Se você quer ler fantasias, boas palavras e afagos, pode parar por aqui. Às vezes é bom pensar em coisas que a gente evita. É como sair da adolescência e entrar na vida adulta.
Primeiro, o que fazer quando a gente não sabe o que vai escrever? A página em branco, com o cursor piscando na tela do computador, desafia, cobra a fatura como que dizendo: “vai cara, escreve aí algo bem bom para inspirar ou provocar as pessoas”. Pedindo licença a Vinicius de Moraes uso suas palavras: “tem dias em que simplesmente a crônica não baixa”.
Uma primeira crônica do ano, pra cima em alto astral, como assim? Em meio a notícias tão difíceis, como o avanço perigoso da pandemia, com leitos de UTI lotando mais e mais em cada estado, e depois de ver a irresponsabilidade de muitos, lotando praias, festas. Como assim, uma primeira crônica que possa inspirar as pessoas tão cansadas disso tudo? Muitas cansadas de si mesmas em seus confinamentos, outras terrivelmente atingidas com a perda de entes queridos, angustiados por terem alguém que amam internado, e outros atingidos em seus empregos. E um presidente que se orgulha de ser o único negacionista da Covid entre todos os chefes de Estado do mundo. Uma vergonha, pra dizer o mínimo.
De que jeito ignorar quantos brasileiros se revelaram egoístas, inconsequentes, recalcados e infantis em seu “vício” por viajar? Aliás, é irônico ver que muita gente se atola em dívidas no cartão de crédito para ir ao mar, vestindo amarelo no réveillon, pedindo dinheiro e sucesso aos céus. E seguirão passando o ano pagando o que ficaram devendo no início dele. Se pagarem.
Como assim, um texto bonito, carregado de otimismo quando o que se vê é a total falta de empatia, sobretudo de uma classe média e alta metida a besta que só faz olhar para si? Sabem tudo, mesmo sem ler nada, informam-se em suas bolhas de realidade suspensa oferecida pelos algoritmos do Facebook e acham que tudo bem. Seguem felizes, “sempre em dia com o seu atraso”.
Como assim, um texto que lance as melhores intenções sobre a nossa Rio Claro, se o que gente vê é um novo velho governo municipal, e outro que terminou de forma melancólica, virando caso de polícia? Sim, antes que você diga, eu trabalhei, e muito, no governo anterior, e saí antes que tudo desmoronasse, com a consciência tranquila de que não tenho político de estimação.
Como fazer a tela do computador mentir para mim e depois para você que leu até aqui?
Não, não adianta ter esperança, é pouco, é infantil. Não adianta ficar achando que a coisa vai melhorar da noite para o dia. Seja realista! Analise o que tem feito de errado, de quanto egoísmo e falta de empatia você tem e que consegue mudar ao seu redor, já é um bom começo.
Quanta gente angustiada, sem emprego, desalentada. É preciso mais do que nunca que a gente crie vergonha na cara. Essa é a meta, também para mim em 2021. E quanto à nossa cidade, vamos torcer para que dê certo. Mesmo que os prognósticos sejam os piores.
O melhor a fazer nesse começo de 2021 é a gente sair dessa eterna e ridícula adolescência e entrar de vez na vida adulta, encarando com coragem nossos erros, acertos e angústias. Do contrário ter esperança não adiantará em nada.