A felicidade em pessoas inteligentes é das coisas mais raras que conheço, é uma das frases mais conhecidas do escritor estadunidense Ernest Hemingway (1899-1961). É também emblemática, pois, o próprio autor viria a confirmar a sua tese, quando disparou um tiro de espingarda na própria boca, na manhã de 2 de julho de 1961, pondo fim, de maneira trágica, ao sofrimento que impusera a si próprio nos últimos anos de sua vida.
Isso nos leva inevitavelmente a uma questão muito importante. Por que algumas pessoas se destroem a si mesmas, não importa o êxito que tenham alcançado na vida pessoal ou profissional?
O fato de os valores humanos não serem os mesmos que os valores espirituais, seria a resposta? As necessidades e expectativas que a sociedade humana, tal como está organizada, impõe à todos nós, contribuem para que pessoas inteligentes, por exemplo, deem cabo à própria vida? Ou as façam se arrastar de joelhos envolvidas por um vazio existencial sufocante que não lhes dá trégua?
No caso das pessoas bem sucedidas, admiradas e respeitadas por que isso acontece? O que lhes falta? Têm tudo e, ao mesmo tempo, não têm nada. Estariam equivocados os valores humanos sobre os quais se sustenta uma sociedade materialista, imediatista, superficial, hedonista e niilista como a nossa?
Alimentar o humano com suas ilusões efêmeras e matar por inanição, o espírito, de suas reais necessidades, seria o motivo dessas tragédias que acometem pessoas capazes, inteligentes e bem sucedidas?
A falta de perspectiva diante de um caminho que lhes pareça sem volta, a dificuldade de conviver com perdas e frustrações, das quais, ninguém escapa, em mundo tridimensional como este, onde tudo é começo, meio e fim, estaria nisto a resposta?
Há pessoas que buscam fuga nos vícios, como a bebida alcóolica, as drogas ilícitas, os psicotrópicos, atitude infeliz que sempre se revela a essas pessoas uma grande ilusão. Cria-se uma necessidade, e, por consequência uma submissão, da qual, muito difícil é para qualquer um se libertar. Seja a pessoa inteligente ou não.
Porque livrar-se de vícios, hábitos e condicionamentos enraizados, nas entranhas da alma humana, desde muitas encarnações, é tarefa das mais difíceis, porém, necessária e inadiável à evolução espiritual do ser pensante, sensível e capaz, ou seja, cada um de nós, espíritos, vivendo a experiência da vida humana.
Essa é uma abordagem realista da vida. E sem encarar essa realidade e enfrentar essa luta para superar tais dificuldades, das quais, ninguém está imune, a felicidade não passará de ilusão.
Porque a felicidade, que preenche o vazio existencial, que a todos nós acomete, em, algum momento de nossas vidas, é baseada em valores espirituais, que não são exatamente aqueles apresentados, difundidos e valorizados por uma sociedade materialista e consumista, cujas ações humanas, tem por objetivo final a conquista de condição social privilegiada, de bens materiais, e, quando não, de pessoas.
Ganhar e perder faz parte da vida. Sentir o sabor da vitória e da derrota é uma necessidade, assim como aprender a compartilhar e não possuir, bens materiais. É uma necessidade, também, respeitar a individualidade e a liberdade de cada um, e a vontade de cada um, que nem sempre coincide com a nossa.
Aceitar que, no palco da vida, temos o momento de entrar em cena e sair de cena. Como entramos não sabemos. Como saímos, depende do que fizermos a partir da experiências, boas ou ruins, que a vida nos proporcionar.
E a vida vale a pena. Ela é uma grande oportunidade, um grande aprendizado. E quando a encaramos assim, os possíveis dissabores, frustrações e revezes, nós tomamos como alavanca, mola propulsora para o nosso aperfeiçoamento moral e a continuidade de nossa existência, que não se esgota aqui, neste mundo, onde tudo é transitório, nós, inclusive.
O que ganhamos com esse entendimento? Ora, certamente, voltaremos de onde viemos, melhores de quando aqui chegamos, quando a nossa jornada humana, espíritos que somos, terminar. Pense nisso!
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Reprodução