Rio Claro, historicamente, é uma cidade com grande propensão de revelar nomes grandiosos para a cultura de um modo geral.
Muito embora haja uma carência assombrosa no tocante à valorização para com esses artistas, pode-se dizer que a Cidade Azul, de modo incessante, segue trazendo à tona valorosos talentos. Hoje, o Diário do Rio Claro dá prosseguimento a algo obrigatório e que se faz imprescindível: fazer chegar ao conhecimento de seus leitores, através de suas páginas centenárias, os prodigiosos artistas da cidade. Desta feita, Leonardo Moita Bertoletti, o Léo Moita, 29 anos, ator, diretor, dramaturgo, assistente de direção, diretor cênico, produtor e professor de teatro.
Procurado pela reportagem do Número 1, Léo, de imediato, aceitou o convite para que pudesse contar um pouco de sua trajetória que, apesar da pouca idade, já é rica e extensa. Léo conta que a primeira peça em que seu multitalento pode ser notado foi ainda no terceiro ano da pré-escola no CVI – Centro de Vivência Infantil, no Sesi Rio Claro. “Fizemos uma remontagem de ‘A Bruxinha Que Era Boa’. Durante o espetáculo, eu mencionava as falas erradas e pedia aos meu amigos e amigas que repetissem a cena, pois o público não teria escutado as falas. Estava ali, dirigindo, atuando e criando dramaturgia em cena”.
Desde 2007, reside na capital paranaense, Curitiba, oportunidade em que passou na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), hoje Universidade Estadual do Paraná (Unespar), no curso licenciatura em teatro. De acordo com Léo, entre os anos de estudo do ensino fundamental, participou das montagens escolares e ajudava sempre as professoras na coordenação dos eventos culturais.
Conforme o artista, também a igreja foi palco de encenações bíblicas e um contato mais próximo com a música. “Fazer algo relacionado a se apresentar, algo relacionado a imaginar outras possibilidades para a imaginação do público, viver estas possibilidades imaginativas e, então, criar, teatralizar, existir na vida desse modo. Penso hoje que essa escolha de vida já vinha se desenvolvendo nessas ações culturais”, pondera.
Há quase 20 anos, em 1999, se inscreveu no Curso Livre de Teatro do Sesi. À época, Fabio Caniatto era o seu diretor, com quem cursou três anos. Em 2002, conheceu nesse curso a nova diretora Claudia Schurmann, arte-educadora que conduziu um trabalho relacionado à formação de grupo e teatro-educação, que o transformou até 2006, quando Léo terminava o ensino médio e se preparava para mudar-se para Curitiba.
“Durante os anos de faculdade, trabalhei em produções artísticas de pequeno e grande porte, conheci pessoas já com um trabalho artístico sólido na capital. Em 2009, com a montagem de ‘O Homem do Banco Branco e a Amoreira’, fiz nascer a Minha Nossa Cia de Teatro, que aglutinava outros amigos rio-clarenses, como Varlei Janei, Bruno Nicoletti, Raul Freitas, Aline Silva, Samara Camara e Felipe Custódio”, relata.
O artista lembra que, de 2011 a 2013, se inscreveu no Núcleo de Dramaturgia do Sesi Paraná, onde foi aprovado e teve aulas de dramaturgia e encenação com Roberto Alvim, diretor e dramaturgo. “A montagem ‘Melhor ir Mais Cedo Pular da Janela’, texto que escrevi e dirigi, obteve certo destaque na crítica teatral. Já seria, então, a segunda montagem da Minha Nossa”, conta.
Ainda em 2013, relata que foi convidado a ser diretor cênico do Grupo de MPB da Universidade Federal do Paraná (UFPR), cargo que lhe abriu portas para outros trabalhos. Esse grupo o acolheu e o impulsionou a ampliar ainda mais suas experiências estéticas, agora relacionadas com o canto coral. Foi preciso, de acordo com Léo, arriscar e pensar outras possibilidades de encenação. “A maestrina Doriane Rossi me impulsionava ir além para criar cenas com um grupo de 20 pessoas, que cantava arranjos vocais da MPB.
Em 2017, o último espetáculo criado, ‘É Preciso Estar Atento e Forte’, me fez idealizar e fazer nascer, para além dos muros da universidade, o Coro Cênico de Curitiba, grupo cênico-musical com mais de 30 artistas que teve sua estreia este ano no Auditório Salvador de Ferrante, mais conhecido como Guairinha, com o espetáculo ‘Pequena Memória para um Tempo Sem Memória’.”
Durantes esses dez anos de Curitiba, ressalta suas participações nas comissões de cultura do município, como titular na comissão do Fundo Municipal de Curitiba (2016-2017), parecerista do 1º Prêmio Arte Paraná da Secretaria Estadual de Cultura (2016) e curador do Festival Internacional Ruído EnCena (2017).
“Foi sempre imaginando outras possibilidades de imaginação, foi sempre sobre viver estas possibilidades, viver profissionalmente o teatro, proporcionar ao público obras que possam abrir os corações, os olhos e ouvidos a sentirem esteticamente outras formas de viver a vida. Outras possibilidades de olhar o mundo”, destaca.
Léo enfatiza que “o conhecimento cultural nos faz ver a vida de um outro modo, nos faz também viver de um outro modo. Nos faz pensar sobre nosso modo de viver em sociedade. Reconhecer nossas raízes, voltar o olhar para os sentidos. Sentir e pensar o ser humano de cada um de nós. A experiência artística nos faz ampliar conceitos e, assim, nos colocarmos no mundo das mais variadas formas e, com certeza, possibilidades de vida mais autênticas do que as já postas.”
Hoje, o rio-clarense afirma que, com a Minha Nossa Cia de Teatro, sua família curitibana, desenvolve o Projeto Cambio, programa de intercâmbio com artistas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. Com a cia, atua nos espetáculos “Primavera Leste” (que esteve em temporada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro), “O Leão no Aquário”, com direção de Diogo Liberano (RJ) e texto de Vinícius Souza (MG), além de participar de outras produções com cias parceiras na cidade. Para o próximo ano, está prevista a estreia de “O Homem Feio”, última peça do projeto.
“Para 2019, com muito orgulho, dirigirei artisticamente a realização do FENATERC – Festival Nacional de Teatro de Rio Claro, ainda em fase de captação através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Assim, promovemos nacionalmente a cidade e possibilitamos novos olhares, novas escutas e novos movimentos, novos encontros culturais com o público rio-clarense”, vislumbra.