Nanocontos
[VI]
O nanoconto número 188 de Jaime Leitão retrata uma situação –“Perdeu o trem e a mulher”.
No caso, porém, soube da história de um homem que perdeu a esposa em virtude de desentendimentos vários e contínuos, e, ao deixar a casa apressadamente, não conseguiu pegar o trem das 18 horas. E porque não podia voltar à casa do casal, teve que esperar até o dia seguinte na estação ferroviária para partir em outra composição. Padece o viajante da angústia.
Para destacar esse momento, reproduzo abaixo o meu poema “A Partida”, que integra o “Canto de Recados”, parte do meu livro “Cantos Diversos”: “Diante do fatídico momento da partida,/ Ouve-se um apito de trem na curva da vida./Fica-se sem saber o que falar ou mostrar./ Tilinta no coração desespero amargo,/ que profetiza dias de pesado encargo: /A funda angústia que no peito teima ficar”. // As pessoas que se agitam na plataforma/ Não sabem dessa dor /Ou sabem? Amorfa/ massa que passa sem nada demonstrar./ Um cristal se instala no olhar divagante/ e impreciso. E nele fica como rocha gigante./Quando estoura é uma lágrima a rolar.//Um sentimento indefinido o peito corrói,/ que nele cresce como dor que muito dói.// O trem parte. Tem-se aguda sensação./ Foi-se o trem. Vazia fica a estação”.
Ao contrário, a mulher, feliz, abre a porta para o amante. Coisas da vida.
O nanoconto número 190- Ascendeu-se. Milagre” está, essencialmente, apegado aos casos extraordinários envolvendo Elias, antes, Enoque, como foram relatados no Livro Sagrado. Subiram aos céus sem provar da morte. Verdadeiros milagres. E só quem tem fé acredita. É o que basta.
O nanoconto número 196 –“Nasceu velho”-tem a força de um aforismo quando se refere àquele jovem que tem conduta de pessoa mais velha, parecendo sempre estar resmungando, observando com regularidade os horários do café da manhã, do almoço, do jantar e de dormir. Não tem alegria para ir a festas e se sente confortável ao frequentar hospitais e velórios.
O nanoconto número 207 – “Saiu do ovo, voltou” – tem tudo a ver com a história de muitos jovens que, saindo de casa para estudar fora, acabam, depois, retornando ao lar dos pais pelas dificuldades encontradas em arrumar emprego que possa torná-los independentes.
O nanoconto número 215 -“Roubou futuros”- está centralizadamente naquela pessoa que leva outra ou outras ao consumo de drogas. O caso emblemático dessa verdade aconteceu com o meu amigo Luis Carlos, também conhecido por Paulista, que teria um futuro brilhante como esportista e, também, como cidadão, se não tivesse enveredado por esse caminho de difícil, ou quase impossível, retorno.
O nanoconto número 218- “Atravessou o nunca” tem pertinência com aquele que morre. Uma vez enterrado, nunca mais irá retornar.
O nanoconto número 223-“Corrupto de marca maior” está completamente de acordo com os dias de hoje. É suficiente que se leia ou ouça as notícias. E nelas estará revelada essa figura nociva ao Estado e à sociedade. Não se declina o nome de qualquer um deles por pura cautela. Ademais, o que é de conhecimento público não precisa ser revelado.
O nanoconto número 248- “O gênio era fraude” – tem muito a ver com a figura quase mítica de antes do Moro ex-juiz, e que, agora, se dissolve em traidor ou mesmo em perseguidor. Mostrou-se fraudulenta a prestação jurisdicional. E o juiz tornou-se uma fraude. Lamentavelmente.
O nanoconto número 251 – “O vereador prevaricou”- não se constitui em novidade, porém , o melhor caminho a tomar é a discrição e não revelar nomes, até porque a fama antecede o indivíduo na comunidade em que ele se situa.
O nanoconto número 268 – O herói era uma farsa” tem muita correspondência com a história de subida e descida do ex-juiz Moro, que podia ser tudo, ou que não poderia ser nada, já por ser, antes, uma farsa.
O nanoconto número 277 –“O gigante falava fino”- diz respeito a um lutador de MMA? Por que não?