As mulheres aos poucos conquistam espaço na sociedade e entram em redutos antes considerados exclusivamente masculinos. É claro que ainda não conseguir conquistar a tão sonhada equiparação salarial em muitos funções, mas há sinais de que em breve isso vai mudar. No cenário político, a representatividade feminina ainda está aquém do que poderia ser e isso se reflete também no setor público, apesar de que avanços com cargos importantes sendo ocupados por mulheres.
Mesmo assim, os governos estão longe da paridade de gênero. No governo paulista, por exemplo, das 24 pastas existentes e uma secretaria especial, apenas seis são ocupadas por mulheres. Além disso, entre 27 governadores no país, temos apenas duas mulheres: Raquel Lyra (PSDB) em Pernambuco e Fátima Bezerra (PT) no Rio Grande do Norte.
Na esfera federal, não é muito diferente. O governo federal tem 26 ministros e 11 ministras. Mesmo assim, o número de mulheres – quase 30% das pastas – no primeiro escalão é recorde na história da República brasileira. As 11 nomeações superam o recorde anterior de oito ministras na gestão de Dilma Rousseff.
Em Rio Claro, das 20 secretarias municipais, cinco são comandadas por mulheres, o que representa 25% do total de pastas. Elas administram setores importantes como Saúde – Giulia Puttomatti, Educação – Valéria Velis, Desenvolvimento Social – Vilma Spricigo, Comunicação – Nathália Spatti e Fundo Social de Solidariedade – Bruna Perissinotto.
O Diário do Rio Claro conversou com as cinco gestoras sobre os desafios e conquistas dos cargos, avanços e lutas, bem como suas percepções sobre o Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quarta-feira, dia 8 de março. Confira abaixo o que diz cada uma delas.
Giulia Puttomatti, presidente da Fundação Municipal de Saúde
Conquistas e desafios do cargo: o que foi destaque em dois anos de gestão
Após mais de dois anos vivendo a pandemia da Covid-19 e todas as suas consequências para a economia e para o Sistema Único de Saúde (SUS) que, apesar de muito resiliente e inclusivo, se depara com questões que ameaçam sua sobrevivência intertemporal, podemos apenas começar mencionando o subfinanciamento e a repactuação das responsabilidades e atribuições federativas do SUS.
Temos um passivo assistencial que precisa ser cuidado e regulado: cirurgias eletivas, sobretudo as de alta complexidade – cuja fila, aqui no município reduzimos em quase 40%, graças ao financiamento municipal e a emendas parlamentares – mas se amontoam em todos os cantos do Brasil. Há filas intermináveis que, como todos sabem, não esperam por vagas e acabam resultando em agravos e urgências, que, em sua maioria, são irreversíveis.
Apesar de todas estas dificuldades, o município de Rio Claro sai na frente na oferta de leitos de baixa e média complexidades com a construção de um hospital público municipal com 60 leitos, dois centros cirúrgicos e oito leitos equipados como UTI.
O Hospital Público Municipal será referência em nossa microrregião, em especial, como Hospital Escola, onde os alunos do curso de medicina do nosso parceiro Centro Educacional Claretiano poderão desenvolver suas atividades de residência e de estágio, sob orientação de médicos professores. Isso trará uma melhora na capacidade de oferecer atendimento à população, reterá talentos e gerará empregos, renda e investimentos na cidade.
Atualmente vivemos uma escassez de profissionais médicos em várias especialidades. Médicos da Saúde da Família e pediatras precisam voltar a compor as nossas equipes e a Saúde Mental merece toda a nossa atenção e capacidade de atendimento. E, muito importante, o Plano Nacional de Imunização (PNI) deve ser urgentemente retomado e fortalecido, já que a ciência sempre deve prevalecer para preservação da vida.
O investimento em novas tecnologias é crucial, sobretudo com as novas formas de acolhimento que tornam a telemedicina viável e acessível ao setor público. A Fundação Municipal de Saúde de Rio Claro está completamente informatizada e pronta para atuar em parcerias de alto nível tecnológico, assim como seu corpo técnico.
