Umberto Eco dizia que a internet deu voz aos idiotas. Inevitável. Todo avanço tecnológico implica necessariamente em uma questão moral. Saber lidar com ela, é o desafio que temos diante de nós. Porque o progresso não para. É inevitável e irrefreável, gostem ou não.
Há duas opções: Dizer bye bye, tristeza, pegar o cachorro, um livro e uma boa garrafa de vinho e se embrenhar mata adentro (se conseguir encontrá-la) ou adaptar-se às circunstâncias. Os sobreviventes costumam escolher a segunda opção. Dos primeiros, geralmente, não se tem mais notícias depois de algum tempo.
O senhor Noris Peterson era filho de um diplomata norte-americano que viera perder-se no Brasil, fugindo da esposa antipática que herdara de um casamento arranjado.
Vendedor de livros aposentado, Noris falava ao telefone, naquele final de tarde com o seu neto. O calor era insuportável, e enquanto falava, bebericando sua generosa dose de uísque das sextas-feiras, zapeava sem grande interesse pelos canais de tevê, os mais de 100, segundo Andressa, sua filha, lhe dissera certa ocasião. Havia também um livro ao alcance da sua mão, no assento do sofá, para cuja capa, vez por outra, ele olhava atentamente.
“Escute, garoto, é o seguinte, preste bem atenção, disse ao neto com grande entusiasmo: Um pé atrás para com essas máximas e pseudos-provérbios disseminados nas redes sociais, por aqueles que vivem em busca de likes e, por conseguinte, fama e fortuna. Em geral, são trechos extraídos de textos complexos e com bastante profundidade filosófica e não representam na íntegra, o contexto da ideia que se pretende transmitir através desses mesmos textos. Quem o faz, comete uma covardia com o autor do texto e uma leviandade com o leitor. Muito cuidado com essas frases aparentemente belíssimas, mas, que, em verdade, são muletas capengas que para nós, em busca da verdade, de nada servem senão nos iludir e fazer com que permaneçamos presos e subjugados à mentira”.
Achou que tinha dado uma tremenda lição de moral no neto, bem ao seu gosto, quando em momentos de grande inspiração. Mas, não foi bem isso. Do outro lado da linha, o neto devolveu-lhe essa:
“E quem está interessado na verdade, velhão?”
Segurou com firmeza o copo que tinha na mão direita e deixou que caísse ao chão, o livro que estava tentando ler quando o seu celular tocou. O título era bastante sugestivo: “O livro das ilusões”.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Reprodução.