A pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada nesta semana mostra que 23% dos jovens brasileiros não trabalham e nem estudam.
Eles são chamados de jovens nem-nem.
O estudo “Millennials na América e no Caribe: trabalhar ou estudar?” apresenta uma radiografia da juventude da região a partir de dados de 15 mil jovens entre 15 e 24 anos, moradores de áreas urbanas de nove países: Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Haiti, México, Paraguai, Peru e Uruguai. A pesquisa revela que, em média, 21% dos jovens, o equivalente a 20 milhões de pessoas, não estudam, nem trabalham. Enquanto isso, 41% se dedicam exclusivamente ao estudo e/ ou capacitação; 21% só trabalham; e 17% trabalham e estudam ao mesmo tempo.
Nos outros países pesquisados, os dados apontam o México, com 25% de jovens que não estudam, nem trabalham, e El Salvador, com 24%. No outro extremo está o Chile, onde apenas 14% dos jovens pesquisados estão nessa situação. A média para a região é de 21% dos jovens, o equivalente a 20 milhões de pessoas que não estudam, nem trabalham.
De acordo com o levantamento, são diversos fatores que levam ao cenário, como problemas com habilidades cognitivas e socioemocionais, falta de políticas públicas, obrigações familiares com parentes e filhos, entre outros.
O termo
Mas o termo Nem Nem não pode, segundo a pesquisa, induzir ao julgamento que que os jovens são ociosos e improdutivos, já que 31% deles estão procurando trabalho, principalmente os homens, e mais da metade, 64%, dedicam-se a trabalhos de cuidado doméstico e familiar, principalmente as mulheres.
O estudo esclarece que a maioria dos nem-nem não são jovens sem obrigações e que apenas 3% deles não realizam nenhuma dessas tarefas, nem têm uma deficiência que os impede de estudar ou trabalhar. No entanto, as taxas são mais altas no Brasil e no Chile, com aproximadamente 10% de jovens aparentemente inativos.
Conforme declarou à Agência Brasil a pesquisadora do Ipea, Joana Costa, os resultados são bastante otimistas, pois mostram que os jovens não são preguiçosos. “Mas são jovens que têm acesso à educação de baixa qualidade e que, por isso, encontram dificuldade no mercado de trabalho. De fato, os gestores e as políticas públicas têm que olhar um pouco mais por eles”, alertou.
EVASÃO ESCOLAR
O Diário do Rio Claro recebeu dados do Conselho Tutelar de Rio Claro sobre a situação de jovens do município quanto aos estudos. O levantamento que envolve evasão escolar e excesso de faltas aponta 631 registros de atendimentos de violações. “O Conselho Tutelar atua através de denúncia, portanto, assim que recebemos a denúncia que a criança e ou adolescente está fora da escola, entramos em contato com os responsáveis através de convocação, realizamos visita domiciliar, orientamos, advertimos, encaminhamos a família à rede de atendimento e, se for necessário, encaminhamos ao Ministério Público e à Vara da Infância e Juventude de Rio Claro”, esclareceu o Conselheiro Tutelar Wagner Botteselli.
CONSEQUÊNCIAS
A psicóloga Andreza Spiller diz que outros estudos apontam o que pode acarretar para o futuro. “O fenômeno ‘nem nem’ pode levar a sérias consequências de longo prazo, sendo essas, a maior probabilidade desses jovens se tornarem desempregados, de usar drogas e álcool, gravidez na adolescência e envolvimento no crime”, avalia.
Ela acrescenta ainda os motivos para a alta evasão escolar. “Conforme o autor Nery, algumas das razões que explicariam o abandono da escola, principalmente quando se refere aos jovens oriundos de família de baixa renda, seriam: a baixa qualidade das escolas, a dificuldade em ter acesso à escola, seja pela falta de transporte ou insuficiência de oferta, a falta de interesse dos pais em acompanhar os estudos do filho, como também a falta de interesse do próprio aluno”, disse.
Uma das saídas, tanto para os pesquisadores do IPEA, quanto para a psicóloga, é a geração de oportunidades para este público. “É propício apontar como alguns dos recursos possíveis para diminuir os números que compõe o grupo de jovens ‘nem nem’; o aumento de programas de qualificação profissional voltados aos jovens com o intuito de reforçar o efeito da escolaridade, permitindo, desta maneira, que um maior contingente de indivíduos ‘nem-nem’ possam sair dessa condição”, finaliza.