Porém, não menos importantes são o fortalecimento e novas formas de financiamento à Atenção Primária em Saúde, que não podem continuar a ser negligenciados, por isso temos taxas tão reprováveis nos programas de prevenção, o que onera e sobrecarrega os serviços de urgência e emergência.
Além disso, os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) precisam recuperar sua capacidade de ofertar vagas clínicas e cirúrgicas, uma vez que a oferta atual não supre nem 30% da demanda.
Os hospitais filantrópicos, regionais e de referência, bem como a pactuação da oferta de serviços de média e alta complexidades, precisam ser repensados diante da nova realidade microrregional do Estado de São Paulo. Na nossa macrorregião de Piracicaba, DRS-X, só dispomos de um hospital regional para atender a mais de 1,6 milhão de habitantes e na nossa microrregião de Rio Claro, com quase 300 mil habitantes, dispomos de apenas um hospital que atende à média e alta complexidades, e em poucas especialidades.
Enfim, são muitos os desafios que a Fundação Municipal de Saúde de Rio Claro tem e vamos trabalhar muito na construção e no fortalecimento de nossa saúde municipal, para isso, contamos com a colaboração de todos.
Como vê/considera o Dia Internacional da Mulher?
O Dia Internacional da Mulher deve ser um dia de reflexão e resistência. Um estudo publicado nessa semana pela Rede de Observatórios da Segurança, com dados de sete estados brasileiros, aponta que, em 2022, uma mulher foi vítima de violência a cada quatro horas: foram 2.423 casos — e 495 deles terminaram em morte. Diante desse dado fica apenas uma reflexão: como estamos sendo tratadas nós mulheres neste país? Que tipo de país registra esse número de violência contra as mulheres?
Além disso, há inúmeros dados alarmantes sobre vulnerabilidade econômica e social, a discriminação no mercado de trabalho, sobretudo em funções gerenciais e estratégicas – notadamente em funções governamentais, não é o caso de Rio Claro, mas fica clara a discrepância, sobretudo na renda em relação aos trabalhadores homens: cada mulher recebe em média cerca de 30% a menos do que um homem realizando o mesmo serviço – dados do IBGE.
Por fim, registro a solidariedade às mulheres vítimas de todo tipo de violência e estamos trabalhando para melhor acolhê-las nas nossas unidades de saúde.
Disque 100 para denúncia contra violência a Mulheres, Crianças e Idosos.
Valéria Velis, secretária municipal da Educação
Conquistas e desafios do cargo: o que destaca nesses dois anos de gestão?
Após dois anos de gestão, estamos colhendo os frutos do trabalho de diagnóstico, planejamento e ações. Como faço parte da rede pública municipal de ensino, isso facilitou o diagnóstico e o diálogo com a comunidade escolar para aprimorar as políticas públicas.
A pandemia, embora seja uma coisa triste, trouxe para a gente a possibilidade de um outro olhar para a questão da educação, nos fez pensar em alternativas e desafios, fez a gente avançar, sair da acomodação.
Como vê/considera o Dia Internacional da Mulher?
Todo dia é dia da mulher. Vejo como importante este Dia Internacional da Mulher para que possamos não apenas homenagear as mulheres, mas também refletir sobre as possibilidades de empoderamento das mulheres, de maneira que elas se fortaleçam na sociedade e assim contribuam ainda mais para um mundo cada vez melhor.
Avanços e desafios da sociedade para a população feminina
Muitos avanços aconteceram para a população feminina, mas os desafios ainda são grandes, especialmente em relação à violência contra a mulher e à discriminação. Acredito que as mudanças estão nas pessoas. Somos nós que podemos mudar o mundo para melhor. Quando transformamos uma geração, a gente transforma uma situação também.
Quando falamos de homens machistas, por exemplo, perpassa pela criação que, em sua grande maioria, é feita pelas mulheres. Se criarmos os filhos de maneira machista, futuramente eles serão machistas. Se criarmos de maneira mais aberta, a probabilidade de serem machistas é muito menor.
Desejo que toda mulher possa ter o empoderamento para marcar sua vida, marcar o seu trabalho, se posicionar para conseguir as superações dos desafios e a efetivação de políticas públicas que tragam melhores dias para todas. Neste sentido, o trabalho intersetorial é um facilitador para que alcancemos as conquistas pretendidas.
