Antigamente era melhor? Que nada! Ontem, recebi do querido primo Emilio uma mensagem via whatsapp, na qual, uma imagem sugeria que as pessoas eram mais confiáveis no passado.
Será? Tenho lá minhas dúvidas. Os antigos falam que acordos, contratos e promessas eram feitas no fio do bigode, sem assinaturas e nem papéis registrados em cartório, e eram cumpridos. Então, porque será que surgiram os tribunais de conciliação?
Penso que a honestidade de antigamente, era mais resultado do medo, imposto pelas autoridades educacionais, militares, religiosas e até civis, do que por consciência e educação.
Tanto é assim, que, nesses tempos de liberdade desmedida, que vivemos, as pessoas facilmente revelam o que são, quando forçadas a expor seu caráter. E a surpresa, via de regra, não é nada boa.
Os tribunais estão abarrotados de processos, muitos dos quais, até prescrevem. Ora, um processo surge quando alguém se vê prejudicado em seus direitos. E não há prejuízo sem autor do delito, e a esse dá-se o nome de ser humano.
Todavia, é inegável que ao longo das décadas do século XX e nesse primeiros anos do século XXI, a sociedade humana aperfeiçoou-se moralmente, ao menos um pouco, mas, progresso houve. A consciência ecológica adquirida, as iniciativas de segmentos da sociedade civil e governamentais para assistência das pessoas mais necessitadas algo que antes, restringia-se apenas às instituições religiosas e filantrópicas, são provas disso.
Ainda há, é inegável, a desonestidade e o egoísmo da classe política, que administra as riquezas produzidas, não por eles, que nada produzem, mas pelo povo que trabalha. Isso será corrigido, quando houver uma maior consciência política por parte da população brasileira, que vê no político um facilitador para obtenção de seus interesses, estabelecendo uma troca de favores imoral e da qual, pasmem, nenhuma das partes se envergonha.
No que diz respeito às relações humanas, costuma-se dizer que, antigamente era melhor. Será? As crianças eram castigadas, por vezes, injustamente, sem direito a reclamar. Os empregados eram explorados pelos patrões. O alimento industrializado, tão necessário a uma sociedade moderna, onde tempo é dinheiro, era mais veneno que alimento.
Na área da saúde, diagnóstico de câncer (palavra que era inclusive evitada o tanto quanto possível, por absoluto pudor) era atestado de morte. Não havia SUS, que pode ainda não ser a oitava maravilha do mundo, mas, assiste as pessoas que não podem, e são muitas, pagar os escorchantes valores de um plano de saúde.
Remédios de uso contínuo para tratar de doenças crônicas, como a diabetes, não havia de graça. As roupas não tinham a sofisticação e o conforto que hoje proporcionam. Os calçados, alguns, assemelhavam-se a verdadeiras ferraduras. Ok, duravam mais. E, por conseguinte, também faziam sofrer mais, os cansados pezinhos de madames e cavalheiros.
O transporte urbano, ora, quantas linhas de ônibus havia numa cidade como Rio Claro? Duas ou três. Bondes pra turma viajar pendurado, nenhum. Charretes e choferes de táxis, eram caros. Uber? Que nada! Então, o jeito era ir de camelo, também conhecido à boca amiúde como, a pé, ou de bicicleta, quem as tinha. Os empregados da Cia. Paulista, eles tinham. Eram os melhores salários à época.
Farmácias, hoje, esbarra-se com uma a cada esquina. Antigamente, muitas vezes, era preciso acordar o farmacêutico no meio da noite, em busca de um santo remédio, um atendimento emergencial. Políticas públicas? Pergunte isso para alguém na casa dos 80, 90 anos, e ele vai dar risada, certamente. Era cada um pra si e Deus pra todos. Amém!
Por isso que eu não concordo, não senhor, que, antigamente era melhor. Não era, não. Nada era melhor. Nem mesmos os aparelhos eletrônicos, os móveis, os utensílios domésticos, que apenas duravam mais, porém, eram feios pra diabo e de difícil instalação.
Talvez, por haver menos gente e as cidades serem menores, Rio Claro, inclusive, os problemas, na mesma proporção, eram menores, mas, igualmente, existiam.
Fazê-los desaparecerem é tarefa que cabe ao progresso, no decorrer do tempo, conduzido por pessoas de bem, dispostas realmente, a assumirem atribuições e responsabilidades e fazerem algo de bom e verdadeiro, de suas vidas, em benefício de todos, e não apenas de uma parcela privilegiada da população, como tem sido, infelizmente.
Saudade do tempo da vovó? Só da vovó.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Imagem ilustrativa/Reprodução da internet