ou anunciador triunfante das dádivas divinas, até hoje, deu jeito.
Bem me lembro que falava-se tanto de corrupção nos jornais que se comprava nas bancas, nas rádios e nos telejornais, que as pessoas (eu, inclusive) assistiam à noite, certos de que estavam diante da verdade inquestionável e absoluta, algo que, o tempo mostraria que não. Porque, como muitas outras instituições, tidas como sagradas, dentre elas, também parte significativa da imprensa fez cair sua máscara.
Diante de tudo o que se viu neste país, nos últimos anos, o defenestrado Paulo Maluf, sinônimo de corrupção, àquele tempo, seria hoje considerado um mero batedor de carteiras. Melhoramos? Em nada. Pioramos? E muito. Tanto, que, sempre que possível, procuro situar minha mente e minhas lembranças, naqueles anos de 1985,1986. Pelo menos, ali, eu encontro, o que nem eu e nem muitos brasileiros, possuem mais: Esperança.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto; Reprodução.