Vilma Sprícigo, secretária municipal do Desenvolvimento Social
Conquistas e desafios do cargo: o que foi destaque em dois anos de gestão
Nestes dois anos, buscamos oferecer serviços socioassistenciais de qualidade de modo a garantir os direitos da população em situação de vulnerabilidade e risco social, mesmo com o aumento expressivo da demanda, principalmente após o período da pandemia de Covid. O grande desafio é implementar a Política de Assistência Social no município, o que tem exigido quase que diariamente tomar diferentes atitudes. Neste sentido, temos feito um constante replanejamento.
Entre as ações que conseguimos implantar estão a ampliação dos serviços socioassistenciais, mesmo com restrição de recursos financeiros; a celebração de parcerias com as organizações da sociedade civil, garantindo a eficiência na utilização dos recursos públicos; o reconhecimento da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social por outros órgãos públicos, em virtude de sua organização e resolutividade.
Como vê/considera o Dia Internacional da Mulher?
É uma data importante de reflexão, integração e confraternização pelos direitos já adquiridos e espaço para novas lutas, de modo a garantir o papel das mulheres em todos os setores da vida em sociedade.
Avanços e desafios da sociedade para a população feminina
A mulher vem ocupando espaços importantes no mercado de trabalho, na política e outros, mas ainda falta muito a conquistar. Às vezes, acredito que falta união entre nós mulheres. Temos de lutar para reduzir os casos de violência e feminicídio, e não podemos tolerar a impunidade aos agressores em nenhuma circunstância.
Os direitos das mulheres precisam estar realmente garantidos pelas várias políticas públicas, em todos os setores: Saúde, Educação, Assistência Social, Cultura, Esporte, Lazer, Segurança. Quando temos mulheres respeitadas, reconhecidas e empoderadas, temos uma sociedade mais justa e feliz.
Nathália Spatti, secretária municipal de Comunicação
Conquistas e desafios do cargo: o que foi destaque em dois anos de gestão
Em qualquer cargo público, quando o gestor se dispõe efetivamente a realizar um trabalho que atenda as demandas sociais, os desafios são muitos e exigem dedicação total. Nestes dois anos, temos procurado assim agir. O trabalho da equipe de Comunicação busca sempre informar e esclarecer a opinião pública, com transparência e celeridade.
As novas tecnologias e as redes sociais representam um grande apoio neste trabalho e, ao mesmo tempo, trazem novos desafios para o setor de comunicação, que tem que travar uma verdadeira guerra com aqueles que promovem a desinformação e parece não buscarem o bem comum.
A criação da Secretaria Municipal da Comunicação certamente representou um grande avanço para a administração municipal. Um município de porte médio como Rio Claro, com mais de 210 mil habitantes e que em vários setores atende também cidades da microrregião, necessita de uma estrutura de comunicação capaz orientar, esclarecer e informar a população. Esta foi a grande conquista, este é o grande desafio.
Iniciamos o trabalho em 2021 em meio a uma pandemia de Covid, uma situação histórica na saúde pública do país e do mundo. O novo governo não tinha condições legais de montar sua equipe de trabalho com assessores e diretores, pois a prefeitura de Rio Claro estava impedida de nomeá-los. Tudo isto representou uma dificuldade a mais para administrar a cidade. Com dedicação, planejamento e muito trabalho, e a união das secretarias municipais, o governo conseguiu ir em frente e felizmente muita coisa boa já foi feita.
Como vê/considera o Dia Internacional da Mulher?
O Dia da Mulher deve sim ser comemorado, pois as mulheres historicamente cumprem um papel primordial na reelaborarão das relações sociais, no fortalecimento das estruturas de poder e na formação das novas gerações. No entanto, é também um dia que merece reflexão, autoanálise de cada cidadão, sobre como estamos lidando com os problemas causados pelo desrespeito e discriminação às mulheres, e como estamos nos empenhando para solucioná-los.
