“Se o senhor não tá lembrado, dá licença de conta”. Não poderia haver melhor forma de dar início a essa matéria que terá como propósito tentar contar um pouco da trajetória de Narciso
Trevilatto, rio-clarense que integrou o lendário grupo Demônios da Garoa, responsável por imortalizar, dentre tantas, a canção “Saudosa Maloca”, de Adoniran Barbosa, cujos versos iniciais tomei a liberdade de citar na abertura destas mal traçadas linhas. Rio Claro, inegavelmente, é um celeiro musical de desmedida importância. Para citar alguns, Dalva de Oliveira e Dom Salvador, nomes de suma relevância para o cancioneiro nacional. Narciso Trevilatto, a exemplo destes, elevou o nome da Cidade Azul ao mais alto patamar artístico e cultural. Muito gentil e solícito, o músico falou ao Diário do Rio Claro e contou um pouco do muito que fez pela música.
QUANDO DO INÍCIO
Nascido na Rua 9, entre as avenidas 6 e 8, no dia 11 de abril de 1934, teve o seu existir norteado pela música. Apesar de nunca ter feito aulas e cantando desde a infância, Trevilatto, muito cedo, foi aprendendo, por si mesmo, a dedilhar o violão e outros instrumentos como cavaquinho, piano, bandolim e percussões que proporcionaram muitas experiências artísticas em diversos níveis em sua carreira, atuando tanto sozinho como em dupla, trios de vários gêneros musicais, quartetos vocais e instrumentais, grupos de shows e bailes, realizando muitas excursões pelo Brasil e também pelo exterior.
TRAJETÓRIA
Nas décadas de 40 e 50, como cantor, participou de programas da Rádio Clube de Rio Claro e das orquestras Tupi e Excelsior, que abrilhantavam os bailes nos salões do Grêmio aos sábados à noite e as matinês de todos os domingos à tarde. “Em 1954, fiz um teste e fui contratado pela Rádio Nacional de São Paulo (hoje, Rádio e TV Globo) cantando em programas de auditório e estúdio junto aos grandes astros nacionais da época, como Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Cauby Peixoto e muitos outros”, recorda-se Trevilatto, que gravou na Todamerica Discos e RCA.
O ilustre rio-clarense também participou como “crooner” em algumas orquestras que brilharam em muitos salões da capital paulista, além de ter atuado em inúmeras boates e casas noturnas da maior cidade do país nas décadas de 50 e 60.
Já no Rio de Janeiro, Trevilatto participou de programas na Rádio Tamoio e na TV Tupi, que ocupava o cassino da Urca, em 1956, e também na vida noturna. Posteriormente, em 1957, foi convidado a participar do grupo musical Quarteto Imperial, na Rádio Jornal do Brasil, onde se apresentava todos os domingos em um programa exclusivo.
DEMÔNIOS DA GAROA
O convite para integrar este icônico grupo vocal, a “voz oficial” do imortal Adoniran Barbosa, surgiu em 1958. O quinteto, à época, ainda atuava na Rádio Nacional de São Paulo, e fez história se apresentando em rádios e televisões, teatros, boates e clubes no Brasil e no exterior, sempre com extremo êxito. Foi deste modo por muitas décadas. Ao todo, foram 12 anos dedicados ao grupo diretamente, e outros tantos indiretamente. O grupo, hoje, embora modificado, resiste ao tempo e ao modismo “musical” que nos é imposto.
APÓS O GRUPO: DE VOLTA ÀS ORIGENS
Já em carreira solo, Trevilatto realizou uma excursão pelo Chile, onde gravou pela RCA Victor e foi apelidado pelos chilenos de “Príncipe del Bossa Nova”. Após muita viagem e uma vida dedicada à arte e à música de forma plena, casou-se e constituiu família, voltando às suas origens: Rio Claro. No entanto, não abandonou a arte. “Integrei um grupo musical da Secretaria de Esporte e Turismo de São Paulo e um outro grupo de Tatuí, o Grupo Brasília, pela Secretaria da Educação. Ambos foram criados pelo ‘faro’ artístico do nosso grande amigo José Felício Castellano, o Gijo. Esses grupos viajavam somente aos fins de semana e apenas no estado de São Paulo se apresentando em praças públicas ou clubes”, rememora.
Quando da década de 80, formou uma dupla, a Estilo II, com o grande cantor Marco Antonio Fray. Em todas as cidades que se apresentaram, sobravam aplausos. No fim do século passado, já na década de 90 e novamente através de José Felício Castellano, foi contratado pelo Sesi para levar a música brasileira em todo o estado. Assim, foi criado o Grupo Canta Brasil, que alegrou memoráveis bailes da terceira idade. Atualmente, aos 84 anos, Trevilatto, casado com Dora Russo Trevilatto e pai de Paula Cristina, Cláudia Trevilatto Rossetti e Narciso T. Junior, ainda compõe algumas músicas que, segundo afirma, são utilizadas como fundo musical a mensagens edificantes e espirituais que edita ou em vídeos postados através do YouTube.