Equipe do Diário do Rio Claro iniciou o contato com a moradora de Macapá Jaqueline Dias no último sábado (14), infelizmente, com a instabilidade e o caos que a população enfrenta, foi difícil conseguir comunicação ao longo dos dias, isso porque em muitos momentos a população fica incomunicável. Ela mesmo declarou que nos primeiros dias mal tinham noção da grande problemática que estava acontecendo. “Teve o apagão no dia 3 de novembro aqui no Amapá, a gente ficou sem energia, ficamos sem água, sem internet, sem rede móvel, praticamente a gente estava no mudo e ninguém de fora estava sabendo o que estava acontecendo e nem a gente aqui de dentro sabia, porque a energia foi embora no dia 3 pela noite, por volta das 21 horas e foi bem estranho, tudo ficou em silêncio, no escuro, foi complicado, está sendo um caos. E só no terceiro dia que a gente descobriu que foi um problema na Cea, mas não diziam qual problema era esse, que era na subestação. No quarto dia que começou a chegar socorro e gerador”, relatou.
O caos para a população amapaense já dura quase 20 dias. No dia 3 de novembro uma explosão seguida de incêndio foi registrada na mais importante subestação de energia elétrica do estado localizada em Macapá e prejudicou os três transformadores e aí começaram os problemas para toda a população. Segundo informações, de dezesseis cidades do estado, treze ficaram sem energia. E as consequências foram se agravando, como relata Jaqueline. “Nos três primeiros dias tudo muito tenso. A vela que era R$2,50 aumentou para R$8 a R$10, já não tinha mais vela nos supermercados, estava tudo caro, a água que era vendida o garrafão de R$5 foi para R$12. Tinha gente tomando banho no Rio Amazonas porque não estava suportando o calor, porque além de estar no escuro faz muito calor durante o dia. Pessoas tomando água sem tratamento, o índice de pessoas com diarreia, dor estomacal e febre, aumentou, está ocorrendo muito”, lamentou.
Ela também alerta que além desses sintomas a população enfrenta um surto de Covid. “A nossa sorte que o povo da Marinha de fora, viu a situação, fez uma força tarefa de vir para o estado, ficar em Santana e vir cuidar desse povo, fora a Covid, o surto novamente”, disse salientando um decreto do governo do estado que estabelece horários para a população voltar para a casa. “Saiu o decreto do estado dizendo que não podemos ficar na rua após às 22 horas. É um toque de recolher, porque está ocorrendo muito apagão ainda. Fizeram racionamento que era de 6 em 6 horas, passou para 3 em 3 horas e a noite de 4 em 4 horas. Nesse novo rodízio começou a pegar fogo nas casas, começou a queimar eletrodomésticos. A gente está vivendo um caos insuportável, toda hora dizem que vai normalizar e nada. Racionamento não é cumprido no horário certo. Tem bairro que é para voltar 10 horas, aí volta 4 ou 5 horas da madrugada. Tá uma verdadeira brincadeira com o povo aqui em Macapá e a gente espera muito sair desta situação. Fomos descobrir pela mídia o que estava acontecendo em nosso estado, era um caos em cima do outro, a gente não tinha muito acesso a notícia, quem via notícia passava para os outros”, comenta.
ELEIÇÕES
“Não houve as eleições aqui em Macapá, mas em cidades vizinhas sim. Os ônibus aqui diminuíram as rotas também e o tempo por causa dos assaltos que estavam ocorrendo a noite. Quando acontece a falta de energia nos bairros, os bandidos se aproveitam para roubar. Então está complicado. Eu não desejo o que a gente está passando em 17 dias, para ninguém, porque é difícil ver mãe de família pedindo socorro nas redes sociais porque não tem mais o que dar de comer para as crianças, não tem dinheiro, não tem água, não tem comida”, disse.
A esperança é que tudo se normalize logo. “A gente está esperando que daqui para domingo que é o prazo máximo que as coisas se normalizem, que a gente tenha energia 100% e que a gente consiga fazer a eleição. A população está tão revoltada que qualquer um que se aliar ao governo do estado do Amapá ou prefeitura não vão passar nessa eleição. O povo amapaense não está perdoando não. Em vários bairros está ocorrendo manifestação, pessoal começou a colocar pedaços de pau e de madeira, tacaram fogo, fizeram barreiras. O povo não está mais aguentando sem energia, sem água tratada para tomar, fora agora o surto de diarreia que está ocorrendo”, declara, reconhecendo a solidariedade de quem tem ajudado. “A gente agradece muito aos estados vizinhos que fizeram arrecadação de água, de cestas básicas, as influenciadoras daqui também fizeram mutirão, então por mais que a gente esteja passando por tudo isso, ainda existem salva-vidas, anjos que vem nos ajudar e espero muito que as pessoas que fizeram em cima das desgraças do povo sejam responsabilizados. Até os comerciantes maldosos que aumentaram os preços e deixaram a população ainda mais fragilizada”.
A Polícia Militar do Amapá, através do BPRE, Bope e Força Tática, coordenou e executou na madrugada de quarta-feira (18) o translado do transformador de energia para a Subestação localizada na Rodovia Federal. A ação, que contou com o apoio da PRF, iniciou no Porto do Matapi. “Transformador chegou em Macapá, veio do Laranjal do Jaricá, agora tem gerador que vai funcionar com óleo diesel”, comentou Jaqueline.
“Espero que a gente volte a ter uma vida digna, de cidadã nesse Brasil”
Foto: Rudja Santos Amazônia Real