Avanços e desafios da sociedade para a população feminina
Quando os setores sociais se colocarem à disposição para efetivarem políticas públicas que valorizem e respeitem as mulheres em condições de igualdade com os demais cidadãos, começaremos a vivenciar melhores dias para todos. Não basta uma data no calendário de eventos comemorativos, é preciso mais diálogo, compreensão e afeto nos relacionamentos, é preciso mais respeito, solidariedade e gratidão em todos os setores sociais, é preciso não discriminar, não rotular, não julgar as mulheres por simplesmente serem mulheres. É um desafio que cabe a todos nós e que, quando vencido, beneficiará a todos nós.
A comunicação pode e deve ser utilizada como ferramenta de construção de um mundo melhor. A informação correta é responsabilidade de todos. E buscar a informação deve ser um aprendizado já nos primeiros anos de vida. Referência familiar e quase sempre colocada como principal educadora dos filhos, a mulher que tem a oportunidade de acessar o conhecimento, receber informações corretas, ter orientações precisas, certamente irá contribuir ainda mais na formação de cidadãos críticos e compromissados com a vida.
Bruna Perissinotto, presidente do Fundo Social de Solidariedade
Conquistas e desafios do cargo: o que destaca nesses dois anos de gestão?
A maior conquista do cargo é tratar e lidar com o ser humano e poder ajudar as pessoas em vulnerabilidade social. É um propósito na minha vida poder fazer esse trabalho e também uma grande conquista pessoal poder participar das ações de solidariedade, que é algo que eu gosto tanto e me identifico tanto. Ter este cargo foi uma conquista e é uma satisfação muito grande.
O desafio é poder, de alguma maneira, compreender, acolher e atender essas pessoas que precisam de apoio da maneira que elas merecem, com respeito, carinho e dignidade. Melhorar este atendimento para estas pessoas é um desafio diário.
Neste momento pós-pandemia, o desafio é ampliar a oferta de alimentos às famílias que mais precisam deste auxílio. E o número de pessoas vulneráveis aumentou consideravelmente. Isso nos deixa tristes. A gente quer que estas pessoas saiam da vulnerabilidade, que elas conquistem as coisas, que elas tenham prosperidade.
Nesse período, eu destaco principalmente a maneira acolhedora como nossa equipe tem realizado o trabalho de atendimento às famílias e instituições. As pessoas quando nos procuram normalmente estão fragilizadas emocionalmente e, além do suporte de bens como alimentos, precisam também de carinho e atenção.
Nestes dois anos realizamos também eventos de grande sucesso graças ao empenho e à união da equipe de trabalho e à colaboração da população em sempre atender nossos pedidos. A festa do dia das crianças e o Natal Solidário são dois exemplos de realizações bem sucedidas. Fizemos também a tarde da pizza, feijoada, arrecadação de fraldas e felizmente conseguimos retomar a confraternização dos grupos de terceira idade na semana do idoso.
Como vê/considera o Dia Internacional da Mulher?
Nosso dia são todos os dias. A gente trabalha, luta, se esforça para melhorar sempre e contribui para um mundo melhor. O Dia Internacional da Mulher deve ressaltar a força da mulher. É dia de nos lembrarmos de nossa ancestralidade, a força das mulheres das nossas famílias que nos trouxeram até aqui. A mulher tem papel imprescindível na sociedade. E, profissionalmente, só não é de maior destaque porque a mulher na maioria das vezes é sobrecarregada com multitarefa, o que ofusca sua performance profissional.
Avanços e desafios da sociedade para a população feminina
O grande desafio é lidar com a sobrecarga de trabalho e responsabilidades que são impostas às mulheres. E também a falta de valorização, pois o trabalho doméstico não é valorizado, a maternidade não é valorizada, os salários não são iguais aos dos homens. Tudo isto precisa ser mudado. Sobre os avanços, eu destaco que as mulheres estão indo buscar a realização de seus sonhos, estão empreendendo cada vez mais, estão sendo cada vez mais independentes. Isto é um avanço muito especial e importante na nossa sociedade. A mulher está quebrando barreiras nas profissões e em várias outras áreas.
É necessário que nós mulheres estejamos atentas ao autocuidado físico e mental. Com tantas responsabilidades e sobrecarga que temos, a gente acaba não olhando para nós mesmas com o mesmo amor e carinho que olhamos para aqueles dos quais cuidamos. O autocuidado é um ato corajoso temos de ser a nossa prioridade.
Por Redação DRC / Foto: Divulgação