A bandeira brasileira raramente é ostentada e hasteada em dias comuns, tal ato é recorrente apenas em datas especiais como Copa do Mundo ou no Dia da Independência.
No ensino fundamental, são obrigatórias as aulas sobre os símbolos nacionais, além da execução obrigatória do hino nacional pelo menos uma vez por semana, em escolas públicas e privadas, em conformidade com a lei federal 12.031, de 2009. Isso prova que a maioria dos momentos cívicos no Brasil são realizados por imposição e não de forma espontânea.
Entretanto, neste ano de 2018, os símbolos verdes e amarelos, como bandeiras e camisetas, foram usados com frequência e de forma espontânea por brasileiros. Tendo inicio no mês de Junho, com a Copa do mundo, e seguindo até mesmo nos últimos meses no período eleitoral, com a candidatura de Jair Bolsonaro.
De acordo com Reinaldo Zambone, proprietário da banca da matriz, situada na Praça da Liberdade em Rio Claro, as vendas da bandeira nacional decolaram no período eleitoral. “Inclusive, comparado ao período de eleição, as vendas na época da Copa do Mundo foram fracas”, relata ele. Dessa forma, o Diário do Rio Claro conversou com o analista político Italo Lorenzon para entender sobre o fenômeno patriotismo no Brasil.
Segundo o Analista Político Italo Lorenzon, a candidatura de Jair Bolsonaro foi um efeito e não a causa do tema patriotismo, este que teve
um ressurgimento nas manifestações de 2013 e vem crescendo desde então. “O patriotismo foi um movimento progressivo por parte de uma população que, embora ainda tivesse uma ideia bastante crua a respeito dos problemas do Brasil, sentia-se sub-representada em diversos pontos pelos partidos e demais poderes estabelecidos. Esse processo teve início num momento em que Jair Bolsonaro ainda era um deputado de nicho muito específico, do baixo clero, e sua candidatura era algo bastante insubstancial. De certa forma podemos dizer que esse fenômeno social utilizou-se de Bolsonaro e não o contrário”, explica ele.
Lorenzon cita entre as causas desse nacionalismo, a composição política hegemônica no Brasil depois da constituição de 1988. “O poder foi dividido basicamente entre três partidos: PT, PMDB e PSDB. Os três com suas diferenças fundamentais, mas com histórico de vertentes políticas progressistas. Num país de população majoritariamente conservadora, a inexistência de um partido político ou mesmo de um órgão de mídia, de grande circulação, que represente as suas ideias, fatalmente geraria uma ruptura como a que viemos assistindo”, explica ele.
Para o analista, o patriotismo brasileiro ainda é muito mais ligado à sua geografia do que à sua história. “Temos orgulho dos nossos recursos naturais, das nossas proporções continentais, mas muito pouco conhecimento a respeito de todo o processo histórico empreendido para que o Brasil viesse a existir tal como é hoje”. Lorenzon cita um recente documentário a respeito da vida de José Bonifácio, com o sub-título “O fundador do Brasil”. Para ele, apesar do titulo ser merecido, é espantoso esse ser o primeiro e único documentário dedicado a alguém que foi tão ou mais crucial para a independência do país quanto o próprio D. Pedro I. “Para mim, ao Brasil ainda falta descobrir quem é e não somente onde está”, afirma ele.
Para Lorenzon “há patriotismos e patriotismos”, ou seja, dependendo do grau pode ser benéfico ou não ao pais. “Se por patriotismo entendemos um certo apego ideologizado aos bens nacionais, estamos falando de algo sem dúvida prejudicial a médio e longo prazo. Mas nenhuma nação sobrevive sem alguma dose de patriotismo porque sem ele a comunidade política perde razão de ser”, finaliza o analista.