Frequentamos por mais de uma década as planícies alagadas do Pantanal Sul Mato- grossense, nas proximidades da rodovia BR-262, entre os municípios de Miranda e Corumbá, mais precisamente em porto Morrinho, não confundir com porto Murtinho, local por onde deslizam as águas do Rio Paraguai, seus afluentes e corixos (canais que ligam as águas de baías, lagoas, alagados etc. com os rios próximos, ou seja, são pequenos rios intermitentes ou não que vem desaguar em outros rios maiores), onde fazíamos nossas pescarias, encontrávamos os amigos e convivíamos com os bichos que frequentemente nos visitavam.
A cada ano notávamos que ficava mais difícil encontrar os cardumes de peixe, pois as fisgadas ocorriam num espaço de tempo sempre maior e os grandes exemplares já estavam virando troféus e não era mais comum serem vistos com algum pescador, pelo menos para os que praticavam a pesca amadora com vara de molinete ou carretilha.
Mesmo com o aumento da fiscalização pela Marinha do Brasil e pela Polícia Ambiental, além da maciça campanha da pesca esportiva, onde o pescador capturava um exemplar de qualquer espécie, dava um beijinho, fazia um carinho tirava uma self para mostrar aos amigos e o devolvia para a água, a quantia de peixes vinha diminuindo.
A diminuição dos estoques pesqueiros foi e ainda continua sendo ocasionada pela pesca predatória onde não se respeitam o tamanho dos exemplares fisgados e nem o período de piracema ou período de defeso (quando os peixes se deslocam de uma região para outra, afim de queimarem suas gorduras e iniciar seu período reprodutivo) ou de desova.
E por último e não menos impactante, as mudanças climáticas que alteram o período de estiagem e o período das águas, em grande parte descontrolados pela ação do ser humano que desrespeita as leis da natureza, desmatando as áreas de preservação permanente, desprotegendo nossos recursos hídricos e para completar, ateiam fogo no campo para fins comerciais e acabam exterminando nossa flora e nossa fauna.
Mas nem tudo está perdido, semana passada tivemos a grata satisfação de receber imagens de um corixo que passou meses sem água, apenas com o solo úmido, onde crescia abundante vegetação, formando um lindo canal verde e que agora vemos as águas se deslizando pelo seu leito principal defronte a residência de nossos amigos Alberto e Gladis, casal de empreendedores que vindos de São Paulo, capital, adotaram o Pantanal como seu novo lar e onde exercem um papel fundamental na preservação deste paraíso.
Foi o primeiro sinal de que a natureza está curando as feridas causadas pelo ser humano, através do desmatamento e das queimadas, pois nem sempre podemos acreditar no que recebemos pela internet, pois há um jogo de interesses políticos e financeiros, muitos se enriquecem com a seca e as queimadas e outros com as enchentes.
Mesmo com esse sopro de esperança, ainda teremos que absorver os danos causados pelas queimadas do ano passado, pois o nível médio do rio Paraguai ainda não atingirá a média desejada até o início da próxima estiagem e com isso haverá um novo desequilíbrio ambiental, pois afetará diretamente a reprodução dos peixes que depende das lagoas marginais cheias de água para que os peixes possam desovar e sua prole se desenvolver até retornarem para os rios.
Motivo pelo qual temos a obrigação de continuar respeitando as leis ambientais e se caso tiver a oportunidade de conhecer esse paraíso da pesca, pratique o “catch and release”, pegue e solte, pois a pesca esportiva é um dos caminhos para que possamos contribuir para a existência de nossa biodiversidade.