O subgênero musical “sertanejo” é totalmente brasileiro. Na verdade, o sertanejo é uma variação ou uma “urbanização”, se é que podemos assim dizer, da música caipira, onde são utilizados instrumentos artesanais e típicos do Brasil-colônia, como a viola, o acordeão e a gaita, algo voltado para o público extremamente rural do Brasil, de acordo com o portal Brasil Escola, que ainda faz a seguinte explanação: “O sertanejo se caracteriza pela melodia simples e melancólica das músicas, bem semelhante à música caipira, talvez um pouco mais dançante e, sem dúvida, mais urbana. Enquanto a música caipira tinha uma temática baseada na vida do campo, os sertanejos mudaram essa temática para agradar o grande público das cidades, adotando temas como amor e traição. Ocorreu o cuidado particular em se evitar o termo ‘caipira’, visto com preconceito por grande parte da população.”
O Centenário, com o desígnio de dissecar este assunto, conversou com relevantes nomes de Rio Claro ligados ao cancioneiro sertanejo e que lutam de modo constante para preservar esta riquíssima cultura, a despeito das dificuldades.
É o caso de Fernando Basso, músico e catireiro que, ao Número 1, fez um pequeno apanhado histórico. “A música sertaneja de raiz surgiu praticamente em 1910. Já em 1929, o empresário Cornélio Pires, também jornalista, escritor e folclorista, além de ativista cultural, apresentou às primeiras duplas sertanejas uma gravadora. Mas ninguém sabe ao certo quem gravou primeiro.
O fato é que, em 1929, por intermédio de duas vozes e ao som de uma viola, tínhamos o primeiro registro da história da música caipira. Depois disso, surgiu, em 1942, a famosa dupla Raul Torres e Florêncio. Posteriormente, Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, dentre outras. Resumindo: a música de raiz tem muita história, mas esse foi o começo, o ‘berço’ da música de raiz”, esmiúça.
Junior Hartung, cantor, compositor e violeiro, ganhador do festival Viola de Todos os Cantos, da Globo EPTV, afiança que nasceu ouvindo a música sertaneja de raiz e identifica-se por completo com ela, uma vez que, segundo ele, “representa a cultura e a história do nosso interior e de grande parte de nosso país.”
Para Hartung, é a representação da cultura verdadeira do sertanejo, da roça, da pureza de versos e prosas, da vida simples do sertanejo nato, matuto, aquele que olha e contempla a natureza e suas nuances, como a lua cheia, o sol nascendo num dia frio, as estrelas, os pássaros, as estações do ano e suas diferenças, os rios, vendo a imensa beleza que existe escondida dentro dela.
“Músicas inspiradas nas grandes jornadas de boiadeiros levando a boiada em lombo de mulas e cavalos, desbravando o alto e bruto sertão”, expõe o artista, que diz se espelhar em Sergio Reis, Renato Teixeira e Almir Sater, que os define como sendo “monstros da nossa cultura musical”.
Hartung enfatiza que a nossa rica cultura não pode ser esquecida e, por isso, defende ferrenhamente essa bandeira. “Sou completamente a favor de novos movimentos, como o sertanejo universitário, mas uma árvore sem raízes não se sustenta em pé”, pondera.
Francisco Bredda, que forma dupla com o irmão Fernando, carrega, além da influência familiar, a das duplas de quem entoam canções até hoje e que, conforme ele, seguraram a bandeira até o presente momento. “E nós vamos tentar segurar daqui para frente, mas, infelizmente, está cada vez mais difícil, porque a mídia não nos dá oportunidade”, lastima.
Bredda ajuíza que, hoje, o público para a música de raiz é bastante restrito. “Não é todo lugar que a gente pode fazer propagar o repertório que gostamos de cantar, mas tentamos sobreviver disso e, na noite, cantamos o estilo tradicional. Enquanto Deus nos permitir, seguiremos. Fazemos porque gostamos, porque amamos”, garante.
Aos 19 anos, Biahh Cavalcante é um dos grandes e novos talentos da vertente em Rio Claro. O sertanejo raiz, para ela, é uma linha a ser cumprida e seguida. “O ‘modão’ não é apenas uma música clássica, o verdadeiro ‘modão’ é aquele que machuca, que fere de uma maneira singela e simples, tanto nas palavras como na melodia”, define a jovem cantora.
Biahh Cavalcante afirma que o sertanejo é a saída de amores e desamores da vida e diz acreditar que não tenha mudado muito nos tempos atuais em relação às letras das músicas, e faz menção ao sertanejo universitário que, em sua visão, demonstra esses sentimentos de uma maneira mais explícita, ao contrário do sertanejo raiz, que demonstra a simplicidade das palavras e das épocas vividas de cada canção, cada sentimento expressado.
“Por mais que eu tenha apenas 19 anos e seja uma universitária propriamente dita, minhas referências musicais são baseadas em uma época totalmente diferente da de hoje, uma época que faz recordar todos os momentos vividos sem ao menos viver nenhum deles. Consigo apreciar costumes que eu apenas escutei através dos meus pais, avós e as belíssimas canções que nos trazem essa época que, na música, nunca acabou e nem vai acabar. Serão eternas”, assevera.
Nilson José Pinhati, que forma dupla com Jorge, além de ser professor de viola caipira há 30 anos, diz que a música sertaneja de raiz, com mais 90 anos de gravações e entre altos e baixos, nunca irá desaparecer, mesmo com tantas mudanças.
“Hoje, ainda nos deparamos na mídia com nomes como Almir Sater e Renato Teixeira, com suas canções regionais”, destaca.
Por fim, ressalta que em todos esses anos ensinado a arte da viola caipira teve muitos alunos e ainda há muita procura com relação ao aprendizado deste valoroso instrumento.